Adriana Diniz, Jornal do Brasil
PORTO PRÍNCIPE - A União Europeia anunciou segunda-feira que enviará um total de 429 milhões de euros (o equivalente a mais de US$ 600 milhões) em ajuda de curto e longo prazo ao Haiti, enquanto os Estados Unidos doarão US$ 100 milhões. Porém, o aporte financeiro dado pelos países europeus e americanos a bancos durante a crise financeira mundial foi 4 mil vezes maior. O socorro aos banqueiros na Europa chegou a US$ 2,28 trilhões e nos Estados Unidos, a US$ 700 bilhões. Só para a seguradora AIG (America International Grupo), o governo americano disponibilizou US$ 180 milhões – quase o dobro do valor doado ao Haiti.
Da doação da União Europeia, 122 milhões de euros serão gastos em ajuda humanitária urgente, 107 milhões de euros serão destinados à reparação imediata da infraestrutura básica do país e outros 200 milhões de euros serão colocados “à disposição” do governo haitiano para a reconstrução do país a longo prazo.
Para analistas, a ajuda em dinheiro, nesse momento, tem efeito muito mais simbólico que prático e pode não cumprir seu verdadeiro papel: de ajudar os haitianos a reconstruir o país.
– A mensagem que os países ricos estão enviando ao mundo é: “olha, não socorremos só os bancos, mas também os países pobres” – afirma o especialista em economia internacional, Ernesto Lozardo. – Estão querendo evitar uma crítica mundial. É positivo, mas tenho dúvidas se isso vai resultar num bem econômico e social real para o país.
O total da ajuda financeira já disponibilizada para o Haiti ultrapassa US$ 1,5 bilhão. Significa uma ajuda de 13% do PIB (Produto Interno Bruto - soma das riquezas geradas pelo país) registrado em 2008 – US$ 11,53 bilhões – e muito mais que o orçamento do governo no mesmo ano – que era de US$ 967 milhões, de acordo com agência americana.
Se o montante fosse dividido igualmente entre a população, cada haitiano teria direito a US$ 166 (ou R$ 292). “É muito para o Haiti, que é um país de milhões de miseráveis, mas muito é pouco para esses países ricos”, acrescenta Lozardo.
– A situação no Haiti, até anterior ao terremoto, é de um Estado falido, portanto é preciso primeiro reconstruir o Estado. Tem que redesenhar todo o país, criar novas instituições. O problema maior do Haiti hoje é de organização – destaca o economista Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente do Conselho de Empresas da América Latina.
JB online, 18 jan. 2010
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