Fatos & Comentários | jornal Monitor Mercantil, 10 abr 2017
Os bancos receberam cerca de R$ 200 bilhões ano passado em remuneração sobre a sobra de caixa, o que o Banco Central chama tecnicamente de “operação compromissada”, em que retira de circulação o dinheiro que fica no caixa das instituições financeiras e os remunera com as mais altas taxas de juros do mundo. A explanação, com tom indignado, foi feita à coluna pela coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívia, Maria Lucia Fattorelli. Ela mostrou que o BC brasileiro não só abriu mão do instrumento de emitir moeda como tem enxugado todo e qualquer volume que ultrapassa 5% do PIB. Em outros países com economia comparável à nossa, o dinheiro em circulação chega a 40% do PIB, sem que isso implique inflação. Hoje, o volume acumulado por essa operação, também chamada de “mercado aberto”, com juros pagos religiosamente toda noite, ultrapassa o R$ 1 trilhão.
Maria Lucia Fattorelli explica que, além de sugar os cofres públicos, reduzindo investimentos, gastos sociais, em educação e tantos outros dos quais o Brasil é carente, esse mecanismo operado pelo Banco Central leva à alta dos juros cobrados pelos bancos aos clientes. As instituições preferem ficar confortavelmente recebendo juros que elas mesmas ajudam a fixar do que emprestar dinheiro para o setor produtivo. Remuneradas pelo BC, sem riscos, por que se aventurariam a financiar empresas? Somente com taxas proibitivas, como as oferecidas por um bancão a uma pequena empresa que buscava um capital de giro de curto prazo (três meses) de R$ 50 mil. Só de “taxa de abertura de crédito”, seria cobrado R$ 1,5 mil (3% do empréstimo). Somada aos juros da operação, IOF e outros penduricalhos, o custo efetivo total (CET) montava a espantosos 14%! Ao mês! A pequena empresa achou mais em conta recorrer ao agiota da sala vizinha…
Custo BC
Para o diretor de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, o BC reduzirá a taxa Selic em um ponto percentual, para 11,25% ano. A Associação dos Executivos de Finanças divulgou um estudo comparando como seriam os juros de “mercado” se a Selic estivesse em 7,25%, como era em março de 2013, quando começou a escalada de juros que só seria invertida em outubro do ano passado.
Os juros do comércio seriam de salgadíssimos 60,1% ao ano; com a Selic a 12,25%, como está agora, a taxa esbarra em 98,5%. Financiamento de veículos (uma das mais baixas), de 19,84% para 31,37%; empréstimo pessoal, de 41,09% para 71,15%; cheque especial, de 144,09% para 306,63%; cartão de crédito é campeão: de 192,94% pula para 444,03%.
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