sábado, 28 de março de 2020

#Coronavírus | Por um plano de abastecimento emergencial. Não ao fim do isolamento social

Por Almir Cezar Filho*

O isolamento social segue sendo recomendado pelos especialistas em saúde como a principal medida imediata mais eficaz de combate à pandemia pelo novo #coronavírus. Precisamos convencer as pessoas disso. Mas há implicações econômicas urgentes em decorrência da suspensão das atividades. Porém, um dos principais argumentos a convencermos a prosseguir é manter o abastecimento dos itens de primeira necessidade pela montagem de rede alternativa, enquanto durar a emergência.

Além do aspecto da destinação dos recursos necessários às ações diretas de combate a #pandemia, há a questão de se prover de renda provisoriamente aos trabalhadores parados e um fluxo de caixas continuado aos estabelecimentos com atividades não essenciais suspensas. Mas também há a questão da preservação da produção nos setores essenciais e a conservação da rede de distribuição dos produtos básicos e dos usados nas ações de saúde.

Há dias parados, já se sente uma pressão de setores da população e de uma vasta gama de empresários exigindo a volta ao trabalho. Aqueles que estão mais angustiados com a sua renda e com medo de carestia, insistirão na lógica de  "volta à normalidade" e pelo encerramento do isolamento social. Sem um plano de abastecimento emergencial às pessoas acabam vítimas da chantagem e da campanha do bolsonarismo.


Bolsonaro lança essa campanha não para defender os pequenos empresários, comerciantes ou trabalhadores autônomos. O faz para defender os interesses inconfessáveis de grandes empresários e banqueiros, que não querem que parem as indústrias ou os seus negócios porque assim cessa seus lucros.

Só que nosso grande dilema é que o governo federal, com o presidente Jair Bolsonaro a sua frente, que deveria desenvolver esse plano em questão, não o quer, justamente pra fomentar o encerramento da quarentena, alimentando a pressão social para esse fim. Na verdade, as pessoas dão/darão razão ao governo, exatamente por uma situação criada por ele.

Se prosseguir assim, dificilmente os governadores e prefeitos suportarão tamanha pressão... Inclusive do empresariado - base social e financiadores dos políticos.

Mas devemos seguir insistindo na exigência da implantação de uma imediata política de abastecimento emergencial. Até porque, além da questão sanitária (e sem a quarentena,  posterga-se a reação da economia) a política de "portas abertas" do comércio e "volta à normalidade", não garante o restabelecimento do abastecimento e de geração renda aos microempreendedores e trabalhadores autônomos.

A economia já não está como antes. E já não vinha bem antes. Logo, é autoilusão que "tudo voltará a funcionar" com a mera reabertura do comércio e à volta ao trabalho. Vários setores acabaram comprometidos com a paralisação, com impactos em cadeia.

Por sua vez, sem a quarentena, e com número de mortes a explodir, como acontecer na Itália (que no início parou, depois liberou em defesa da economia, e depois veio à tragédia), haverá em algum momento no futuro uma volta atabalhoada pelo isolamento social, só que em condições muito piores. E, especialmente, quando os contaminados começarem a cair de cama, não haverá quem produzir ou vender, nem comprar. O pânico e histeria que o bolsonarismo diz combater se instalará de verdade, nem nenhum controle possível.

Também é ilusão pensar que o abastecimento seguirá normal bastando manter alguns setores classificados de "essenciais" funcionando, como se não fossem impactados em nenhuma medida com a suspensão de outros e com a quarentena de parte da população.

Por isso, que se precisa urgentemente montar pelo Poder Público uma rede de abastecimento alternativo. Ela seria constituída com um sistema de compras junto aos produtores, com caminhões com motoristas e trabalhadores com EPIs (equipamentos de proteção individual), barreiras sanitárias nas rodovias e centros de distribuição (gratuita ou a preço de custo) de alimentos , medicamentos, insumos essenciais, etc.

E ainda, que se coordene a abertura exclusiva de fábricas e estabelecimentos essenciais para o abastecimento de apenas o necessário à calamidade pública. Como também, a contratação emergencial dos desempregados para as ações de abastecimento ou para as unidades de saúde que receberão os doentes.

E se mesmo assim o Poder Público não fizer, provavelmente teremos que desenvolver um plano popular autônomo de abastecimento. Sem o governo e por fora dos empresários.

Os movimentos sociais e as entidades sociedade civil organizada devem auto-organizar essa rede de abastecimento e de autogestão do funcionamento da produção e distribuição de bens e serviços essenciais.

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(*) Almir Cezar Filho é economista, membro da redação da ANOTA e titular do programa Economia é Fácil da WebRadio Censura Livre.

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