quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ufanismo de Delfim Netto e o paradoxo brasileiro: 'pibinho', desemprego baixo e inflação persistente

DELFIM NETTO o professor Antonio Delfim Netto, se notabilizou por ser um economista com plenos poderes em alguns governos militares, a ponto de surrupiar alguns percentuais da inflação e influenciar os acordos coletivos entre empresas e trabalhadores, com prejuízos, como sempre, para os segundos. A imprensa sindical ironicamente chama Delfim Netto de "economista convertido". Desde que deixou de ser deputado federal, fazendo uma escolha partidária desastrada, transformou-se em eminência parda dos governos petistas. Consta que Lula o ouvia frequentemente. Agora, dizem, é Guido Mantega quem está rezando em sua cartilha. Seria talvez por isso que a inflação está sendo contida por decretos? Afinal, o lobo pode ter outra pele, porém não perde o hábito.

INFLAÇÃO a inflação brasileira tem permanecido, a duras penas, mais ou menos dentro da faixa, o chamado programa de metas. O governo de Dilma Rousseff, que a cada sondagem assume maiores índices de popularidade, tem mantido a inflação brasileira sob controle, com alguns expedientes heterodoxos: a) manutenção artificial do preço da gasolina, algo que fez a Petrobrás acumular prejuízos e o programa do Proálcool retroceder; b) a continuidade das importações a dólar baixo, com inegáveis e perigosos resultados para a balança comercial; c) alguns preços foram reduzidos (energia elétrica, por exemplo), com bons efeitos, inclusive políticos; d) pressão sobre os estados para que não aumentem as tarifas de transporte (ônibus e metrô). Isso tudo com o objetivo de não comprometer os índices inflacionários, que, diga-se, por enquanto, está oferecendo bons resultados.

EXCEPCIONALIDADE VS. NORMALIDADE todas essas manobras governistas visam não alterar o ambiente político. Buscam, obstinadamente, que as eleições de 2014 transcorram em clima de "plena normalidade". O pior dos mundos para Dilma Rousseff seria disputar a reeleição num clima de "excepcionalidade", ou seja, com dúvidas sobre a economia do dia a dia dos brasileiros. Não interessa se o futuro, nas análises mais profundas, pode estar comprometido. O que interessa é a economia estar ou andar bem para a maioria das pessoas, especialmente para os trabalhadores. Estes, em 2012, tiveram convenções coletivas (a maioria) com aumento real de salário e índices de desemprego baixo, aquilo que alguns economistas já estão chamando de "paradoxo brasileiro".

PARADOXO BRASILEIRO o paradoxo brasileiro é exatamente ter uma inflação sob controle, com desemprego baixo, apesar de um PIB (Produto Interno Bruto) medíocre. Isso foi visível em 2012. Como foi possível conviver bem com esse "pibinho"? Estamos assistindo a um fenômeno raro de "janela demográfica": as taxas de natalidade caíram a partir da década de 90 e o número de jovens que entra no mercado de trabalho diminuiu. Temos mais velhos e menos crianças, logo, consequentemente, menos jovens buscando emprego. Outro fator importante e pouco analisado é o quase esgotamento do êxodo rural, responsável pela inversão espacial da população brasileira, notadamente entre 1930 e 1980. Hoje, o que pressiona, ligeiramente, a necessidade de empregos são os imigrantes desqualificados. Nos últimos anos, o Brasil voltou a ser importador de mão de obra. Então, o paradoxo brasileiro tem explicações técnicas convincentes, mas ninguém no governo olha para esses detalhes. Para o governo, bons resultados são sempre creditados à conta da eficiência administrativa, no caso, eficiência de Dilma Rousseff, seguindo soberana como candidata à reeleição.

FALA DELFIM em seu artigo na Carta Capital nº 740 (20-03), sobre os avanços recentes, o professor aponta: "redução ordenada e consistente da taxa Selic; a bem-sucedida manobra de substituição dos juros reais de 6% nos rendimentos da poupança e controle dos aumentos de salários no serviço público; a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo, o enfrentamento dos custos nos setores básicos de energia e portuário; o aprendizado nos leilões de concessões nos projetos de infraestrutura para atrair o investimento privado; exoneração da folha de pagamento para setores industriais, que, combinada com a desvalorização da taxa cambial, começa a estimular a exportação de manufatura; aperfeiçoamentos no sistema tributário, com reduções pontuais nos níveis de impostos". Ufanismo econômico puro.

Fonte: UGTpress

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