segunda-feira, 18 de maio de 2020

Introdução à Economia Política - noções básicas da crítica marxista

por Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho*

O que significa a  SOCIEDADE?

Os homens, para sobreviver necessitam de produzir bens materiais. A vida da sociedade é precisamente a produção desses bens - alimentação, vestuário e outros. Eles são produzidos não individualmente, mas em grupos, em sociedade. Essa produção é obtida através do trabalho. Seja em que condições for, a produção é social e o trabalho ‘uma atividade do homem social. Logo, para que a produção exista, ela tem de organizar-se de certa maneira. As relações econômicas entre os homens, ou seja, as relações sociais de produção e as forças produtivas caracterizam o que se chama modo de produção. 

FUNDAMENTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA SOCIEDADE ATUAL. 

Em sociedade significa que os homens vivem uns com os outros de determinada forma; para poderem viver tem que: 

- produzir tudo aquilo de que tem necessidade para viver, fabricando tudo com o seu trabalho;
-  distribuir entre si (de uma forma determinada) os produtos da sua atividade;
- consumir os produtos distribuídos, a fim de satisfazerem suas necessidades. 

O modo como se organizam para produzir e como distribuem os produtos, caracterizam os diferentes modos de produção que definem as diversas fases de evolução da sociedade humana.


A COMUNIDADE PRIMITIVA

Os homens vivem em pequenas comunidades, tribos. Os diferentes membros da comunidade primitiva estão unidos por laços de sangue. Ocupam determinados territórios. Apropriação do solo coletiva (não há propriedade privada). Existe divisão de trabalho entre os diferentes membros da sociedade de maneira muito rudimentar, em geral, o trabalho está dividido de acordo com a idade e o sexo. Produz-se de acordo com as necessidades da comunidade. Ao produzir se entreajudavam. os diferentes membros da comunidade, estabelecendo relações de cooperação. O produto do trabalho pertence a toda comunidade e é distribuído pelos diferentes membros desta de acorda com as necessidades de cada um deles. 

Não se deve confundir o sistema de relações econômicas e sociais da comunidade primitiva com o comunismo na sua formulação cientifica. Se, aparentemente, encontramo-nos face s relações comunistas, tal conjunto de relações - esse tipo de produção coletiva ou cooperativa — era o resultado natural das condições sociais da época em que o homem se encontrava desamparadamente isolado enfrentando as forças adversas da natureza e as suas fraquezas de caráter tecnológico. 

Esta situação nada tem a ver, obviamente, com a situação social que resulta da socialização dos meios de produção tal corno Marx a definiu, Para melhor compreendermos a comunidade primitiva bastará lembrarmos que o homem de então não linha a mais remota noção de propriedade privada sobre os meios de produção. 

O MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVAGISTA 

A passagem ao regime escravagista se baseou no incremento das forças produtivas (surgimento do arado, da semeadura) e no desenvolvimento da divisão social do trabalho e da troca. O âmbito do trabalho do homem alargou-se ao passar a utilizar instrumentos de metal em substituição dos de pedra 

Engels escreveu: em consequência do desenvolvimento de todos os ramos da produção — pecuária, agricultura, ofícios manuais domésticos — a força de trabalho do homem tornava possível a obtenção de mais produtos que os necessários para a sua subsistência. Aumentou também a quantidade de trabalho que era atribuída diariamente a cada membro da “gens”“, da comunidade doméstica, ou da família isolada, tornava-se necessário conseguir mais força de trabalho e a guerra forneceu: os prisioneiros foram transformados em escravos. 

A procura de melhores terras, mais férteis, para a agricultura, de melhores zonas de caça, etc, leva a luta entre as diferentes tribos. A tribo vencedora aprisiona os membros d tribo rival.; surge os escravos. 

Para o amo (proprietário dos escravos), o escravo não é um ser humano (livre para trabalhar onde deseja), mas, uma coisa que se compra e vende (tal como as terras, produtos, etc). Os escravos que compra utiliza nos seus campos para que a trabalhem e produzam. O número de escravos que possui é um símbolo de riqueza. O amo é proprietário de tudo; campo, instrumentos, moinhos, escravos, produtos, restando ao escravo nem sequer á liberdade de escolher o seu amo. O amo, por sua vez, obriga aos escravos além de trabalharem de sol-a-sol, dá-lhes alimentos e permitem que vivam e procriem. Entre amo e escravos existem relações de exploração: o produto do trabalho do escravo é propriedade do seu amo. 

O MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL

Esgotadas as possibilidades do regime escravagista, as forças produtivas só podiam progredir à base do trabalho de masstt dos camponeses vassalos que possuíam as suas próprias terras e utensílios. Necessariamente, porém, os camponeses, até ai livres, tiveram de se socorrer com os senhores para obviarem as suas dificuldades. Pouco a pouco, os camponeses foram ficando na sua dependência e tal situação acarretou a passagem da propriedade das terras para os grandes feudos. Assim, as diferenças entre escravos, colonos e camponeses livres desapareceram e restou uma enorme massa de camponeses vassalos, em muitos casos transformados em servos da gleba. 
A invasão dos bárbaros na Europa dos séculos V leva a procura de refúgios junto de senhores mais poderosos. Eles dão proteção, enquanto tornam-se servos, ficando sob sua dependência pessoal. Trabalhará em suas terras, prestará vários serviços, em troca deixa cultivar uma parcela de terra para que a família do servo possa subsistir. Surge assim um novo modo de produção: o feudal 
O senhor era proprietário, ou melhor, tinha o domínio da terra, do moinho e do lagar. O servo tem que trabalhar gratuitamente 3 dias por semana no domínio do senhor. Para utilizar o moinho ou o lagar tem que pagar direitos ao senhor. Mais tarde os senhores dividem todo o feudo em parcelas cultivadas pelo servo. Os servos tem que pagar uma renda todos os anos em gêneros alimentares, para cultivarem a courela de terra. Depois de pagar a renda quase nada me fica para sustentar a sua família. Os senhores apropriam-se de trabalho gratuito dos servos (corvéia) ou de certa quantidade de produtos (renda em espécie). 

O MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO

De certa maneira, desenvolveu-se nas regiões asiáticas um modo de produção diverso do europeu. Também lá o escravo existia, existindo também formas comunitárias de propriedade da terra apar deformas de propriedade estatal. Estas formas tinham muito a ver com as grandes extensões e a necessidade de as terras serem irrigadas artficiaimente — essa irrigação era, ali, “condição primordial da agricultura e incumbência da comunidade, do poder local ou central” (Engels,). 

Eram, por isso, necessárias grandes obras para a construção de diques, canais, represas, drenagens de pântanos. Tais trabalhos implicavam o recurso ao sistema de centralização e daí que a irrigação das grandes zonas coubesse ao poder estatal, Lentamente o desenvolvimento da escravatura conduziu a que as terras comunitárias passassem para o Estado, ou melhor, o rei, dotado de poderes ilimitados e supremo proprietário das terras. 

Noutras regiões, por exemplo, na imensa Ásia, o modo de produção dominante foi o “asiático”. Existiam várias comunidades aldeãs, vivendo isoladas umas das outras, cada comunidade apropriava- se coletivaMente de determinado territôrio, praticando a agricultura. Estas comunidades estão dependentes de uma organização superior, o Estado, que através dos seus funcionários exige que os membros das comunidades aldeãs trabalhem nas grandes obras públicas; construção de canais de lmgação, monumentos, estradas, etc. Têm que pagar igualmente ao Estado um tributo em gêneros alimentares. Embora não sejam escravos no sentido exato pode dizer que há uma situação de servidão generalizada. Entre uns e outros existe uma relação de exploração. 

COMO SE PASSA ISSO TUDO NA SOCIEDADE CAPITALISTA? 


DE QUE FORMA OS HOMENS NESTA SOCIEDADE ASSEGURAM A SUA SUBSISTÊNCIA? 

Nas sociedades contemporâneas é dominante um outro modo de produção: o capitalista. Então a questão é: como se caracteriza o modo de produção capitalista. 

Os homens são em sua grande maioria trabalhadores assalariados, ao venderem a sua força de trabalho ao capitalista recebem um salário, Os capitalistas são proprietários dos meios de produção: 

os instrumentos de trabalhos (exemplo: o tear) e objetos de trabalho (matérias transformadas pelo trabalho com a ajuda dos instrumentos de trabalho, (exemplo: os fios na produção dos têxteis)). Os produtos produzidos são destinados à venda (são mercadorias) e os capitalistas têm como objetivo o lucro. 

O ponto de partida histórico e formal da produção capitalista nasce, pois, no momento em que colaboração de uma grande quantidade de operários, trabalhando ao mesmo tempo e no mesmo local, dá origem à produção da mesma espécie de mercadoria. Trata-se apenas de um crescimento da oficina do mestre do tempo das corporações de ofícios — ela passa, com o mesmo capital, a ocupar, ao mesmo tempo, um grupo cada vez maior de operários. 

Quando um mesmo capital individual ocupa simultaneamente grande número de operários, quando mercê do processo de trabalho se estende o seu campo de ação e se fornecem produtos em grande quantidade — surge a produção capitalista. 

A SOCIEDADE PRODUTORA DE MERCADORIAS 

O agricultor a terra é sua propriedade privada, semeia e colhe o cereal que é o seu produto. O padeiro produz independentemente, com sua força de trabalho (capacidade de trabalho) transformo a matéria-prima (farinha), com a ajuda de vários utensílios, em pão. A farinha (objeto de trabalho) e o pão (produto produzido) são sua propriedade privada. O agricultor produz cereal, o padeiro pão e o carpinteiro objetos de madeira, como o rolo de massa ou a enxada. O trabalho está assim socialmente divido entre eles. Cada um produz produtos qualitativamente diferentes (divisão do trabalho). 

Mas ao produzir, os produtos não se destinam a satisfazer diretamente as necessidades de cada produtor. Para satisfazer todas as suas múltiplas, necessidades se tem de trocar os produtos entre si. Assim os produtos que cada produz destinam-se à troca. Os produtos que satisfazem necessidades são úteis e se se destinam à troca (venda e compra) são mercadorias. 

A MERCADORIA: O SEU DUPLO ASPECTO

Antes de tudo, a mercadoria é um objeto exterior, algo que, pelas suas propriedades específicas, satisfaz uma qualquer necessidade do homem. Esta utilidade, o conjunto de qualidades que lhe permitem prover tais ou tais necessidades humanas, dá à mercadoria um valor de uso. Muitas coisas em que não intervém o trabalho do homem (a água, os frutos, etc) possuem igualmente o seu valor de uso. Mas só é mercadoria aquilo em que o trabalho humano se incorpora — aquilo que se produz para os outros, para venda, O valor de troca surge, primeiro, como a relação quantitativa segundo a qual valores de uso de uma espécie. Uma dada quantidade duma mercadoria é trocada por uma dada quantidade de outra mercadoria: é o seu valor de troca variável com o tempo e o lugar. 

O que distingue uma mercadoria de outra mercadoria é as suas qualidades próprias: o material, a forma, o tamanho, o peso. Quando se quer uma cadeira é porque é útil (poder-se sentar), quando se precisa de um casaco é porque tem um valor de uso (é útil para a pessoa). A utilidade de um produto faz dele um valor de uso. As mercadorias são qualitativamente diferentes. O valor de uso da cadeira é diferente do valor de uso do casaco. Se forem trocadas cadeiras por casacos, é porque elas tinham em si algo idêntico. 

As mercadorias são produtos do trabalho humano. Mas qualquer que seja o trabalho concreto (do carpinteiro e do alfaiate) os dois são trabalho humano. O carpinteiro e o alfaiate ao produzirem consomem a sua força de trabalho (a sua energia) e esta é a qualidade idêntica que permite trocar as mercadorias. 

Este trabalho humano genérico (independente da qualificação particular de cada indivíduo) transmite valor as mercadorias; logo as mercadorias são valores. O valor de uma mercadoria afirma-se na troca; a mercadoria tem valor de troca. O que permite trocar mercadorias com valores de uso (utilidade) diferentes é o fato de ambas serem produto do trabalho humano. E na troca (ato social) que se afirma o valor de troca de uma mercadoria. Logo a mercadoria é: um valor de uso e valor de troca; este é o seu duplo aspecto. 

Se o valor de troca é o resultado do trabalho, então a sua grandeza depende da quantidade de trabalho. Assim, caso haja troca entre o carpinteiro e um alfaiate, aquele dará duas cadeiras e receberá um casaco deste. O primeiro demorou 1 hora para produzir uma cadeira, enquanto que, o segundo, 2 horas para fazer o casaco. Então, trocou-se duas horas de trabalho por duas horas de trabalho. A grandeza do valor de troca de urna mercadoria se determina a partir da quantidade de horas de trabalho necessárias a sua produção. 

Mas caso o carpinteiro vier a trabalhar mais lentamente o seu produto ele não terá um valor de troca superior, porque se a maioria dos carpinteiros demora 30 minutos para produzir uma cadeira e este carpinteiro precisa de 1 hora para produzir, o valor de troca da sua cadeira, independentemente do tempo que levou, será de 30 minutos. Para comprar o casaco precisará de 4 cadeiras, O valor de troca de uma mercadoria é socialmente determinado pelas condições técnicas médias. A grandeza do valor de troca de uma mercadoria depende da quantidade de horas de trabalho socialmente necessárias à sua produção. 

O PROCESSO DA TROCA: COMO SURGE A DINHEIRO

As mercadorias não se vendem sozinhas nem se trocam a si próprias. Só os seus possuidores que realizam essa operação. Para o possuidor de uma mercadoria que a pretende vender esta mercadoria não tem valor de uso imediato (se não a consumiria ele mesmo). Mas ela tem um valor de usos para outros. E estes outros possuem mercadorias que para o primeiro possuem valor de uso. A troca das mercadorias é, portanto, esta mudança de proprietários. A dificuldade residiria em encontrar, entre as mercadorias que se trocam, correspondências exatas nos seus valores de uso. 

Deste modo, teve-se que encontrar uma mercadoria cujo valor não fosse restrito a este ou aquele mas que o fosse em relação a todos ou seja uma mercadoria que oferecesse a possibilidade de ser trocada por qualquer outra mercadoria. Em resumo, era necessário um meio de troca, um equivalente geral.

Assim, aparece o dinheiro — mercadoria adotada e empregada, pelos seus possuidores, como equivalente de todas as mercadorias diferentes. 

Na troca de urna mercadoria por outra - troca simples (2 cadeiras por um casaco) — cada um dos compradores está interessado apenas na utilidade (valor de uso) da mercadoria compra. O valor de uso do casaco expressa o valor de troca de duas cadeiras. Duas cadeiras valem um casaco. A mercadoria cujo valor de uso expressa o valor de troca de outra mercadoria é um equivalente (casaco). Para o carpinteiro o casaco é um valor de uso, (enquanto vestuário) e tem um valor de troca igual ao de duas cadeiras (2 cadeiras = 2h; 1 casaco = 2h). Para o alfaiate, o casaco não é um valor de uso, (é um não valor de uso); ele produz para vender no mercado, é um meio de troca. 

A mercadoria (casaco) não é um valor de uso para o seu produtor, só lhe interessa como meio de troca, logo para se afirmar como valor de uso (ser utilizada), a mercadoria tem que realizar o seu valor de troca (ser vendida). Para se afirmar como valor de troca (ser comprada) tem que ter valor de uso (quem a compra a considera útil). 

No exemplo mencionado até aqui, só houve troca direta entre carpinteiro e alfaiate, mas cada tem outras necessidades. Com 2 cadeiras o carpinteiro pode ainda comprar 15 metros de tecidos, 3 pares de sapatos, 2,5 kg de batatas, 10 g de ouro, etc. As cadeiras vão assim ser trocadas pelas mercadorias que o carpinteiro deseja comprar, mas sob as condições anteriores só pode conseguir essas mercadorias se os seus produtores quiserem cadeiras. Na troca direta, mercadoria contra mercadoria é preciso procurar até que se encontre parceiro para a troca, 

Vejamos agora: do mesmo modo que o valor de troca de duas cadeiras se pode expressar no valor de uso das mais variadas mercadorias, também os possuidores das outras mercadorias podem querer cadeiras. 1 pernil grande = 2 cadeiras; 2 garrafas de vinho = 1 cadeira; 1 televisor = 6 cadeiras; e um automóvel simples = mais de 90 cadeiras, etc. 

Assim o valor de uso das cadeiras expressa o valor de troca de todas as outras mercadorias. Esta mercadoria (cadeira) toma-se o equivalente comum ou equivalente geral de todas as outras mercadorias. Aparece como o modo de existência do valor de troca de todas as mercadorias (cristaliza em si o valor de troca das outras mercadorias como resultado cio processo de troca). Esta mercadoria (a cadeira, por exemplo) é a dinheiro, se na sociedade, for a única mercadoria a ter a função de equivalente geral, 

O dinheiro aparece como desenvolvimento do processo de troca. A prática cotidiana foi impondo a necessidade de uma mercadoria que funcionasse como dinheiro (equivalente geral), por exemplo: escravos, conchas, metais preciosos, cabeças-de-gado, foram usados como moeda. 

Para que uma mercadoria particular possa servir de dinheiro tem que ter certas qualidades: deve poder conservar-se; estar apta ser sempre trocada; tem que ser divisível e resistente; e geralmente é uma mercadoria rara e preciosa. 

Os metais possuem essas qualidades, em várias sociedades, e, por exemplo, na sociedade capitalista o ouro historicamente, tornou-se a mercadoria dinheiro, 

As FUNÇÔES DO DINHEIRO E A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS

A função fundamental de dinheiro consiste em servir como medida do valor das mercadorias (o preço é, assim expressão em dinheiro do valor da mercadoria.) 

Mas o dinheiro é também um meio de circulação A troca das mercadorias realiza com a ajuda de dinheiro chama-se circulação das mercadorias. Esta se encontra estreitamente ligada A própria circulação de dinheiro: sempre que uma mercadoria muda de proprietário, o dinheiro também muda. O dinheiro é. deste modo, o intermediário no processo de circulação dos mercadorias. 

No início o dinheiro era constituído por barras de prata ou ouro Mas a dficuldade do seu manuseio levou ao seu fracionamento em pequenas partes. E assim surgiu a moeda: porção de meta! com forma, peso e valor determinado que serve de meio de circulação. 

O dinheiro é uma mercadoria particular com uma função especial — a de equivalente geral. Converte-se cadeira em dinheiro, troco dinheiro por cadeira, e por fim, o dinheiro em casaco. O dinheiro serve de medianeiro na troça; um meio de circulação, MERCADORIA > DINHEIRO MERCADORIA. 

A troca realiza-se agora por dois atos opostos: vende-se para comprar; só que os atos de compra e venda podem não se realizar ao mesmo tempo.

O carpinteiro vende outra cadeira, mas agora decide guardar o dinheiro que recebeu; e se não desejar comprar nada com o dinheiro assim fica com o valor das suas mercadorias. 

A finalidade da troca alterou-se, já não vende para comprar: agora o objetivo do produtor de mercadoria é o próprio valor. Desta forma esse produtor de mercadorias poupa o dinheiro, tornando o dinheiro em um meio de poupança.

O produtor poupa porque quer a produção quer a venda de mercadorias levam tempo e dependem do acaso. E ele tem as mais variadas necessidades que se renovam continuamente. Mesmo que não consiga produzir as suas mercadorias, ele tem sempre um certo número de necessidades que procura satisfazer e ainda tem o caso se não encontrar comprador. Ao poupar sempre fica precavido em caso de necessidade e tendo dinheiro, pode comprar qualquer mercadoria que deseje, desde que tenha na quantidade exigida.

Dessa maneira, surge-lhe, por um lado, a ideia que o dinheiro é o que dá “riqueza” e com ele pode-se comprar “todas” as mercadorias, e por outro, se trabalhar muito, vender suas mercadorias e consumir pouco, consiga poupar dinheiro. Mas a verdadeira fonte da sua riqueza é a sua força de trabalho. 

CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO 

Reconhecida a natureza do dinheiro ele é afiguração material e tangível do valor de troca de todas as outras mercadorias e reconhecidas as suas funções, resta falar do dinheiro como capital. 

Por capital entende-se uma soma de valor que produz ou, pelo menos que, deve produzir mais-valia.

Um capital-dinheiro é, portanto, empregue na produção de mercadorias, isto é, dos meios de produção e da força de trabalho. Terminada a produção realiza-se a venda a fim de restituir ao capital-dinheiro — e ao mesmo tempo à mais-valia produzida a sua forma monetária. Assim, em primeiro lugar, çqpitqh.ta compra mercadorias e força de trabalha; reafla o ata de circulação DM (dinheiro-mercadoria). Depois, as mercadorias compradas são utilizadas na produção, por ela consumidas e transformadas numa outra mercadoria de valor superior. Finalmente, o capitalista volta ao mercado como vendedor dessa mercadoria produzida e esta se converte em dinheiro, isto é, realiza o ato de circulação MD (mercadoria-dinheiro). 

O produtor de mercadorias troca as que produz ( e que para si não tem valor de uso) por dinheiro M-D (mercadoria — dinheiro). 

Com o dinheiro compra as mercadorias que tem necessidade D-M (dinheiro — mercadoria). 

A troca de mercadorias por meio de dinheiro leva a que haja um intervalo de tempo entre a venda (M-D) e a compra (D-M) e nesse intervalo poupa dinheiro. Através da poupança, torna-se um possuidor de dinheiro, mas só tem esse dinheiro enquanto não o tornar a gastara ao final) o produtor continua a ter o mesmo dinheiro e ninguém lhe garante que possa vender de novo ao mesmo preço aquilo que comprou. Deste modo, a circulação dinheiro-mercadoria-dinheiro parece, à primeira vista, desprovida de sentido. Poupar dinheiro não é a melhor forma de ganhar dinheiro. 

A troca é uma compra e uma venda em cada uma das duas fases D-M e M-D. Na troca, trocam-se valores da mesma grandeza. Na circulação do dinheiro a finalidade da troca é o dinheiro, D-M-D. Na circulação de mercadorias a finalidade são os diferente valores de uso. 

A circulação dinheiro-mercadoria-dinheiro só tem sentido se o possuidor do dinheiro obtiver com isso mais dinheiro do que o que investiu. O objetivo é um acréscimo de dinheiro $ - mercadoria - $$. 

O valor inicial aumentou porque encerra uma mais-valia (excedente de valor): D-M-D’. Este movimento de acréscimo de valor transforma o dinheiro em capital

Os produtores embora troquem sempre valores idênticos (6h = 6h) obtêm um excesso de valor, uma mais-valia, que será explicada mais a frente. 

O CARÁTER FETICHISTA DA MERCADORIA E DO DINHEIRO 

Na economia mercantil capitalista, baseada na propriedade privada, as relações de produção entre os homens atuam inevitavelmente sob a forma de relações entre coisas-mercadorias, Eya materialização das relações de produção como se tratasse de relações entre coisas, constitui o caráter fetichista da mercadoria. Os produtores de mercadorias criam a ilusão de que as mercadorias possuem, por natureza, qualidades especiais que influem no destino dos homens. 

No dinheiro este caráter fetichista é ainda mais notório. Ele constituirá uma força formidável que dá a quem o possui um grande poder sobre os outros homens. Tudo pode comprar-se com dinheiro. Isto, que é apenas o resultado de determinadas relações entre os produtores de mercadorias, é que dá origem a que se crie a ilusão de ser uma capacidade natural do ouro, suscetível de tudo comprar. Só a destruição da propriedade privada dos meios de produção terminará com o Jëtichismo da mercadoria.
Os povos primitivos não tenham consciência das suas condições de vida seja naturais seja sociais, No confronto do homem com a natureza não acreditavam que uma boa colheita fosse resultado do seu próprio trabalho. Forças sobrenaturais dotadas de poderes mágicos, seriam as responsáveis. Ofereciam produtos a essas forças naturais, para que as colheitas fossem satisfatórias. 

Assim, na consciência dos povos primitivos, às coisas inanimadas eram atribuídos poderes humanos e sobre-humanos, transformando-se em fetiches (ídolos de poderes mágicos), Isto pode de novo ser encontrado na sociedade produtora de mercadorias: embora a ciência permita explicar grande parte dos fenómenos da natureza, no entanto a mercadoria aparece com um caráter místico (de fetiche). 

O alfaiate ou o padeiro não sabem o que outro produz, nem a quantidade, nem em quanto tempo, até o instante da troca. E na troca entre os produtos do trabalho que os diferentes trabalhos concretos se manifestam como parte do trabalho global necessário e útil a sociedade. 

Na troca simples já se manifesta o caráter fetichista (místico) das mercadorias. Mercadorias com valores de uso diferentes confrontam-se na troca. 2 cadeiras valem 1 casaco porque o valor de uso do casaco exprime o valor de troca das cadeiras. Cadeiras e casacos podem ser trocados por uma única razão: ambos são produtos do trabalho humano. Isto, entretanto, não é evidente e é encoberto pela própria troca. Por exemplo: o casaco (valor de uso determinado) parece poder ser trocado graças as suas qualidades naturais (é quentinho, é elegante, etc) Aos olhos dos possuidores de mercadorias, estas parecem trocar-se graças as suas qualidades naturais. Assim, os produtos do trabalho humano parecem animados de vida própria, e adquirem “poder” sobre os homens. 

Tudo se torna mais complicado e encoberto quando a troca de mercadorias se faz contra dinheiro. Ai um metal (ouro, prata) ou mesmo um papel impresso (nota de banco) parecem ter propriedades mágicas. Todas as mercadorias podem ser compradas com dinheiro (metal, notas). A partir de agora, os produtores de mercadorias não vêem que o dinheiro é muito simplesmente a mercadoria equivalente geral. Assim se esconde completamente que comprar e vender é condição necessária dos produtores de mercadoria isolados uns dos outros. 

Dado que não produzem coletivamente, têm que, sendo concorrentes entre si, correr atrás do dinheiro. Aparentemente, independentes uns dos outros dependem todos do dinheiro, O dinheiro domina como fetiche (ídolo) toda a sociedade. No mercado o produto do trabalho opõe-se, como poder exterior ao próprio produtor, O processo de troca aparece como um processo desenrolando-se entre mercadorias como uma relação entre homens, mas entre coisas. No modo de produção capitalista, as relações sociais entre os homens aparecem como relações entre coisas. 

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA MAIS-VALIA 

A mais-valia é o valor que o trabalho do operário cria depois de cobrir o valor da sua força de trabalho e de que o capitalista se apropria gratuitamente. A mais-valia é assim o resultado do trabalho não pago do operário.

No capitalismo, a jornada de trabalho divide-se em duas partes: tempo de trabalho necessário e tempo de trabalho suplementar; o trabalho do assalariado divide-se em trabalho necessário e sobre- trabalho. Durante o tempo de trabalho necessário, o operário reproduz o valor da sua força de trabalho; durante o tempo de trabalho suplementar cria a mais-valia. 

Para conseguir o lucro do capitalista é preciso produzir uma mercadoria para venda no mercado. Para produzi-la são necessárias máquinas, matérias-primas e dinheiro operário trabalhador trabalha e o capitalista o pagai E, portanto, ele que corre o risco; os lucros são para si, para compensar-lhe. Assim o operário precisa trabalhar para o capitalista que lhe pagará; como não tem nenhuma outra coisa a fazer, só possui a sua força de trabalho, tem que a vender. 

O operário vende sua força de trabalho por um mês e recebe o que precisa pelo menos o suficiente para viver, para que no mês seguinte possa de novo trabalhar. E claro, tem que receber o necessário para que possas subsistir, para que tenha filhos e os possa manter. 

A força de trabalho é uma mercadoria, logo tem um valor de uso e um valor de troca. O capitalista compra a força de trabalho por lhe é útil — o trabalhador trabalha. E lhe pago o equivalente ao seu valor de troca. Por exemplo, um chapéu custa $100 por que contém certo tempo de trabalho. De igual forma, os meios de subsistência de que o trabalhador necessita para si e para a família são produtos de certa quantidade de trabalho: o valor de troca da força de trabalho.

Assim tal como se comprassem qualquer outra mercadoria é pago o equivalente ao valor de troca da força de trabalho; $4,500. Isto , pago ao trabalhador o que ele precisa. 

Entretanto o capitalista vende cadeiras produzidas cada por $500. Com isto, algo a primeira vista não fica certo. 

Para produzir uma cadeira os materiais custam $150, sobram $350; ora o operário produziu 15 cadeiras, 15 x $350 = $5.250. Então parte do seu trabalho foi fornecida gratuitamente ao capitalista (quer dizer, não lhe foi pago). $5.250 — $4.500 $750. 

Se o operário quiser reaver o resto seu dinheiro, só em duas semanas produziu cadeiras num valor superior a $4.500. Receberá como resposta que foi contratado pelo capitalista para que trabalhasse durante um mês. Se quiser receber os $4.500 terá que trabalhar um mês completo. Em suma, então nas 2 semanas que faltam trabalhará só para o bolso do capitalista. 

Este trabalho não-pago, a mais-valia é apropriado pelo capitalista sob a forma de lucro. A força de trabalho é assim uma mercadoria particular porque é a mercadoria valorificante (geradora de valor). 

Comprar Barato e Vender Caro: Isto Explica o Lucro? 

O lucro é a mais-valia considerada em relação a todo o capital investido na produção e aparece exteriormente como fruto deste capital ou, como Marx, afirma, o lucro é a forma metamorfoseada da mais-valia. 

Assim como a forma salário encobre a exploração do operário assalariado, sugerindo a falsa ideia de que se paga ao operário o trabalho integral, a forma lucro disfarça, por sua vez, a relação de exploração suscitando a crença enganadora de que o lucro é fruto do capital. 

É claro que o capitalista tem o lucro, esse é o seu objetivo enquanto capitalista. Mas alega que o seu lucro se forma à custa do trabalho do operário. 

Os capitalistas vendem as mercadorias no mercado. Se resolver pagar os $500 por mesa ao operário, dirá que lhe comprou pelos $500 mas para ter lucro a venderá por $700 ($500 + $200 = $700). 

Porém, se por acaso um capitalista concorrente oferece ao mercado a mesma mesa por $300. Dirá que isto é a concorrência que se faz entre os capitalistas. Assim é que se conseguem os lucros, O que alguns dos capitalistas ganham a mais, os outros deixam de o ganhar, e desta forma que se explicam os lucros. 
Entretanto, há um problema em tal lógica, tomemos, por exemplo, que nos últimos 50 anos a riqueza social, é consenso, modificou-se. 

Por ilustração, tomemos, por exemplo, um cofre-forte. Se somarmos 100 sacos de $100, as quantias de todos os sacos, obtemos $10.000. Façamos agora uma pequena alteração. O mesmo cofre com sacos de diferentes valores. Somemos: 2 sacos de $25, 2 de $50, 1 de $250, 1 de $450, $1800, 1 de $3000, 1 de $4300, e assim sucessivamente. O total não se modificou: $10.000. A riqueza social encontra-se distribuída de modo diferente: uns enriqueceram, outros empobreceram. Como ê evidente, a soma global mantém-se inalterada. Da maneira acima, a explicação está errada, a riqueza social nos últimos 50 anos não teria aumentado, o que de fato não é verdade. 

O lucro do capitalista não é senão a mais-valia, trabalho fornecido gratuitamente pelos trabalhadores. A mais-valia não nasce na compra ou venda, mas sim durante o processo de produção. O valor a que a mercadoria é vendida no mercado depende do tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la. 

A mercadoria força de trabalho é uma mercadoria específica porque é a única que transmite a mercadoria produzida um valor superior ao seu próprio valor. 

A Máquina Produz Lucros? 

O trabalho economizado pela máquina não pode ser confundido com o salário desse trabalho. Se suposermos que uma máquina custa tanto como o salário anual de 150 operários que ela substitui ou seja, por exemplo, 75 francos-ouro estes não são de forma alguma a expressão monetária do trabalho oferecido pelos 150 operários e acrescentado ao objeto do trabalho; são apenas parte do seu trabalho representado pelo salário. 

Se esses 150 operários recebiam, forneciam em troca digamos 150.00 francos (a mais-valia atingia portanto 100% do seu salário). Enquanto o fabrico da máquina que realiza o trabalho desses 150 operários custa menos de 150.000 francos o seu emprego pela sociedade será racional, visto significar uma economia de trabalho. Mas o capitalista não pode fazer as constas deste modo, Pelo trabalho realizado pelos 150 operários, só paga 75.000 francos-ouro; portanto, não pode utilizar a máquina se ela custar mais de 75.000 francos. Só o salário efetivamente paga entra em linha de conta para o capitalista, nas despesas de produção. 

A força de trabalho fornece um excedente de valor, durante o processo de produção, a mais- valia, que é a origem dos lucros. Entretanto, diante da fragilidade, dos argumentos que a concorrência no lugar da exploração da força de trabalho origina os lucros, é comum alegar que estaria então na máquina, que o capitalista utiliza na produção, essa capacidade. Porém, não se verifica isso. 

A máquina que o capitalista utiliza se, por exemplo, custar $100 (que dizer, tem um determinado valor dependente do tempo socialmente necessário para produzi-la) e se tiver de duração aproximadamente 1.000 dias de duração. Isto quer dizer, a máquina vai transmitir o seu valor aos produtos produzidos durante 1000 dias. Assim, o valor excedentário, a mais-valia, fonte do lucro, não pode ter sido criado pela máquina. Esta transmite o seu próprio valor e nem mais um átomo. 

Admitimos agora que se trata de uma máquina totalmente automática. A máquina trabalha produz a sua primeira mesa. Qual o valor da mesa? Como sabemos, o seu valor depende do trabalho necessário para produzi-la. Logo, a questão é saber que quantidade de trabalho está contido nos meios de produção (materiais, máquinas, etc) que “produziram a mesa”. Se se fabricar uma mesa por dia, isto quer dizer que a máquina transmite 1/1000 do seu próprio valor a cada mesa produzida. Assim o valor da mesa será: valor dos materiais + 1/1000 valor da máquina. 
Então não há mais-valia e o capitalista não tem lucro. 

O Lucro é o “Salário dos Capitalistas”? 

Is/a produção capitalista, o capitalista dirige tanto a produção como a circulação. A exploração do trabalho produtivo custa esforço, quer o capitalista o realize ele próprio, quer sejam outros a realizá-lo. Ao contrário do que acontece com o juro, o seu lucro de empresário lhe surge de maneira independente do capital, como resultado das suas funções como não-proprietário — como trabalhador. Necessariamente ele acha que o seu lucro de empresário — longe de se opor ao salário e de apenas ser trabalho não pago — é antes salário, um salário de superintendente. 

Mas este trabalho de direção e superintendência, na medida em que resulta do domínio do capital sobre o trabalho, não se confunde de maneira direta e indissolúvel com as funções produtivas resultantes da natureza de todo o trabalho em comum.

A outra alegação pelo capitalista, é que se ele trabalha, não teria direito a receber salário, sendo então o lucro seu “salário”. Entretanto, o salário é estabelecido na base do valor da força de trabalho. O capitalista não vende a sua força de trabalho (tem meios de produção e capital-dinheiro ao contrário dos trabalhadores assalariados). Recebe mesmo que não trabalha, tal como os acionistas das sociedades por ações. O seu lucro é proporcional ao capital investido, independente do “seu trabalho”. 

Ainda, diante disso, o capitalista poderia afirmar que se tal situação não agradasse ao operário, fecharia a fábrica e liquidaria o seu patrimônio. Que quem precisa de quem, é o operário, pois o capitalista lhe oferece emprego. Porém se liquidar o seu patrimônio, ficará sem ele; e isso não lhe interessa. Na realidade quem renova continuamente o seu patrimônio são os trabalhadores assalariados. Nos últimos 50 anos, já o capitalista o consumiu mais de 10 vezes, o patrimônio já não lhe pertence. 

Por fim, o capitalista poderá argumentar ainda, quanto aos riscos do investimento, que ele que os corre. O risco das crises, os maus investimentos, a saturação de mercado. Em verdade, é apenas um medo pelo capitalista de perder seu dinheiro. E nesse caso, restaria apenas vender a sua força de trabalho, ser um trabalhador assalariado como era seu operário. Na realidade os operários têm que trabalhador para que o capitalista continue capitalista. 

O MOTOR DA PRODUÇÃO CAPITALISTA: A Exploração DA MAIS-VALIA 

No capitalismo, o trabalho do operário é um processo durante o qual o capitalista usa a mercadoria força de trabalho, é o processo em que se tira do operário a mais-valia. 

A finalidade imediata da produção capitalista é a produção de mais-valia. 

A lei absoluta do capitalismo é a produção de mais-valia, a obtenção de lucro. A essência desta lei consiste em assegurar a criação da maior quantidade possível de mais-valia para os capitalistas, pela ampliação da produção, o desenvolvimento da técnica e reforço da exploração do trabalho assalariado. A produção da mais-valia condiciona, assim, o caráter inevitável do crescimento e a profundeza das contradições do sistema capitalista. 

O objetivo do processo de produção capitalista não é a produção de valores de uso, mas de valor de troca, ou melhor, a produção de um valor de troca superior. $ -‘M -‘$$. O capitalista decide produzir mesas e não alfinetes não porque considera mesas mais úteis, mas porque as mesas lhe dão um lucro superior ao dos alfinetes. Logo, o seu objetivo é o valor de troca das mercadorias e não o seu valor de uso. 

Para produzir, o capitalista (possuidor de capital, dinheiro) D ao mercado de materiais compra- os pelo seu valor de troca. (de acordo com o tempo de trabalho socialmente necessário para os produzir, por exemplo, 5 horas), e ao mercado da força de trabalho pelo seu valor de troca equivalente ao número de horas necessárias para produzir as subsistências que asseguram o seu sustento e o da sua família, 4 horas). Até aqui, tudo claro, troca de equivalentes. 

Na fábrica, durante uma jornada de trabalho (8 horas) o trabalhador produz (1) mesa. O valor da mesa é igual ao valor dos materiais, mais (+) o valor transmitido pelo trabalhador durante a jornada de trabalho (8 horas). 

Ora se o trabalhador para subsistir durante um dia necessitar de subsistência qiç incorporam 4 horas de trabalho, o trabalhador forneceu ao capitalista 4 horas de trabalho gratuito — a mais-valia. 

Jornada de trabalho: trabalho necessário (4 horas) + sobretrabalho (4 horas) 

O valor da mesa se formou assim, uma parte é o valor dos materiais que nada fizeram senão transmitir o seu valor ao produtor acabado, mesa => capital constante (5 horas). 

Outra parte é correspondente ao valor transmitido pelo trabalhador ao longo da jornada de trabalho. Nela podemos distinguir uma parte equivalente ao valor da força de trabalho que o capitalista pagou, (capital variável). 4 horas. 

E outra que é trabalho excedentário, a mais-valia, fornecida gratuitamente. 4 horas. 

A DIVISÃO DO TRABALHO 

Como se calcula, a propriedade privada dos meios de produção divide os homens. Cada produtor de mercadorias vai orientando a sua economia independentemente dos outros. Quanto maior é a divisão do trabalho na sociedade, mais variados e diversos são os produtos criados pelos diferentes produtores e maiores os vínculos de dependência entre eles.
Isto faz com que o trabalho de cada produtor seja, no fundo, um trabalho social, parte do trabalho da sociedade no seu conjunto. 

Os trabalhos dos diferentes ofícios, isto é, os trabalhos dos produtores de dilferentes valores de uso, só se podem comparar entre si porque têm, do ponto de vista da economia de troca, algo em comum; todas as variedades de trabalho podem reduzir-se a um trabalho geral, a um gasto da energia humana, independentemente da foram que este gasto de energia tome em cada caso.

Recuando no tempo, na era das manufaturas, um artesão podia fabricar em um dia de trabalho individualmente 5 pares de sapato enquanto outro 7 pares, O dono da manufatura fabrica mais barato do que qualquer destes artesãos. O que passa que ele produz mais barato porque em cada peça entra uma menor proporção de capital constante (edifício, máquinas, aquecimento, etc), ou melhor, estes custos são repartidos por uma maior quantidade de produtos. Por outro lado, os trabalhos com rendimentos diferentes se igualam numa determinada média, e o risco para o proprietário é tanto menor quanto maior for o número de operários. 

Na primeira fase cada trabalhador produzia por inteiro um produto, até que um empresário mais engenhoso descobre que o produto poder ser fabricado mais depressa se pudesse especializar cada trabalhador numa tarefa específica. Agora haverá um trabalhador que só cortará a sola do sapato, por exemplo, ao invés de cada fabricando todo o sapato. O que vale muito a pena ao capitalista. Isto porque um homem que não faz outra coisa que não seja cortar solas ganha com o hábito uma velocidade superior para realizar o seu trabalho. Torna-se muito mais produtivo do que se produzisse por completo um sapato. 

Assim, o capitalista em embrião consegue cada dia um número de pares de sapatos superior ao que conseguiria se cada trabalhador executasse todas as fases de produção do sapato; mas agora, precisa de alguém que controle e organize todo o processo de produção. 

Surge o capataz, os olhos e os ouvidos do patrão. Organiza todas as fases do processo de produção. Claro que não é um empresário, recebe um salário (um pouco mais elevado do que outros trabalhadores), mas defende, preocupa-se com os interesses do patrão. 

Desta forma se conseguem novos ganhos, até uma nova invenção técnica ou uma melhor organização do processo de produção permitam ainda lucros mais fabulosos. 

Colateralmente, se pegarmos dois empregados de uma mesma empresa de sapatos eles poderão simplesmente não saber o que a empresa em que trabalhão produz. Um dirá “qualquer coisa de couro”, pois o que faz é amontoar pedaços de couro no almoxarifado, enquanto o outro, ocupa-se da contabilidade, embora possa saber quais tanto artigos são fabricados, não saberá muito bem como são produzidos. Este é um trabalhador que não tem nada ver com a produção (na verdade, foi a escola para fugir ao trabalho manual). A esse todo processo é chamado de alienação do trabalho. Assim, os trabalhadores perderam o controle do processo de produção. E o capitalista ou o seu representante (capataz) quem os dirige. 
O capitalista em alguns casos pode inclusive não ter qualquer interesse por aquilo que produz, nem saber como é; o que lhe interessa é o lucro, ou em outras palavras, a valorização de seu capital. O processo de trabalho é apenas um meio. Desse modo, inverte-se na lógica da realidade, não é o trabalhador que utiliza os meios de produção, são os meios de produção que o utilizam o trabalhador. O capitalista emprega meios de produção e trabalhadores - é simples: são fatores de produção. 
No entanto, é o capitalista que aprççç como verdadeiro produtor. Embora não seja o capitalista que constrói o edificio, mas os operários do prédio, da mesma forma que não é Ford que fabrica o novo super-carro mas sim os operários. O operário aparece como um objeto, uma coisa, um simples fator de produção, quando, na realidade, sem ele o capitalista não teria lucro. 
Enquanto a máquina, os tabalhadores não costumam gostar dela. Para eles, essa representa o capital, a exploração. E isso é verdade, mas essas não são suas qualidade naturais. O que acontece é que ela é propriedade do capitalista, e que os trabalhadores se devem apresentar face a ela como trabalhadores assalariados. 
Enquanto a ciência, os também não gostam dela. Dizem que está a serviço do capital e que é um meio para a sua exploração. Isto é verdade, mas tal não é sua característica natural. Se fossem os próprios trabalhadores a controlar o processo de produção, seriam eles os beneficiados. 
Enquanto a mercadoria, foi produzida pelos trabalhadores. Se o no mercador, o seu proprietário (capitalista) a troca contra dinheiro, uma parte desse dinheiro não é senão a mais-valia extorquida aos trabalhadores durante o processo de produção. Com esse dinheiro, o capitalista pode produzir novamente e contratar novos trabalhadores que explora. Embora, produzida pelos trabalhadores, é propriedade do capitalista, que a vende no mercado, 
A força produtiva social do trabalho: cooperação, divisão social do trabalho, máquinas, aplicação da ciência e da técnica aparecem como forças produtivas do capital. Os meios de produção aparecem como meios de exploração dos trabalhadores, as mercadorias que eles produzem lhes aparecem como algo que lhes é estranho e hostil (o processo de “estranhamento”). 

A EXPLORAÇÃO EXISTE? 

Qual a medida da exploração capitalista? 

A proporção em que a jornada de trabalho se divide em tempo de sobre-trabalho e tempo de trabalho necessário nos dá uma idéia dessa medida. Quando o tempo necessário diminui e o tempo de sobre-trabalho aumenta, o grau de exploração do trabalho pelo capital se eleva. 

O sobre-trabalho (não remunerado) corresponde ao capital variável. Chama-se taxa de mais- valia à razão entre a mais-valia e o capital variável. Á taxa de mais-valia constitui o índice do grau de 

exploração do operário pelo capitalista. 

É comum ao observar um grupo de trabalhadores manifestando-se um outro afirmar que o protesto é idiota, O que “querer mais?”, “combater a exploração para que?” “Que se pudesse falar nisso há cem anos atrás, quando as coisas eram diferentes, mais que hoje estamos mal...” 
Primeiro não é verdade dizer que os trabalhadores não estão maus, porque estão muito mal mesmo. 
O que interessa ao patrão são lucros. Desde que ele saiba que uma mercadoria se vende ele deixa de estar preocupado com a utilidade concreta do trabalhador. Desde que se venda. Depois, quer vendê-la pelo máximo possível, desde que as pessoas a comprem e a concorrência não provoque preços tão baixos que ele não venda nada. Estabelece, portanto, o preço ao qual ele pensa ganhar um lucro total máximo. 
“Qual é a valorização do meu capital?” — assim se pergunta o capitalista — é a relação entre seu lucro e o capital total que adiantou para máquinas, instalações, salários. Esta razão lhe dá a medida do crescimento do seu capital. 
Mas isto é diferente para o trabalhador. O capitalista lhe paga um salário que em média satisfaz as suas necessidades básicas. Mas tem a capacidade de durante o tempo de trabalho contratado produzir mercadorias de valor superior ao que ele o paga. Ele compra a sua capacidade de trabalhar e ao usá-la obtém um valor superior àquele que lhe pagou. Esta qualidade, só o trabalho humano a tem, Por isso, ele compra a sua capacidade trabalho. 

O salário não é o valor do trabalho do trabalhador, mas é o valor da sua força de trabalho. E o necessário, em média, para ele voltar a trabalhar n dia seguinte, Só que durante as 8 horas que trabalha, produz mais que isso. Ao mesmo tempo em que produz um valor equivalente ao que lhe é pago, ao que chamamos, tempo de trabalho necessário. 

A diferença entre as 8 horas e o tempo de trabalho necessário é o sobretrabalho, e cria-se um a mais-valia que é a diferença entre o valor que o trabalhador acrescenta as mercadorias e o seu salário. Por isso, lhe interessa a relação entre a mais-valia e o capital variável, que é a relação entre o sobre- trabalho e o trabalho necessário. Isto mede o grau de sua exploração. 

Para fazerem face às lutas e reivindicações dos trabalhadores, para concorrerem entre eles na procura de maiores lucros, os capitalistas estão sempre comprando máquinas mais aperfeiçoadas que fazem diminuir o tempo de trabalho necessário e aumentar o sobretrabalho e a exploração. Por isso, há condições objetivas que devem levar os trabalhadores a reivindicar a diminuição do horário de trabalho. 

Taxa de mais-valia ou de exploração mais-valia = sobretrabalho 

capital variável (salário) trabalho necessário 

Os trabalhadores podem reivindicar 40 horas ou mesmo 36 horas semanais para todos os que ainda trabalham mais. Além disso, seriam milhares de novos empregos que se criariam. Com tantos camaradas seus desempregados, os que têm emprego tem que os ajudar a saírem da miséria. Se já há tantos anos os trabalhadores conquistaram a jornada de 8 horas e isso foi o suficiente para dar grandes lucros aos patrões, imagina o que não será hoje com os progressos técnicos modernos. 

Assim dá para entender que enquanto houver compra e venda de força de trabalho, enquanto houver trabalho assalariado, há exploração. 


TRABALHO E TRABALHADORES 

O valor de qualquer mercadoria se determina pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. Como aplicar tal definição à força de trabalho? A força de trabalho não se produz em fábrica, nasce da própria condição da vida. Se examinarmos com cuidado a exploração do operário pelo capital, verificamos que a mercadoria-força de trabalho não necessita em caso algum de ser diferenciadas das outras mercadorias. 

O uso que o capital faz na mercadoria-força de trabalho consiste no fato de o operário vender o seu trabalho ao capitalista, durante um tempo determinado por contrato. 

Assim a força de trabalho tem um valor que é determinado pelos meios de subsistência necessários a sua reprodução, a sua instrução profissional, a sua manutenção média de uma família e a sua manutenção de um certo nível cultural 

Um trabalhador não percebe bem que é explorado. Acredita que recebe pelo seu trabalho o preço combinado previamente pelo trabalho que executa num dado tempo. O que é errado, é uma aparência.
O que um trabalhador vende é a sua força de trabalho cujo valor de uso, o trabalho, é a origem do valor 
e da mais-valia. E claro que ao capitalista convém dizer que paga o trabalho. O que é que eles compram quando assinam os contratos não é o trabalho mas o trabalhador vivo em pessoa. A força de trabalho é assim uma mercadoria. 

Raramente, a forma de como o sobretrabalho é extorquido salta aos olhos dos explorados, tão claramente, como acontecia antigamente no modo de produção feudal. Nesse tempo, no feudo a parcela de terra destinada a produção do senhor era enorme enquanto aos camponeses era pequenina. Ainda, o camponês trabalhava, por exemplo, 4 dias por semana para o senhor feudal. Era a corveia (renda paga em horas de trabalho). Sabia-se exatamente quanto é que trabalhava para o proprietário opressor e quanto é que trabalhava para si próprio, para a sua subsistência. 

Como sabermos a mercadoria tem 2 aspectos: o de valor de uso, a capacidade de satisfazer determinada necessidade e o de valor de troca que se determina pelo tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção. O valor de troca da força de trabalho é a quantidade de horas de trabalho socialmente necessárias para produzir o conjunto de bens necessários para a subsistência do trabalhador, O seu valor de uso, a suas utilidade, reside na faculdade que tem de trabalhar produzindo (por exemplo: trabalho de 8 horas diárias). O capitalista compra a força de trabalho (mercadoria) por que ela tem valor de uso, o trabalho, e paga por ela X reais, o equivalente ao seu valor de troca. 

O capitalista pensa que paga aos trabalhadores o que eles precisam para viver, evidentemente, sem grandes luxos porque quem se “arrisca” é ele. Se o negócio corre mal, e ele que “perde tudo”. Os trabalhadores “só tem que vir trabalhar, não arriscam nada”; também “não podem exigir mais do que têm”. E que “os homens são sempre diferentes” e ele “não lhes rouba nada”. E se o capitalista lhes paga é para trabalharem. Para ele “chega os riscos que corre ao comprar as máquinas, as matérias- prima, as instalações, etc”. Não pode arriscar a que eles não trabalhem. E se ele lhes paga e “não lhes rouba é para trabalharem”. 

Quando da compra e venda da força de trabalho, no processo de troca ou de circulação, estamos perante uma troca de equivalentes: força de trabalho contra salário. 

O capitalista paga a um operário R$ 1,54 por semana, é o que lhe basta - na sua visão. Então é isso que lhe paga. Por sua vez, o operário trabalha 44 horas por semana, ou seja, paga-lhe R$ 3,50 por cada hora de trabalho. Mas o que o patrão não diz, não pode dizer, é que não paga o trabalho; só que os operários, por exemplo, em 22 horas, produzem o equivalente a R$154 lá no processo de produção. Já não estamos perante uma troca de equivalente, é uma troca desigual. As outras 22 horas são sobre- trabalho. 

De fato, o capitalista lhes paga o valor. Eles não morrem de fome. Também não vivem, subsistem. Mas ao trabalharem, produzem um valor superior aquele necessário a sua subsistência. O capitalista apropriando-se do produto do trabalho deles, apropria-se também desse valor a mais que eles criaram. Roubados não são, mas explorados isso são. Entretanto vivem na ilusão de que ele lhes paga as horas de trabalho. 

A ESPIRAL SALÁRIO-PREÇO E A NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO. 

O preço equivalente aos custos de produção da mercadoria, mais o lucro médio é o preço de produção. Nas diversas empresas do mesmo ramo, e em consequência das diferentes condições de produção, praticam-se distintos preços de produção, individuais, calculados em função dos custos individuais de produção acrescidos do lucro médio. Porém, as mercadorias vendem-se num ponto médio, segundo um preço de produção igual para todos. 

O valor da força de trabalho é, como se disse, determinado pelo valor dos meios de subsistência habitualmente necessários a um operário médio 

Ao capitalista isolado interessa comprar no mercado de trabalho e pagar a força de trabalho pelo preço mais baixo (quanto menos pagar pela força de trabalho maior mais-valia obtém), mas do ponto de vista do equilíbrio social, não só interessa que a força de trabalho se pague hoje ao preço mais baixo, mas também que o/luxo da ,j orça de trabalho seja constante, isto é, que esta força não deixe de se reproduzir. E isto só é possível se o conjunto da classe operária receber pela sua força de trabalho um equivalente que lhe permita, no futuro, reconstituir esta força de trabalho e voltar a pô-la à disposição do capitalista. 

Um patrão sempre espera a melhor colaboração dos trabalhadores para as negociações do novo contrato coletivo; reunia-se com os representantes dos empregados para acordar novas tabelas de salários e nas restantes condições de trabalho, e espera que “tudo corra bem, com grande calma e pacificamente”. 

Por seu turno, em geral, os trabalhadores sempre reivindicam sob o argumento que no ano anterior, os preços subiram, por exemplo, 30% e os salários só 10%. Que suas condições de vida são cada vez mais difíceis, o seu poder de compra é cada vez menor. 

Em resposta, os patrões contra-argumentam frequentemente que os compreendem perfeitamente, mas, que os “tempos estão difíceis”, e que estamos passando por uma situação de “crise como nunca tinham estado antes”. 

Porém, antes, quando não falavam tanto em crise, as condições de vida dos trabalhadores sempre foram difíceis e os capitalistas sempre arranjavam razões para se oporem a melhores salários. 

Diante disso, os capitalistas afirmam que as queixas dos trabalhadores são porque os preços sobem e por outro lado querem maiores salários. Se salários sobem, os custos de produção também sobem, e aí, novamente, sobem os preços como se fosse uma espiral. 

Entretanto tal ideia é errada. Um aumento dos custos não necessariamente implica automaticamente um aumento de preços, Isso seria assim se fossem só essas as componentes do preço, mas não é isso que se passa: 

Preço = salário + capital constante —‘salário + capital constante + aumento de salário 

O que passa nos preços, para além dos custos de produção, já está incluido o LUCRO, coisa que capitalistas nunca consideram porque se convencem que ganham dinheiro nas trocas. Os trabalhadores, com o seu trabalho, acrescentam mais valor transformando os objetos de trabalho em novos bens. A distribuição dessa mais-valia, proporcionalmente ao capital que cada um dos capitalistas avançou dá o seu lucro. Os preços são assim compostos: 

Preço salário + capital constante + lucro 

Portanto, não é necessário que os preços subam quando os salários sobem. Em vez de fixarem os preços assim: 

Preço = salário + capital constante + aumento de salário 

Podem fazer assim 

salário + capital constante + lucro final ( = lucro inicial - aumento de salário) + aumento de salário
Diminuindo os lucros dos patrões. Mas isso eles não querem. Da forma anterior, já não precisavam aumentar os preços, e, entretanto, as condições de vida dos trabalhadores só pioram. 

Os capitalistas ainda podem afirmar que também sofrem com a carestia da vida. Que os preços são iguais para toda a gente. 

Entretanto o que os trabalhadores ganham em média lhes dá para viver, e, às vezes, sabe-se lá como. Para muitos deles, uma ida ao cinema, um livro ou um bife é quase um luxo. Os patrões ganham muito mais e os aumentos de preços fazem aumentar também os seus lucros. No mínimo, os trabalhadores não podem deixar piorar a sua situação. E eles querem melhorá-la, tanto quanto é possível na sociedade atual. 

Mas tal postura é encarada pelos patrões como um comportamento negativo da parte dos trabalhadores e dos seus sindicatos, podendo ter “efeitos prejudiciais nas negociações e na estabilidade social”. E comum, por parte dos patrões, solicitar que os trabalhadores “abandonem as suas atitudes rígidas”.

Atitudes rígidas? Os trabalhadores é que tudo produz, é que estão numa atitude rígida? Os patrões deveriam diminuir os seus lucros, organizem que o trabalho dos trabalhadores possam ser mais produtivo. Os trabalhadores não desistem, estão unidos e na sociedade dominada pelos patrões, lutam também por melhores condições. Mas não só... 

DESVALORIZAÇÃO DA FORÇA DO TRABALHO 

Ao desenvolver-se a técnica e ao aumentar a produtividade do trabalho, diminui a quantidade de trabalho necessário para a produção de bens de consumo e aumenta, concomitantemente, a quantidade de trabalho adicional — o sobretrabalho ou trabalho suplementar. À medida que progride a técnica e o trabalho se torna mais produtivo, nos ramos produtores dos bens de consumo ou dos meios de produção a eles ligados, opera-se uma descida de valor da força de trabalho e a um aumento de mais-valia, fato que traduz a tendência fundamental de desenvolvimento do modo de produção capitalista. O salário, como preço que é da força de trabalho, distingue-se dos preços das outras mercadorias. Enquanto os preços destas, na sociedade capitalista, oscilam em torno do valor, para cima ou para baixo, sob a ação da oferta e da procura, o preço desta mercadoria específica que é a força de trabalho acusa a tendência para se desviar do valor ficando abaixo dele. No capitalismo a oferta da força de trabalho é, regra geral, superior à procura. 

O proletário não pode demorar a venda da única mercadoria que possui, esperando por condições mais favoráveis no mercado do trabalho. O aumento do desemprego forçado nas cidades e a superpopulação agrária no campo contribuem para acentuar a discordância existente entre o valor da força de trabalho e o preço pago por ela. 
Um capitalista pode perguntar-se sobre “a quantas anda” sua taxa de lucros, e por quê - por ventura 
—o seu crescimento é inferior ao do ano anterior, isto é, que cresce mais lentamente que antes. Obviamente, caso ocorra e identifique, que fará rapidamente qualquer coisa. 
De maneira comum, primeiramente consultará e exigirá aos seus empregados da administraço propostas, por um lado, e, por outro, observará se suas outras empresas ou as concorrentes do mesmo ramo têm um crescimento da taxa de lucro na mesma percentagem do que a sua. 
Em seguida, o resultado do exame da situação e das possibilidades de solução sempre recai sobre um foco: a duração da jornada de trabalho dos empregados é fixa já muito tempo, não podem os capitalistas prolongá-la. Mas têm que descobrir maneiras de aumentar os lucros dentro dessa restrição que lhes foi imposto Poderiam pagar menos aos empregados mas se arriscariam a greves e isso não lhes convêm nada. 
Os capitalistas dc um modo geral, já não têm força para baixar os salários. Os trabalhadores já têm uma história de luta muito antiga; há os contratos coletivos, os sindicatos, os direitos trabalhistas, etc. Mas há outras maneiras: se os preços dos meios de subsistência subirem mais rapidamente que os salários monetários, os salários reais descem. Com o mesmo dinheiro compra-se uma quantidade menor de meios de subsistência. 
A solução é elevar os preços e impor a contensão os salários. Assim se impes a desvalorização da força de trabalho. Reduz-se, portanto, o trabalho necessário e aumenta-se o sobre-trabalho. 
Para fazer isso é preciso fazer com que o tempo de trabalho necessário a produção de cada mercadoria seja menor, Na prática é resolvido se puder numa hora fabricar 10 casacos em vez de 5, produzem uma quantidade muito maior. Os capitalistas têm, portanto, que aumentar os ritmos dos operários e introduzir máquinas mais modernas. Podem baixar um pouco os preços, vender mais e ultrapassar os seus concorrentes. 
Quando isso se verifica no setor que produz meios de subsistência o efeito sobre o valor da força de trabalho é imediato: se essas mercadorias valem menos tempo de trabalho para produzir o equivalente à quantidade necessária para subsistir. Se tal se verifica no setor que produz meios de produção o efeito é indireto: as máquinas valem menos e, portanto o valor transmitido às mercadorias que a ajudam a produzir é também menor, 
E preciso que assim seja, especialmente nas fábricas que produzem o que os trabalhadores “precisam”. Mesmo que alguns dos capi1istas tenham lucros um pouco maiores, é um bom sinal, pois ganham todos. 

A MAIS-VALIA EXTRA

A mais-valia extra é uma variante da mais-valia relativa. Obtém-se nos caos em que certos capitalistas introduzem máquinas e métodos de produção mais perfeitos do que se aplicam na maioria das empresas do mesmo ramo. O capitalista consegue, assim, na sua empresas, uma produtividade de trabalho mais elevada que a média existente no ramo de produção de que se trata, Corno resultado disto, o valor individual das mercadorias produzidas na empresa deste capitalista é inferior ao seu valor social. Como o preço das mercadorias é determinado pelo seu valor social, resulta que o capitalista recebe uma taxa de mais-valia superior à dos seus concorrentes. 

Se um cientista faz uma descoberta sensacional, inventando uma lâmpada elétrica que pode durar 10.000 horas, enquanto as atuais só duram 5.000, um administrador ou um capitalista caracterizam como uma proposta que lhe quer arruinar, uma sabotagem. Porque venderia só metade do que vendem atualmente. 

Se um cientista, depois de muito trabalho, encontra uma nova máquina que aumenta 25% a produção de lâmpadas, será elogiado. 25% a mais significa que se a empresa diminuir o preço para desembaraçar-se da concorrência, ainda arrebanha uma parte de sobrelucro. 

O tempo de trabalho necessário para fabricar um produto — portanto, determinar o seu preço — é o tempo de trabalho social médio. Mas um empresário graças, por exemplo, a uma nova máquina, consegue produzir abaixo do tempo de trabalho social médio, apropriando-se, assim, de uma quantidade superior de sobretrabalho.
E claro, que isso só é possível, enquanto ele produzir abaixo da média, ou seja, enquanto os outros empresários não dispuserem dessa máquina. O administrador ou capitalista da empresa consegue isso proibindo a divulgação da nova tecnologia. 

A máquina 6 então construída e posta a funcionar. O nosso empresário passa a produzir com custos inferiores, o que quer dizer que para fabricar um produto é necessária uma menor quantidade de trabalho. Ele só vende um pouco mais barato para vencer os concorrentes e arrecada um sobrelucro. Isto tudo, enquanto a concorrência dorme. Pouco tempo depois, o segredo do cientista deixa de ser.
O outro empresário que passa a dispor da máquina nova diminui também o preço um pouco, etc, etc. E a tendência do lucro é para ser de novo igualmente proporcional para todos os capitalistas da indústria de lâmpadas. Até que de novo um cientista invente para a empresa um novo.

Há, contudo, qualquer coisa que não bate certo. A máquina, que o nosso capitalista fabricará e instalará tinha uma finalidade simples; o capitalista dispensa 100 trabalhadores, vende mais barato e, ainda, retiram uma. boa quantidade de sobrelucro. E, no entanto, há. algum tempo que os lucros não param de descer. 

Resumindo o pensamento do diretor racionalização (as novas máquinas que os colegas capitalistas ainda não têm) na fabricação de um produto, ou sei a, a necessidade de um menor tempo de trabalho. Pode-se dispensar trabalhadores e vender a mercadoria ao mesmo preço (ou até um pouco mais barato), e ainda assim o ganho aumenta. Apesar de tudo, este mar de rosas não dura muito tempo. O capitalista tem que de baixar continuamente os preços para vencer a concorrência. Mais cedo ou mais tarde, perde a vantagem sobre a concorrência. E. aí a sua situação é pior que antes do aparecimento da máquina. Mas o que se passou? Os outros empresários, também instalaram a máquina e conduziram o preço a seu verdadeiro nível (que depende do tempo de trabalho necessário). E o fim da. mais-valia extra.

Mas,. contado, o nosso empresário não está na mesma situação que antes da máquina.. Agora tem 100 trabalhadores a menos. As outras empresas já têm máquinas iguais as suas, produzem mais, vendem mais, têm maiores lucros.

É evidente que o nosso empresário tem de fazer trabalhar mais os que têm com ele, senão qualquer dia; não sabe como isto- vai acabar. Mas precisava de mais pessoal. Mas depois aparecem outras máquinas novas... 

Ao- continuar assim não sabe como- é que vai aumentar os- lucros. Cada vez há. máquinas melhores-, tem- que despedir mais pessoal. Se- é - para diminuir os lucros, então - não- vale-a pen& Se-calhar, qualquer dia, é- tudo automático... Mas o- capitalista pensa que não- precisa se- preocupar - primeiro, será necessário que passem muitos anos at que isto aconteça, e depois, sua classe arranja uma solução como nos anos 1930. 

Entretanto, tem que encontrar, seja lá como for, um outro sobrelucro. Tem que conseguir que eles trabalhem mais. Mas como? Eles não farão de livre vontade, e além disso, é ilegal. A menos que aceitem horas extraordinárias, turnos, etc, etc... (a geração de mais-valia extraordinária pelos trabalhadores dessa forma foi obtida em ternos absolutos, assim a chamamos de mais-valia absoluta).

O nosso capitalista tem uma idéia melhor, sem ter que se preocupar com o horário normal, porque não podem mexer. Mas, durante essas horas, os empregados vão trabalhar mais intensamente, mais depressa. E foi assim, que ele — não só ele, mas muitos outros capitalistas. Foram introduzindo máquinas cada vez mais rápidas, cadeias de montagem onde se faz sempre a mesma operação, etc.

Cada operário agora toma conta de duas máquinas em vez de uma, aperta 200 parafusos em vez de 100. Estão 8 horas na fábrica, recebem o mesmo e trabalham muito mais. O que chamamos a extração de sobretrabalho dessa maneira de mais-valia relativa, isto é, obteve-se mais-valia a mais relativamente à proporção do uso de capital variável (valor pago em trabalhadores). 

Além disso, isto traz ao capitalista outra vantagem. Produzindo com a máquina mais mercadorias no mesmo tempo, amortiza-a mais depressa. Assim, quando os seus concorrentes comprarem máquinas novas, já pode acompanhá-los com mais facilidade. Se, entretanto, não houver mais inovações técnicas, serão maiores os lucros deles. 

TODOS SE TORNAM EMPRESÁRIOS? 

Os ideólogos da burguesia afirmam que a extensão das sociedades por ações traz a democratização do capital. Preconizam de modo particular a emissão de pequenas ações, isto é, de ações de valor relativamente pouco elevado. Comprando essas ações, os trabalhadores se tornariam, em “coproprietários ‘ de pleno direito da empresa; a propriedade se descentralizaria, o capitalismo tomaria cores “populares” e “democráticas “. 

A/a realidade, os pequenos acionistas não estão em posição de exercer influência de peso sobre as decisões. Na assembleia geral cada um tem tantos votos quantas as ações que possui. Por isso, os verdadeiros donos de uma sociedade por ações são os que possuem muitos títulos, os grandes acionistas. Não se trata, de forma alguma, de uma democratizaçãõ do capital. Pelo contrárii, este tipo de sociedade permite que o grande capital submeta aos seus próprios fins os fundos acumulados pelos pequenos e médios capitalistas, assim como uma certa parte das economias da camada superior dos empregados e operários, contribuindo grandemente para o aumento do capital e para concentração da produção. 

É comum um trabalhador pensar em economizar em um pequeno patrimônio ou a investir seu dinheiro sem risco; daí associa a ideia aos anúncios que afirmam poderem ter certas facilidades para poderem comprar ações das empresas onde trabalham. Junto com a ideia que se tornam também proprietários da sua empresa, assim, os empresários supostamente dividiriam os lucros com os trabalhadores.

Vamos refletir um pouco. Nosso trabalhador não percebe o que significa para si poupar com sacrifício das suas necessidades e de sua família. Ele deposita seu dinheiro no banco que o vai pôr a disposição dos capitalistas, que com esse dinheiro, aumentam a empresa, ou racionalizam-na, ou seja, reduzem o tempo de trabalho necessário. Com as suas economias contribuí também para intensificar a exploração. Em troca, ele recebe uns juros ridículos que não cobrem sequer a desvalorização provocada pela inflação. 

E enquanto as ações? Os capitalistas não se preocupam com os trabalhadores. De um lado, estão os que trabalham, do outro, os que se apropriam do fruto deste trabalho: esta é a essência do capitalismo. E a situação não se modifica, mesmo que o nosso trabalhador possua alguma dessas ações. E de onde que virão os dividendos que ele receberá? Vem do trabalho dele, ou melhor, da mais-valia que ele próprio produz. Por outro lado, o dinheiro recolhido graças a essas ações, assim como os seus depósitos numa caderneta de poupança serão utilizados para a sua exploração. 

E mesmo que utilizasse o seu dinheiro dessa forma, nunca conseguiria, nunca poderia comprar ações suficientes para viver do seu rendimento. Ele estará condenado a vender a tua força de trabalho durante a toda a vida. E a receber somente o valor dos meios de subsistência que lhe são necessários, e precisará desse valor para os meios de subsistência. 

Na verdade, tudo isto tem ainda uma outra vantagem para os capitalistas: os possuidores destas “ações populares” sentem-se um pouco como proprietários e passam a defender os capitalistas porque receiam perder o pouco patrimônio (ou melhor, o que eles pensam ser) que possuem. 

COGEsTÃo ou A “MIRAGEM” 

Cogerir significa gerir com. Com quem? Com os capitalistas? Que poderiam os trabalhadores co-gerir com os capitalistas? A exploração dos trabalhadores? A concentração capitalista? 

Reivindicar a cogestão significa o mesmo que pedir aos grandes senhores do capital e das finanças que renunciem por si próprios ao seu regime, que partilhem a riqueza, o poder com os trabalhadores. Mas a própria ideia de luta de classes torna tal fato contranatural e impossível. 

Uma outra vigarice é a promessa da gestão permitir a participação dos trabalhadores. Não é um pedido de “colaboração” pela administração. Porque não pode haver nenhuma cogestão no sistema capitalista. 
Precisamente porque os interesses dos trabalhadores estão em oposição com os dos empresários. Eles só pensam em realizar os maiores lucros possíveis. Extrair dos trabalhadores tudo o que puderem; dar-lhes o mínimo e fazer-lhes trabalhar o máximo. E os trabalhadores querem, enquanto tiverem que trabalhar para os capitalistas, pelo menos, ir melhorando a sua situação. 

Mas nessa associação, eles não poderiam chegar a um acordo? Não! E se o fosse seria assim: “Os representantes dos trabalhadores votaram um aumento de salário de 30% e a redução do tempo de trabalho para 40 horas semanais. Assim a proposta foi aceita e entra imediatamente em vigor”. E claro que não seria assim, o que se passaria será ilo: “Eu — o capitalista — quero exprimir o meu total desacordo coma atitude obstinada dos representantes dos trabalhadores, em não aceitarem a nossa generosa oferta de 3,5%! Devo acrescentar que a administração não está disposta a recuar! Esta é nossa última proposta!”. 

Como os trabalhadores querem participar nas decisões? Vão discutir as formas dos capitalistas os explorarem melhor? Sendo assim nunca poderá haver cogestão... Só resta a luta de classe. E será o mais forte que vencerá. 

Os trabalhadores devem impor o seu controle para mais tarde gerir todos, coletivamente e democraticamente, não só a fábrica mas toda a sociedade.

A Acumulação PRIMITIVA 

A produção capitalista pressupõe duas condições fundamentais: a existência de uma massa de pessoas que apenas dispõem da liberdade pessoal e simultaneamente sem meios de produção e de existência, o que os obriga a contratarem-se e a trabalharem para um capitalista; e a acumulação nas mãos de uns quantos das riquezas em dinheiro necessário para criar as grandes empresas capitalistas. 

Para que tivesse surgido o modo de produção capitalista, para que se formassem as classes dos trabalhadores assalariadas e dos capitalistas exploradores do trabalho dos operários’, teve de ter lugar (e assim aconteceu) um processo histórico durante o qual o produtor direto se viu despojado dos seus meios de produção e separados deles. Este processo realizou-se pela ação das leis que são inerentes à produção mercantil e, em particular, pela ação da lei do valor. 

Há muito tempo, na fase final do feudalismo, de que já falamos, os camponeses viviam em pequenas courelas, tendo de pagar ao seu senhor não só uma renda, mas toda uma série de direitos senhoriais. A sua sorte não era invejável. Os proprietários das terras viviam das rendas que recebiam dos camponeses. 

O comércio marítimo desenvolveu-se e surgem no mercado produtos desconhecidos que os proprietários desejam comprar. Passam a exigir que as rendas lhes sejam pagas em dinheiro. Assim os camponeses são obrigados a vender as colheitas no mercado — os produtos tornam-se mercadorias. Por exemplo, em certas regiões começou a verificar-se um aumento da procura de tecidos. Isto levou ao desenvolvimento da manufatura das lãs. 

Como conseqüências os proprietários de terras, transformaram terras de cultivo em terras de pastagem. Fecharam as suas terras — os enclosures. A criação dos carneiros dava bons lucros, mas os senhorias sentiam necessidade de um número cada vez maior de boas terras dç pasto. Os  amponeses que ocupavam boas terras de pastagem foram expulsos dessas terras. Os senhores conseguiram aumentar os campos de pastagens expropriando os camponeses e ocupando mesmo terras comunais. 

Estes camponeses expropriados sem capital-dinheiro nem meios de produção, não têm outra alternativa senão vender-se no mercado contra dinheiro. São trabalhadores “livres”, “livres” de venderem a sua força de trabalho. Na realidade, não têm outra alternativa se querem sobreviver. 

Assiste-se, não sem recursos a violência a proletarização das massas camponesas que procuram trabalho nas manufaturas (forma inicialmente assumida pelo processo de produção capitalista). Aí deparam com um sem número de artesãos que tiveram que abandonar o seu oficio. Batidos pela concorrência que lhes foi feita pela manufatura. Também eles são obrigados a venderem a sua força de trabalho. 

E não só. Também a sua mulher e filhos têm de vender a sua força de trabalho, o que leva a que o capitalista pague menos (o valor da força de trabalho de cada um diminui) — oferta maior que a demanda... 

Por este processo realiza-se um duplo movimento fundamental a implantação do modo de produção capitalistas - acumulação de capital-dinheiro e de meios de produção nas mãos da classe capitalista nascente —‘ aparecimento do “trabalhador livre”, desprovido de meios de produção a quem só resta vender-se no mercado contra dinheiro — trabalhadores assalariados

A ACuMuLAçÃo 

O processo de reprodução deve ser contínuo para que a sociedade possa existir. Quer dizer que, quando as mercadorias são vendidas, é preço que uma quantidade suficiente de dinheiro seja utilizada na compra dos meios de produção e da força de trabalho para continuar a produção. Este encadeamento regular e necessário das diversas fases da produção constitui o fënômeno da produção. 

Uma parte da mercadoria vendida representa a mais-valia, Se esta mais-valia é inteiramente gasta pelo capitalista em seu uso pessoal, para continuar a produção ele disporá de um capital igual ao que dispunha inicialmente. Neste caso, a reprodução diz-se simples, em oposição à reprodução ampliada que se produz quando uma parte da mais-valia é destinada ao dono da produção; diz-se então que há acumulação. 

“Era um vez ... um rico comerciante... aos seus serviços navios cruzavam, os 7 mares, e ele tornava- se cada vez mais rico; só tinha um problema; o que fazer com todo aquele dinheiro? Até que um dia... 
um mercador e comprou-lhe 100 ducados de algodão, alugou urna casa e adquiriu 3 teares. 

Mal havia acabado de reunir tudo isto, começaram a aparecer muitos camponeses expulsos das suas terras, ele contratou 3 — os mais fortes  por 30 ducados; ou seja 90 ducados total. 

.até então ele tinha gasto 190 ducados. 

Algum tempo depois o algodão fora já todo gasto e no seu lugar, ao lado de cada tecelão, encontravam-se 2 peças de tecido. 

Um comerciante lhes compra os tecidos por 300 ducados. O nosso empresário fica todo satisfeito. Destes 300, ele ganhará 110. Mas destes, èle não consome senão uma pequena parte. Para começar, dedicou 50 ducados para a ocupação dos tempos livres. 

Isto não quer dizer que todos os empresários sejam assim, alguns, por exemplo, poupam até os trocados, para ganhar mais.

Encorajado pelo seu sucesso, o nosso empresário investiu o resto do dinheiro outra vez. Ele volta ao mercador de algodão e desta vez compra-lhe um terço de algodão a mais que na primeira vez, pagando-lhe então 130 ducados. Além disso, desta vez, contra um quarto trabalhador; para os 4 são: 4 x 30 = 120 ducados. 

Assim os 300 ducados foram consumidos. E agora recomeça tudo. E então algum tempo depois foram fabricadas na sua pequena oficina 8 peças de tecido. Volta ao mercado: são 8 peças são 400 ducados. 
Assim ele que tinha começado com 190 ducados tinha já 400. É claro que não ia parar agora que corria tudo tão bem. Desta vez, ele tinha ganho 150 ducados em vez dos 110 da primeira vez e o negócio continua... 

CAPITAL, CRISE E CONJUNTURA 

A passagem revolucionária do capitalismo ao socialismo é o resultado lógico da evolução da sociedade. Tal transição estende-se necessariamente por um longo período, marcado pela luta entre o capitalismo e o socialismo. E o período de crise geral do capitalismo. 

A Primeira Guerra Mundial e a Revolução de Outubro desencadearam a crise geral do capitalismo. A revolução socialista na Rússia abriu a primeira brecha na frente imperialista e pôs em ccrnsa o seu JiÍ uro. Deu início à revolução socialista mundial. Apesar da sua reversão ao capitalismo pelos países que haviam trilhado o socialismo, o caminho continua dado, sua possibilidade e necessidade histórica prosseguem. 

Como consequência do processo de acumulação o capital social geral, não somente cresce continuamente, mas m’ida igualmente de composição. 

A acumulação pode fazer-se, de uma forma primária, ao nível quantitativo: a produção aumenta com base num mesmo nível tecnológico; é preciso um maior número de trabalhadores. Esta acumulação também pode ser qualitativa. Assim, as máquinas desatualizam-se. Então se substituem as velhas por outras novas, mais rentáveis.

Portanto com melhores máquinas a produção aumenta. No conjunto seriam precisos menos trabalhadores. Mas os capitalistas investiram mais e tem de haver um acréscimo da força de trabalho ernpteguè, porém esse acréscimo do capital variável é menor que o crescimento do capital constante.

Forma-se assim neste último caso um “exército de reserva” de trabalhadores. Este fato é explorado pelos empresários para fazer pressão sobre os salários do trabalhâ, ‘de forma que uma parte dos trabalhadores está condenada. à inatividade, enquanto que a outra é obrigada a um trabalho cada vez mais intenso. A única .coisa que o capitalista tem a dizer aos empregados é se o salário é muito baixo ou que há qualquer coisa que não agrada, pode-se ir embora; já centenas de pessoas esperando pela vaga. 

Quando há desemprego (excesso de mão-de-obra), os patrões atiram os trabalhadores uns contra os outros. Tentam dividi-los, pondo frente a frente empregados contra desempregados. A custa dos trabalhadores, em momentos de crise, os patrões procuram restabelecer os seus lucros. 

Para os patrões os trabalhadores não têm nada que protestar. Os problemas segundo eles não são seus. Se investem mais, criam mais postos de trabalho, mas como não há mão-de-obra de reserva, eles têm de aumentar os salários e lá se vão seus lucros. 

Mas os capitalistas não têm o que se queixar. Para eles esgotarem a mão-de-obra de reserva, é porque investiram e esperam ganhar muito. E já ganharam bastante nas fases anteriores. Além disso, se os lucros seus começaram a descer um pouco, eles sabem muito bem como vão corrigir isso. Nunca ficaram pobres na fase de expansão. 

Quando os salários forem altos, os capitalistas compram novas máquinas. Atualmente, já não há grandes diferenças entre as crises e as fases de expansão. Os capitalistas mantêm o desemprego e a pressão sobre os salários e a economia não cresce o suficiente nem se transforma qualitativamente. Só a inflação ou desemprego são permanentes e as condições de vida dos trabalhadores pioram. 

Isto assim, nunca se resolve. Os capitalistas tomam a crise constante. Se dentro do sistema capitalista houvesse hipóteses de saída da crise seria sempre a custa dos trabalhadores: repressão, piores condições de vida, etc. Por isso é que os trabalhadores têm de se unir todos. Porque para eles, sair da crise é sair do sistema capitalista. 

Os trabalhadores não podem permitir que, mais uma vez, sejam eles a sofrer os efeitos da reestruturação capitalista. Têm de ter noção das dificuldades: nunca a situação objetiva foi tão propícia face as dificuldades têm de se unir, os trabalhadores. 

Sabendo quais as reivindicações que os unem. Unir os empregados e desempregados da cidade. E do campo - estes são os seus companheiros na revolução. Unidos vencerão. 

Têm de dar toda atenção às suas reivindicações, especialmente às salariais. Têm de pôr em causa a estrutura e orientação do sistema produtivo, de modo a fazê-lo satisfazer as necessidades sociais, recriar hábitos coletivos em vez dos individuais. Têm de lutar por habitação, transportes eficientes, etc. 

Têm de lutar por viver de maneira diferente, contribuir de todos os que se opõem a este sistema (mulheres, negros, minorias nacionais, homossexuais, etc), unidade em que todos possam exprimir os seus, objetivos próprios. O poder democrático dos trabalhadores, o socialismo. 

E esse o único caminho para a libertação de toda a sociedade, para a nossa própria libertação, para uma sociedade sem exploradores nem explorados, sem trabalho assalariado nem capital. Um estado sem classes, ou seja, o verdadeiro caminho para o comunismo. 

(*) artigo originalmente escrito em 2006 e a partir de enxertos de O Capital e livros introdutórios sobre. A disposição dos tópicos não obedece a ordem de temas do livro. O objetivo era servir de material didático a turmas de Sociologia, Economia Política e Introdução à Economia. Não substitui a leitura de O Capital ou de curso específico sobre o livro.

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