Bate-boca público entre Reinaldo Azevedo e Joice Hasselmann, expoentes na nova direita,
demonstra que está em disputa um espaço limitado e declinante
demonstra que está em disputa um espaço limitado e declinante
Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 21
Por Almir Cezar Filho
Joice Hasselmann, a “musa do impeachment”, gravou um vídeo questionando as mudanças radicais na postura de Reinaldo Azevedo, cobrando coerência, expondo a necessidade de insistir nas pautas daquelas antigas manifestações que derrubaram o PT, estranhando o fato de que o ex-colega da Veja, agora, só faz atacar o MBL, a Lava Jato, Sergio Moro e as manifestações. Joice dividia a bancada da extinta 'TV Veja'. Os dois são da imprensa de direita. O episódio demonstra o quanto não está se vivendo a tal “onda conservadora”.
Reinaldo não gostou e desceu o nível em um vídeo de 24 minutos de bombardeio. Chamou Joice de desinformada, desqualificada, preconceituosa e arrogante. De maneira machista, ele ainda sugeriu que a ex-colega teria usado o corpo para ascender profissionalmente. “Antes de eu te conhecer, achei que a loira do banheiro fosse ficção, agora sei que não é. Ela existe, é tipo um fantasma do bom senso, da inteligência, da clareza e da objetividade. Você (Joice) não é jornalista, entende? E quando você se comportou como uma, pegou textos que não eram seu”, disse, em referência aos já sabidos plágios de Joice Hasselmann.
Na tréplica, Joice anunciou que deverá levar Azevedo à Justiça. A ex-apresentadora da Veja disse também que pretende revelar, em breve, todos os podres de Reinaldo, que foi seu colega de trabalho durante anos. O também ex-colega de Veja Rodrigo Constantino colocou lenha na fogueira. Afirmou que a briga não se trata de "direita vs. direita, mas de direita, representada por Joice, versus PSDB", representada por Azevedo.
O episódio demonstra o quanto não está se vivendo a tal “onda conservadora”. Um interlocutor até pode sugerir para rebater que o bate-boca demonstraria que há uma tentativa de "surfar" melhor que o outro. Mas se for verdade, se for uma disputa de cume (crista) da onda, analogamente brigas e rachas na Esquerda devem se dar então sob um momento de uma “onda progressista”? Mas não é o que acontece. Em geral, os rachas, distensões e polêmicas encarniçadas aumentam de tom justamente em momentos de intensificação da disputa por espaço e/ou quando se começa a “bate-cabeça” diante de cenários pouco claros.
O colunista de Veja, Reinaldo Azevedo, que já vinha se dedicando a atacar a Lava Jato, agora partiu para o ataque a jornalistas que não aplaudem tucanos. Se antes os alvos foram Cláudio Tognolli e o site O Antagonista, agora ele usou um programa de vídeos da rádio Jovem Pan para fazer insinuações pessoais contra a jornalista Joice Hasselmann, que publicou um livro sobre a Lava Jato e é entusiasta das investigações que devem levar políticos e jornalistas comprometidos ao banco dos réus.
Reinaldo Azevedo é um virulento colunista político. Seu alvo principal foi a esquerda, o PT e o governo Lula e Dilma. Popularizador de expressões como "petralha" e "esquerdopata", e de falsas associações entre fascismo e marxismo. Defensor de privatização, das desregulamentações e do livre-mercado. Sempre simpático com os políticos de centro-direita não aliados do Lulopetismo, especialmente o PSDB. Sem em base a uma mistura de esnobismo intelectual com emprego de uma retórica grosseira, dialogando com o senso comum tipico da classe média alta brasileira.
Durante anos de verdadeiro bate-bola com toda um naipe de outros "jornalistas" e comentaristas da mídia e de internet do mesmo tipo, especialmente durante a crise política e o impeachment, agora passou a atacar todos. Gravava vídeos e escrevi artigos elogiando figuras dessa nova emergente direita brasileira. Agora, não se cansa de bate-boca publicamente. Todos viraram desafeto e tachados pelo mesmo de "direita xucra", como se fossem ignorantes e incultos e classificados mais à direita que ele próprio.
Curiosamente, o próprio Reinaldo Azevedo sempre age similarmente ao que agora critica, mantendo o uso desses mesmo métodos. Não à toa que em outro ensaio da presente série, o enquadrei como um dos expoentes daquilo que chamo de "Olavismo Cultural". Não apenas como uma prática de orador público, mas como seguidor de uma vertente lógica (se é que há lógica nessa gente...) da pós-modernidade de direita.
Curiosamente, o próprio Reinaldo Azevedo sempre age similarmente ao que agora critica, mantendo o uso desses mesmo métodos. Não à toa que em outro ensaio da presente série, o enquadrei como um dos expoentes daquilo que chamo de "Olavismo Cultural". Não apenas como uma prática de orador público, mas como seguidor de uma vertente lógica (se é que há lógica nessa gente...) da pós-modernidade de direita.
O que há portanto, ao contrário, de uma onda conservadora, é que passado o auge do impeachment, e delimitado o espaço dessa nova direita, começou haver uma acirrada disputa pela hegemonia desse espaço. Primeiramente, no campo da direita, e da comunicação de direita, apesar de mais afeita à burguesia, também há disputa. E se há baixaria nas disputas na Esquerda, imagina na Direita, que não segue uma moral operária e/ou socialista.
Ninguém disputa um espaço em franca expansão. Se há uma disputa Embora ainda seja atrativo suficiente para instigar aos competidores à disputa, é porque o espaço encolheu ou estagnou, ou ao menos está próximo disso. Portanto, se verifica que essa nova direita passa por um momento de consolidação, e se houve algum auge à sua pauta e ressoar de sua agenda junto a opinião pública, esse momento passou ou estar preste a acontecer.
Por isso, é que se passou há de um cenário de frequentes "bate-bolas" cordiais entre os expoentes dessa nova direita, para polêmicas vazias e ruidosas. Azevedo versus Rodrigo Costantino, Azevedo vs. Kim Kataguiri, Constantino vs. Olavo de Carvalho, Olavo de Carvalho vs. Diogo Mainardi, Mainardi vs. Azevedo, Joice vs. Azevedo, etc, etc.
Por isso, é que se passou há de um cenário de frequentes "bate-bolas" cordiais entre os expoentes dessa nova direita, para polêmicas vazias e ruidosas. Azevedo versus Rodrigo Costantino, Azevedo vs. Kim Kataguiri, Constantino vs. Olavo de Carvalho, Olavo de Carvalho vs. Diogo Mainardi, Mainardi vs. Azevedo, Joice vs. Azevedo, etc, etc.
Por fim, outro aspecto a se destacar do bate-boca que realmente é abominável a qualidade intelectual e moral dessa nova Direita brasileira. Mas em uma República em que um plagiador vira ministro da suprema corte em nada surpreende. Apenas reflete nada mais do que o quão baixo é nível moral e de sofisticação da burguesia nacional. E, por sua vez, do que ela tolera para ser sua própria classe profissional de políticos e de intelectuais.
Posso dizer isso com alguma propriedade. Nos últimos 14 meses passei a me dedicar a monitorar e estudar teoricamente esses movimentos dessa nova direita, ao contrário de meus colegas da esquerda, centro-esquerda e centro-direita que partindo de uma caracterização da conjuntura (o "golpe" e a "onda conservadora") não se dedicaram a investigar seu inimigo, essa nova direita.
Em uma guerra (analogia mais pertinente com a luta de classe) uma ofensiva de um adversário, não é uma onda de ataques, e, por sua vez, não é uma maré de vitórias (e de derrotas). Essa categoria “onda conservadora” está sendo usado inclusive muito mais nesse sentido. Porém, uma guerra não se decide em uma maré de vitórias. Esta está limitada às batalhas, não uma definição da guerra.
Mesma uma série de derrotas nossa e de nossos aliados não é critério para a derrota de uma guerra. Para piorar, o Lulopetismo e o Bolivarianismo não era nossa aliada; pelo contrário, era um dos maiores inimigos da esquerda, com cooptação das lideranças dos movimentos sociais, seu reformismo “sem reformas”, anestesiou as massas operárias e populares para as lutas sociais.
Contudo, não é isso que se vê. E sim um acirramento da luta, após anos de estancamento. Onde os polos contrários afiam suas armas. E em um momento em que a Direita se reorganizou com uma nova configuração, de matriz pós-moderna. Bem verdade, uma pós-modernidade tardia, se comparada à Europa e América do Norte. Que assustou a esquerda brasileira, ainda tendo de lidar simultaneamente com sua própria versão pós-moderna, com uma ampla submissão ao neoliberalismo e democracia burguesa e a de praxe disputa interna.
O pós-junho de 2013, a crise econômica e as revelações de corrupção deflagrou uma ruptura das massas operárias e populares com o PT que abriu uma ampla audiência para um discurso anti-establishment, que naquele era pseudo de esquerda. E a esquerda ora mal localizada no imaginário, ora despreparada não soube lidar. Uma reorganização se processou mais rapidamente na direita, conformando essa nova, pós-moderna, que soube aproveitar, ganhando uma ampla e acelerada audiência.
Por sua vez, a velha direita se colou rapidamente com eles, se aproveitando, conformando a saída da crise político por meio do impeachment. Contudo, passado o frisson, a economia não saindo da crise, as novas revelações da Lava Jato e a direita (inclusive a nova) tendo que defender o governo Temer e a velha ordem nacional, voltou-se a um reposicionamento da opinião pública. Agora pode ser a hora de uma ampla audiência na classe média e nas massas proletárias à esquerda.
Para isso, basta "largar a alça do caixão do PT", parar de agitar "golpe", "onda conservadora", etc, e partir para estudar a realidade e seus inimigos (sem fantasiosismo), dialogar melhor com as massas e passar a intervir melhor localizada sobre a luta de classes.
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