terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O fim do genocídio palestino reside no fim do sionismo

Uma questão que deve ser encarada na nova etapa da ação do Estado de Israel sobre os palestinos: a força da discriminação e sua origem na base econômica da sociedade. No papel do sionismo, enquanto ideologia e regime, e como causa primeira do genocídio palestino em curso a mais de 60 anos e do comportamento de Israel.

As ações de Israel são guiadas pelo sionismo, uma ideologia nacionalista, desenvolvida entre os judeus europeus no fim do século XIX, inicialmente progressista, e mesmo de inspiração socialista, do tipo nacional-revolucionário, mas que paulatinamente tornou-se conservadora, fascistizante, e no fim racista. O sionismo é a ideologia oficial de Israel, e o cimento ideológico da comunidade nacional, da estrutura jurídica e legal desse Estado. Assim, podemos dizer que o regime político e jurídico de Israel é o regime sionista. Seu fim é o fim de Israel.

Judeus X Sionistas

Os judeus é um grupo social, os sionistas são seguidores de uma ideologia. Os judeus são grupos étnicos de diferentes regiões do mundo, com tradições principalmente religiosas comuns e numa inserção social similar entre os territórios que moram – os judeus são sempre comerciantes, profissionais liberais e agentes financeiros, raramente são proprietários de terra, sempre excluídos por questões legais discriminatórias, que ajudam inclusive a distinguir, criando uma comunidade étnica separada dentro daquelas sociedades, devido ao apartamento cultural e de casamentos, criando assim também pela baixa miscigenação, um grupo étnico próprio. Contudo, não temos um grupo étnico judeu, mas centenas de grupos judeus dispersos pelo mundo – temos com isso judeus negros, brancos, louros, morenos, etc, espalhados por quase todos os continentes, e que nunca conseguiam se misturar ou dissolver no restante da comunidade local, mas ao mesmo tempo, não formavam uma comunidade judaica unificada. Pelo menos até o surgimento do Sionismo, que pregava a unidade judaica internacional e um programa política de estabelecimento de um Estado Nacional próprio aos judeus, principalmente aos judeus europeus, que na época eram os mais organizados politicamente, mas também os que viviam em maiores conflitos com os Estados.



No século XIX um enorme contingente socialista era de judeus, a vanguarda do operariado europeu era de judeus. Os Estados na Europa perseguiam inclusive fisicamente os judeus, como foi o caso dos Progroms na Rússia czarista. O Sionismo surgem como uma ideologia progressiva, aglutinadora das comunidades judaicas, contra a opressão de outros grupos étnicos sobre os judeus. Os judeus eram portanto populações humilhadas, perseguidas, o Sionismo os unificava para a luta pela liberação desse grupo social.
Os sionistas não são a mesma coisa que os judeus, tal qual num passado recente, nazista não era a mesma coisa que alemão. Tal qual o que aconteceu nos anos 1930 na Alemanha, a população em Israel, e as comunidades judias pelo mundo a partir das associações e federações israelistas, são doutrinadas diariamente pelo sionismo, como apoio da mídia internacional e dos governos nacionais, e da omissão da esquerda mundial.

Mas não foi assim com os nazistas nos anos 1930. Os alemães humilhados, sacrificados pelas reparações de guerra e pelas perdas territoriais da Primeira Guerra, foram presas fáceis ao nacionalismo xenófobo e etnocêntrico, que pregava o levantamento do país como forma de superar a miséria e a humilhação nacional. O engraçado é que durante décadas do século XIX, a elite política e econômica alemã se negou a aderir ao nacionalismo, fazendo com que a Alemanha tenha sido o último Estado Nacional a se formar na Europa Ocidental. Preferiram estar divididos em dezenas de frágeis Estados pequenos dependentes das potências européias de então (França, Inglaterra, Rússia e Áustria). Temiam a força que ganharia um movimento social unificado sob um único Estado Nacional. Quando a burguesia viu vantagens na unificação, a fez sem a participação do povo, e até mesmo, ao contrário, para derrotar politicamente os movimentos sociais dos trabalhadores, dos explorados e das minorias.

A elite judaica também passou paulatinamente a aderir, a cooptar, a se inserir no Sionismo para controlar e se beneficiar dele. Retirar as massas judias da esfera de influência dos socialistas, ao mesmo tempo que criam uma projeto unificar sob seu comando. Além disso, com o projeto de ter um Estado próprio poderiam se beneficiar enormemente disso.

O anti-semitismo X anti-sionismo

Obviamente que as ações do Estado de Israel criam um clima no mundo favoravelmente anti-semita. O anti-semitismo é o sentimento, ideologia e ações discriminatórias aos judeus e aos povos semitas em geral. Os semitas são os povos que têm origem étnica na região do Oriente Médio, tal qual, nos EUA chamam de “latinos”, seus cidadãos descentes de pessoas provenientes de Porto Rico, México, Brasil, etc. Mas o anti-semitismo não é a mesma coisa que o anti-sionismo. O anti-sionismo é o sentimento e as lutas contra o sionismo e seu Estado, Israel, que aliás, é o principal instrumento de ação e divulgação do sionismo, em suma, é o sionismo com poder, força e legalidade.
O que Israel e o sionismo internacional fazem é uma campanha ideológica que visa confundir a opinião pública internacional e as massas, associando o anti-sionismo ao anti-semitismo, como se fossem a mesma coisa. Colocando o Estado de Israel e a lideranças sionistas como vítimas do preconceito e da intolerância, identificando aos olhos do público que toda luta ou crítica a ambos são posturas anti-semitas ou mesmo nazista, fazendo inclusive uma campanha de intimidação, usando para isso, intelectuais judeus, a mídia (controlada em geral por grupos financeiros de propriedade de empresários judeus) e as associações israelitas.

O cumprimento do papel similar do sionismo ao nazismo

Não dá para dizer que todo israelense são sionistas, mas como os alemães da década 1930 e 40, são hegemonizados e exercem suas vidas cotidianas sob isso. Beneficiam-se das vantagens materiais que o regime sionista proporciona às suas vidas, e são educados sob essa nefasta ideologia. Conseguem ter um padrão de vida superior ao restante dos povos do Oriente Médio pelas ações estatais e militares de Israel – controlam os melhores cursos dágua, as melhores terras, os melhores portos, recebem apoio financeiro e rios de dinheiro das potências ocidentais, e dispõe da melhor infra-estrutura econômica. Conseguem os melhores salários e assistência pública, proporcionada à medida que a economia dos vizinhos não consegue ser uma competidora no mercado internacional e os palestinos acabam pelas restrições legais e materiais serem obrigados a encarar os piores empregos e aceitarem os piores salários.

Israel se diz vítima mas age como algoz

O regime sionista vende a imagem à população israelense e judia do mundo que são vítimas do nazismo e da intolerância árabe e islâmica. Israel transformou-se em um Estado acossado pelos vizinhos, pelos extremistas palestinos e pelo fundamentalismo islâmico. Esquecem de toda humilhação e opressão imposta por Israel aos países vizinhos e aos palestinos. Dizem que querem viver em paz, mas são os primeiros a iniciar guerras e os ataques. Dizem defender a democracia de estilo Ocidental, mas são os primeiros no plano interno a propor restrições legais aos não judeus mesmo racistas – proibição ao casamento misto, concessão de cidadania baseada na religião, em suma, uma legislação racista e teocrática.
Dizem querer a criação de um Estado palestino, mas fazem retiradas forçadas de populações palestinas de terras e se negam a qualquer medida que facilite ou viabilize essa possibilidade.

A cada dia torna-se mais difícil haver ou ser viável um Estado palestino. Enquanto as populações palestinas ficam mais enraivecidas e empilhadas em campos de refugiados e territórios ocupados militarizados. Hoje a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, territórios ocupados que sobraram, e onde Israel defende que seja implantado um Estado palestino, transforma-se em uma imensa favela cercada e militarizada. Israel cria seus inimigos, para assim, legitimar a existência do regime sionista.

O regime sionista não sobreviveria com dois Estado, e não o quer, mas por outro lado, não seria viável para sua própria sobrevivência não dar uma margem de expectativa para Estado próprio aos palestinos. Cria a impressão internacional de boa-vontade, que também é importante despertar entre os palestinos e na opinião pública israelense, ao mesmo tempo, que na prática não fica obrigada incorporar a população palestina como cidadãos do Estado de Israel, deixando-os ao léu, ao “futuro Estado Palestino”.

Israel paulatinamente inviabiliza um Estado palestino. Comporta-se, ou fica cada vez mais claro que, como o regime do apartheid sulafricano. Os territórios ocupados são cada vez mais parecidos com os bantustões, as “reservas” nas áreas rurais que o Estado sulafricano “concedeu” aos negros, e depois, elevou-os a condição de semi-países independentes, transformando assim os negros em cidadãos estrangeiros dentro de seu próprio país, sem direitos, e com salários piores, semelhantes aqueles que os imigrantes gozam na Europa Ocidental e na América do Norte.

A solução está no fim do Estado de Israel

É por isso, que uma parcela da esquerda mundial e das lideranças palestinas sempre reivindicaram que a solução do “problema palestino” está na verdade no fim do Estado de Israel. Para que se erga um Estado Palestino único, multinacional, não racista, laico e democrático.

A questão do que seria “o fim de Estado”, que é controversa, e gera brecha para o sionismo bater. As organizações terroristas e guerrilheiras palestinas vêem isso na derrota militar de Israel, algo impossível do ponto de vista geral, à medida que Israel recebe o armamento mais avançado do mundo, fundos de dinheiro e tem um dos melhores exércitos do mundo, que derrotou todos os países vizinhos. Essa posição política só fortaleceu o sionismo, colocando o Israel como vítima, e ampliando a dimensão da reação desse Estado sobre a população palestina e a cooptação dos israelenses à visão sionista.

A esquerda socialista aposta na derrota política de Israel, especialmente através de campanha internacional e o fim do regime sionista. A solução do problema racial da África do Sul não foi a emancipação dos bantustões, mas o fim do regime do apartheid.

O fim do Estado de Israel, como conhecemos, é o fim do regime sionista. Feita sem dúvida pela força do boicote internacional, da desmoralização das ações militares sobre os palestinos, mas também obra e ação dos trabalhadores israelenses, nas urnas e nas ruas. Sob obra de uma revolução popular internacional e interna. Que varra para o lixo da história o sionismo, como fez com o nazismo. Que abra a construção de uma redemocratização radical, que crie um Estado único, democrático e não racista.

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