terça-feira, 8 de maio de 2012

Brasil: tendências a re-industrialização e desnacionalização - mudanças aos trabalhadores

artigo revisado - publicado originalmente em 29 de junho de 2009 - passados 3 anos cada vez mais atual

Brasil: tendências a re-industrialização e desnacionalização - mudanças aos trabalhadores
por Almir Cezar Filho 

Há uma transformação em curso na economia brasileira, com uma respectiva recomposição na classe operária, com previsíveis e interessantes impactos na luta de classe futuros. Teremos transformações importantes na dinâmica econômica e na dinâmica social do país, por um lado, mais suscetível as crises mundiais, porém, embora mais dependente, uma economia com papel mais importante na economia mundial e, por outro, aponta que no Brasil em breve a classe operária voltará a ser protagonista das grandes mobilizações dos trabalhadores. Teremos um novo movimento operário surgindo, mais fortalecido do ponto de vista objetivo, inclusive para enfrentar os ataques da burguesia em caso de crises.

Vejam os dados da PIA 2009 divulgados pelo IBGE - obviamente os dados captam a realidade pré-crise, mas essa nova situação não pode ter revestido tal cenário - que apontam a ampliam do número de empresas atuando justamente nos segmentos econômicos industriais, e particularmente nos setores que constituem os pesos pesados da classe trabalhadora. Setores esses que haviam encolhidos nos anos 90.
Há um processo de re-industrialização da economia brasileira, mas essa re-industrialização se dá através de um maior peso do capital estrangeiro sobre o montante de capital, um processo que não só apesar da crise, mas talvez acelerado por ela, à medida que provavelmente passado o susto inicial, as transnacionais estão buscando refúgio no Brasil.
A crise parece ter revertido apenas temporariamente tal fenômeno de re-industrialização nos setores pesados. Passado o pior da crise no interior da economia brasileira, mas ao mesmo que lá fora a crise não parece ceder, o fluxo de capitais virou. O investimento estrangeiro aumentou disparadamente, e mudou o perfil, de títulos públicos para ações e investimentos diretos. Os rentistas e as transnacionais diante da queda da lucratividades e vendas e deflação dos ativos lá fora procuram inverter capitais por aqui. O IED (investimento estrangeiro direto) aumentou apesar da crise, segundo próprios dados do Banco Central, e que esse investimento tem um peso cada vez maior no PIB.

Significa dizer, um duplo desdobramento, primeiro um movimento combinado de desnacionalização-reindustrialização: Esse movimento traz a aceleração da desnacionalização da economia brasileira, com um menor comando do capital e do empresariado nacional sobre a dinâmica da economia e uma futura maior internalização das viradas na conjuntura econômica internacional. Sinais disso foram vistos com o agravamento da crise mundial no fim do ano passado. Enquanto que a economia nacional estava em franca expansão, essa expansão foi abortada pela agravamento externo, que foi trazido à economia doméstica via desaceleração dos investimentos pelas empresas transnacionais, paradas de suas unidades, ampliação da remessa de lucros e redução das exportações.

Porém essa desnacionalização é acompanhada de uma re-industrialização e um novo papel a economia brasileira no sistema mundial, essas duas novas características fazem com que por sua vez a crise econômica não tenha se abatido com tanta força sobre o Brasil como foi em outros países.

Mas também, traz uma recomposição na classe trabalhadora, com volta do peso da classe operária fabril, com o consequente futuro re-protagonismo desse segmento dos trabalhadores. Durante as últimas duas décadas essa classe esteve bem recuada nas lutas, devido a própria diminuição numérica. Contudo, a história mostra que é o setor na classe trabalhadora que quando se mobiliza e organiza é capaz de obter maiores mudanças históricas. Veja seu papel para o fim da ditadura militar e as transformações nos anos 80. Vimos sinais desse novo protagonismo com as últimas greves dos metalúrgicos por salário nos anos de 2007 e 2008 e agora a resistência as demissões e redução salarial.

Leia as matérias de jornal a seguir que a apoiam essa tese:

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Brasil ganhou 25 mil indústrias em quatro anos
Jornal Monitor Mercantil, 26/06/2009


O número de empresas industriais no país (com cinco ou mais trabalhadores) cresceu em 25 mil, passando de 139 mil para 164 mil entre 2003 e 2007, enquanto o total de trabalhadores ocupados passou de 5,9 milhões para 7,3 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Industrial Anual (PIA), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. 



O salário médio pago nessas empresas aumentou 8,8% em termos reais (descontado a inflação) no período de cinco anos. 



Do total de empresas industriais em atividade em 2007, o segmento mais empregador era o de alimentos (18,6% do total de ocupados), seguido por vestuário e acessórios (7,8%), máquinas e equipamentos (6,9%), produtos de metal (6,1%), fabricação e montagem de veículos automotores (5,6%) e calçados e artigos de couro (5,5%) que completam o conjunto de setores que empregaram aproximadamente 50% do pessoal ocupado na indústria. 



Naquele ano, os principais destaques no salário médio mensal, em termos de salários mínimos, ficaram com os ramos de refino de petróleo e produção de álcool (9,8 mínimos), seguido por fumo (7), produtos químicos (7), fabricação e montagem de veículos automotores (6,5). 



O documento de divulgação da pesquisa informa ainda que, em 2007, as empresas industriais apresentaram receita líquida de vendas da ordem de R$ 1,5 trilhão (uma média de R$ 9,2 milhões por empresa).


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Investimento estrangeiro sobe; contas externas ficam negativas - Investimento externo é recorde para maio
Folha de S. Paulo - 25/06/2009


País registrou volume de US$ 2,5 bi, o maior para o mês desde 1947; contas externas, no entanto, voltaram a ter saldo negativo



Montadoras lideram no recebimento de recursos estrangeiros para o setor produtivo neste ano, com um total de US$ 1,960 bi



O fluxo de investimento estrangeiro no Brasil manteve sua recuperação e voltou a patamares observados antes do agravamento da crise, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. As contas externas do país, por outro lado, voltaram a apresentar saldo negativo em maio, depois de terem registrado, em abril, o primeiro superávit em 18 meses.





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Investimento estrangeiro na produção bate recorde
JORNAL DO COMMERCIO, quinta-feira, 25 de junho de 2009


Recursos externos têm peso cada vez maior em relação ao PIB



A entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no País atingiu US$ 2,48 bilhões em maio, volume recorde para o mês, de acordo com o Banco Central (BC). Foi o melhor desempenho para o mês desde o início da série histórica do BC, mas ligeiramente abaixo da estimativa da autoridade monetária, de US$ 2,6 bilhões. Em maio do ano passado, o ingresso de IED somou US$ 1,31 bilhão. 



Os dados divulgados indicam que o peso dos investimentos produtivos estrangeiros no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está se tornando cada vez maior e não foi afetado pela crise mundial: nos 12 meses encerrados em maio, com U$ 42,3 bilhões investidos, representou 3,08% do PIB, enquanto em igual período anterior de 2008 equivalia a 2,65%. Na mesma base de comparação, era de 2,03% em 2007. 



O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, destacou que o aumento de investimentos diretos mostra que o Brasil tem sido olhado como uma economia diferenciada, e que continuará recebendo aportes. O BC mudou sua previsão para os investimentos estrangeiros no mercado financeiro este ano, de uma projeção de saldo negativo de US$ 10 bilhões para resultado positivo de US$ 3 bilhões em 2009. As aplicações de estrangeiros em ações no País foram a US$ 3,150 bilhões de janeiro a maio.

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