segunda-feira, 25 de maio de 2020

Economia não é uma ideologia, ao menos em sua crítica marxista

por Almir Cezar Filho

Economia não é uma ideologia, ao menos em sua crítica marxista. O Marxismo sistematizou-se e consolidou-se através da análise da realidade e da crítica aos produtos teóricos de outras correntes epistemológicas e políticas. De tal modo que, o acervo das obras marxistas principais constituiu-se ao sabor e como resultado de uma incessante polêmica no terreno da luta teórica.

Mas, convém lembrar, o debate não se limitou apenas ao choque entre correntes de pensamento antagônicas. Ele se verificou no interior do próprio marxismo, como luta de opiniões no esforço coletivo de interpretação e transformação da realidade. Esse esforço, só é possível enquanto perdurar nas fileiras marxistas uma rigorosa coerência com as categorias básicas do materialismo dialético.

A contribuição da Economia ao exercício do poder pode ser denominada a sua função instrumental – instrumental no sentido de que não serve à compreensão nem ao aprimoramento do sistema econômico, mas serve às metas dos que detêm o poder no sistema.

A Economia não é essencialmente uma ciência expositiva, também serve ao interesse econômico controlador. Cultiva crenças e com elas, o comportamento que esse interesse requer. A Economia leva hoje, mais do que nunca, os economistas a conclusões favoráveis à grande empresa, mas desfavoráveis à sociedade.

Uma concepção da finalidade do sistema econômico acompanha uma concepção da finalidade da Economia. Enquanto se imagina que o sistema econômico está fundamentalmente a serviço do indivíduo – subordinado às suas necessidades e as suas escolhas – pode supor-se que a função da Economia consiste em explicar o processo pelo qual o indivíduo é servido. A Economia proporciona às pessoas a imagem que elas têm da sociedade econômica. Essa imagem lhes afeta de maneira notável o comportamento – e a maneira com que encaram as organizações que constituem o sistema econômico.

As imagens mentais da escolhas têm um efeito mais importante. Significam que as escolhas, - as decisões de comprar este produto e rejeitar aquele – reunidas, controlam o sistema econômico. E se a escolha do público é fonte do poder, as organizações que constituem o sistema econômico não podem ter poder. São meros instrumentos a serviço da escolha. Coube e cabe a Economia a implantação dessa imagem, persuadindo as pessoas de que as metas do capital, na realidade, são as suas próprias metas ou preparando o caminho para uma persuasão desse tipo. Uma imagem da vida econômica que fizesse das pessoas instrumentos das metas do capital seria muito menos útil ou conveniente. 


O Marxismo

O Marxismo não se constitui como uma ciência própria, nem tão como uma "escola" a cada uma das ciências. Funda-se como uma construção alternativa nas ciências (e não alternativa à Ciência), especialmente as ciências sociais e humanas (mas não somente). Inclusive negando a compartimentalização, a departamentalização, de base positivista, que sedimenta a atuação academicista das ciências na contemporaneidade. Busca-se a interpretação do real, e não do idealizado, a partir dos fundamentos dos sujeitos e das relações, e da totalidade que estes se inserem. 

Marx (e Engels) quando construía O Capital e suas obras antecedentes, classificava-a como "crítica da Economia Política". A Economia Política era o núcleo duro da Economia. Marx não classifica a sua produção teórica como "antieconomia" ou Economia Política "dos proletários", muito menos como Economia Política de Marx (marxista). Não a nega, ao contrário do que faz, por exemplo, os ícones da ultradireita,  von Mises e a Escola Austríaca, que pretendem negar toda a Ciência Social, inclusive a própria Economia, fundando sem nenhuma base científica uma tal de Praxeologia.

Assim, do ponto de vista teórico, as controvérsias marxistas da sua crítica da Economia Política (principalmente, as crises cíclicas e estruturais, a transformação nas formas do capital e a regulação da produção) não são resolvido pelo seu estudo independente, quer dizer nela própria, mas conjuntamente com as análises da teoria marxista da História e esta pela teoria da Revolução, e num círculo virtuoso, na teoria da Economia Política. 

Enfim, a solução da crise social, ao ponto de vista marxista, passa pela superação do modo de produção capitalista, superação que se dá pela ação consciente da classe trabalhadora, quando esta supera sua consciência capitalista, e se põe a edificar um novo modo de produção, a partir do controle dos meios de produção existentes na sociedade.

Metodologia realística-crítica

Por essa razão o significado mobilizado pelos vários teóricos marxistas e a correspondente difícil tarefa de análise foram considerados como problemas metodológicos a serem solucionados pelo pesquisador na prática da pesquisa. Essa posição reflete de fato um problema crucial em pesquisa social: de uma forma ou de outra a relação entre pesquisador, pesquisa e pesquisado é permeada por motivos políticos e ideológicos. 

Embora reconheçamos que os experimentos em ambientes sociais não possuem as mesmas características de "controle" como nos ambientes naturais, o realismo crítico sustenta que a investigação deve começar pela perspectiva dos agentes. O principal argumento é que as "estruturas sociais, diferentemente das estruturas naturais, não existem independentemente da concepção dos agentes do que eles estão fazendo em suas atividades". 

O realismo crítico é uma versão do realismo, largamente decorrente do trabalho de dois filósofos da ciência social contemporâneos: Roy Bhaskar e Rom Harré. O realismo crítico, entendido como epistemologia alternativa ao domínio nas ciências, principalmente nas ciências sociais o método positivista, baseia–se em três argumentos básicos. 

Primeiro, a realidade a que as teorias científicas primariamente objetivam referir–se é constituída pelas estruturas e mecanismos do mundo, ao invés de eventos empíricos. As estruturas são definidas como conjunto de objetos internamente relacionados e os mecanismos, como formas de agir. Os objetos estão internamente relacionados em uma estrutura no sentido de que sua identidade depende da relação deles com outros componentes da estrutura. 

Segundo, as estruturas e os mecanismos subjacentes são apenas de modo contingente relacionados a eventos empíricos observáveis. 

Terceiro, o conhecimento científico da realidade social nunca é desprovido de erros, embora ainda seja possível obter conhecimento por meio da construção criativa e teste crítico de teorias. 

Os realistas críticos argumentam que a descoberta não é um conceito neutro ou "natural". Eles argumentam que a natureza do que existe, ou do que supostamente existe, não pode ser desvinculada de como ela é estudada. 

Uma questão central é que pesquisadores em geral não elaboram a respeito da importância dos conceitos usados para descrever a realidade nos seus relatos. É provável, então, que os significados de ações e eventos observáveis sejam dados por pesquisadores ao invés de pelos próprios praticantes. Isso reproduz a chamada crise de representação em pesquisa social. 

Dessa forma, os conceitos não devem receber significados pelo papel que possuem em um dado referencial teórico porque isso significa que as teorias precedem a observação. Além disso, concorda com o argumento de que "os resultados de pesquisa social científica possuem potencial para influenciar os próprios objetos de investigação". 

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