Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 22
por Almir Cezar Filho
por Almir Cezar Filho
"Pós-verdade": ajuste a narrativa para diante de fatos novos - que perante um julgamento sensato refutaria em definitivo tua posição - passam agora a servir ao contrário de argumento que supostamente o comprove. Essa foi a palavra do ano de 2016 e parece que classifica bem certo comportamento na Pós-Modernidade.
Foi assim, que se comportou à esquerda, à direita, uma boa parcela das pessoas diante do chocante notícia do escândalo da carne fraudada por parte de fornecedores dos dois gigantes do setor de carnes processadas, a JBS/Friboi e a BRF, revelada pela operação conjunta da Polícia Federal (PF), e Ministério Público Federal (MPF) denominada "Carne Fraca".
Pela Direita
Digo isso porque foi muito vergonha-alheia ler um post do tal Movimento Brasil Livre (MBL), em típico discurso de pós-verdade, que está culpando o "Estado-malvadão" pelo escândalos das carnes podres... Segundo eles, tudo ocorreu porque as empresas são obrigadas a ser fiscalizadas e logo seriam pressionadas à corrupção. E também, por houver a fiscalização obrigatória (logo, custosa e burocrática) impede que empresas honestas operem no mercado.
Para um liberista e mercadista nunca é culpa das empresas e dos empresários, sempre do Estado-malvadão. Livre-mercado é um Deus pra essa gente... Curioso que o liberalismo clássico e neoclássico, não esses talibãs pós-modernos que se dizem libertarianos sempre argumentou que o Estado era o gendarme da propriedade privada. O Estado somente existia para a proteção da propriedade privada.
É verdade que os grandes empresários conseguem "capturar" a regulação estatal a seu favor, ao ponto de inclusive expulsar concorrentes. O problema não é a regulação, mas a captura. Por um lado, expulsar os concorrentes, bem verdade, não é de todo ruim ao mercado se estes em suas práticas oferecem potencial perigo a confiança geral do consumidor ou se podem deflagrar uma concorrência predatória.
Por sua vez, por outro lado, a captura ou não da regulação pública é um jogo de gato e rato entre empresas e instituições governamentais. No Estado Burguês é inevitável, pois é uma arena sob controle dos grandes proprietários dos meios de produção.
Nem por isso, deve-se descuidar de impor regulação, não apenas pelo bem dos produtores, mas especialmente dos consumidores. Diante de um certeza, as grandes empresas sempre serão tentadas a priorizar os lucros em detrimento da qualidade e da vida dos seus consumidores e funcionários. O que está errado, na verdade não é a regulação estatal das atividades econômicas. Mas que a intervenção do domínio econômico seja exercida por um Estado controlado pelas grandes empresários.
Não se discute, hoje, a existência do Estado, mas sua função. Como diria um amigo, na lógica deles é mais barato e custa menos para o "pagador de imposto" uma bala de fuzil na cabeça do moleque do que bancar educação e saúde. Aí não é Estado mínimo, é Estado máximo; pois é o Estado que tem o poder de matar. Eles defendem não o Estado mínimo, mas a cidadania mínima. Para garantir a propriedade privada na bala, o Estado deve ser gigante. É isso o que eles pensam.
A maior intervenção do Estado na economia é a existência da propriedade privada. Sem ele não tem milícia de rednecks capaz de impedir a fúria dos 99% contra os 1%. Dizer que propriedade privada se contrapõe ao estado é alucinação. Ao contrário que dizem os liberianos e libertarianos e anarcocapitalistas, a extinção do Estado se dá apenas com a extinção da propriedade privada. A acumulação de capital e desigualdade social corrompem os laços de solidariedade e tornariam o mundo um "Mad Max" sem Estado.
Pela Esquerda
Digo isso porque vi post de gente da esquerda e centro-esquerda defendendo a tese de que haveria uma conspiração antinacional na tal operação da PF/MPF.
Quando finalmente era para a esquerda e centro-esquerda nacionalista e/ou reformista compreender de que não se deve confiar no grande empresariado, mesmo o industrial e de setor produtivo, preferem interpretar os fatos a luz de uma suposta "conspiração coxinha", com CIA, e os escambau, da turma da PF/MPF/Justiça Federal. Que confirmaria que a Operação Lava Jato, que atacou fortemente o governo Dilma, também seria uma "conspiração golpista".
Quando finalmente era para a esquerda e centro-esquerda nacionalista e/ou reformista compreender de que não se deve confiar no grande empresariado, mesmo o industrial e de setor produtivo, preferem interpretar os fatos a luz de uma suposta "conspiração coxinha", com CIA, e os escambau, da turma da PF/MPF/Justiça Federal. Que confirmaria que a Operação Lava Jato, que atacou fortemente o governo Dilma, também seria uma "conspiração golpista".
Amigo, o grande empresariado sempre é ladrão, seja de capital nacional, internacional, ou intergaláctico (se houve também!).
Se há ou não conspiração apenas está revelando a verdade, a carne, a salsicha que comíamos e damos aos nossos filhos era adulterada em nome do lucro de meia dúzia de salafrários nas empresas e na inspetoria sanitária. Além de que, sabemos, a agroindústria está intimamente ligada ao latifúndio, ao trabalho escravo, a ataques ao meio ambiente e comunidades tradicionais e péssima condições de trabalho. Fora o assédio moral aos fiscais.
Se há ou não conspiração apenas está revelando a verdade, a carne, a salsicha que comíamos e damos aos nossos filhos era adulterada em nome do lucro de meia dúzia de salafrários nas empresas e na inspetoria sanitária. Além de que, sabemos, a agroindústria está intimamente ligada ao latifúndio, ao trabalho escravo, a ataques ao meio ambiente e comunidades tradicionais e péssima condições de trabalho. Fora o assédio moral aos fiscais.
Estes contra-argumentam que até estão defendendo porque são setores econômicos produtivos, em uma época neoliberal e de predominância de empresas multinacionais e/ou financeiras: "Não se trata de defender os proprietários e sim preservar as forças produtivas", dizem. Então, respondemos, ao invés de se fazer a defesa das empresas, deve-se propôr a imediata estatização dessas "forças produtivas".
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