estréia hoje um novo articulista aqui no Blog, é o nosso amigo Alcer de Carvalho Quibir. Hoje ele fala que não houve surpresa alguma na decisão do Banco Central de não aumentar a taxa Selic. Porém, há ameaças à vista.
por Alcer de Carvalho Quibir, direto para o "Limiar e Transformação"
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 8,75% ao ano não supreende. Não há ameaça real de inflação que justificassem a elevação da Selic, a taxa básica mais alta do mundo, embora os trabalhadores tenham sido realmente afetados com a alta de preços do início do ano. A "ameaça de inflação", que veem ressoando na mídia nas últimas semanas é uma campanha ideológica dos banqueiros para justificar e pressionar uma elevação da taxa, visto que são os únicos que se beneficiam com ela. Contudo, nada impede que o BC mais a frente reverta essa posição, e há movimentos nesse sentido.
A notícia da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 8,75% ao ano não supreende apesar da pressão dos bancos. Tanto porque, não há pressão inflacionária nenhuma, pelo menos advindas da demanda superaquecida. Como também porque sendo ano eleitoral, Henrique Meirelles, presidente do BC, ficou com medo de ter seus voos eleitorais abortados pela decisão de seus pares do Copom.
Não houve derrota dos banqueiros
A decisão tomada ontem pelo BC só deve ter surpreendido analistas que queriam uma elevação dos juros, à medida que, embora o BC use essa taxa para controlar a inflação, a Selic remunera títulos públicos do governo, principal fonte atualmente de receitas dos bancos e corretoras financeiras, ainda mais após a crise econômica mundial, onde empréstimos e ações de bolsa deram fortes prejuízos as mesmas.
Porém, apesar de ter que engolir essa aparente derrota, a manutenção da Selic em 8,75% não é uma perda aos banqueiros, muito pelo contrário. O Brasil apesar de parecer ter uma taxa pequena, segue na verdade, com a 5a. maior taxa de juros nominal do mundo, e pior, a maior taxa real (descontada a taxa de juros à taxa de inflação).
O Brasil com essa taxa básica na estratosfera segue como um porto seguro e lucrativo para os banqueiros e especuladores internacionais. É só ver a entrada massiva de investimentos externos nos últimos meses, que vem inclusive pressionando o real à sucessivas desvalorizações. Esse superávit não traz benefício nenhum ao país, são investimentos especulativos e não produtivos, prejudica o saldo comercial (dificulta as exportações devido a apreciação cambial), o que reforça a dependência com relação a ele, numa espécie de círculo vicioso.
Não há pressão inflacionária
Contudo, de fato, não há no Brasil no momento pressão inflacionária decorrente de demanda superaquecida. Isto é, quando a demanda maior que a oferta forçando uma elevação nos preços.
Se em janeiro e fevereiro houve pressão inflacionária, foram apenas principalmente por conta dos alimentos, que após as quedas de preços ocasionadas pela crise de 2008/2009 começam a se recompor, como também houve perdas na safra devido as chuvas atípicas desse verão. E neste mês e em abril o índice de inflação deve ser menor.
Apesar de perdas, aumento na Selic é prejudicial aos trabalhadores
Embora as perdas no poder de compra nos salários dos trabalhadores já aconteceram. Contudo, diante das perdas com a atípica inflação de janeiro/feveiro uma elevação na Selic não seria benéfica aos trabalhadores
Muito pelo contrário, se em nada reduziria a taxa de inflação de 2010, visto que os preços já subiram, um aumento na taxa Selic forçaria as empresas à demissão de trabalhadores, pelo freio na demanda agregada e no aumento nos seus custos. E ainda pesaria nos orçamentos familiares, através de aumento nos juros das prestações dos empréstimos pessoais e compras à prazo.
A ameaça prossegue: Selic deve aumentar nos próximos meses
Contudo, a manutenção da taxa Selic no momento não significa que mas para frente não o aumentará. Os banqueiros seguirão acossando, exigindo aumentos nos juros sob a alegação da "ameaça da inflação". isso tenderá aumentar nos próximos meses à medida que a economia for se aquecendo, como prevê várias análises. Aí os economistas pró-bancos proclamarão que a economia corre risco de superaquecimento.
E a esse favor, Meirelles mais a frente deve sair do BC para se candidatar a deputado federal ou a vicepresidente, abrindo espaço para que dentro do Copom resolva aplicar uma elevação na Selic.
O Governo age em favor da elevação dos juros
O próprio Ministério do Planejamento já se move nesse sentido. Paulo Bernardo anunciou ontem o corte no Orçamento 2010 para aumentar o dinheiro para o superávit primário.
Recursos que deveriam ir para Saúde, Educação, reajuste dos servidores, etc, foram - sob a justificativa descabida que houve queda na arrecadação de impostos prevista para 2010 - na verdade, reservados para o pagamento de juros maiores na dívida pública, na decorrência de elevação da Selic.
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