A crise econômica mundial segundo os analistas começa a diminuir. Mas, na verdade, a crise mudou de patamar. Estamos "às portas" de uma crise muito maior, que tem como origem não uma crise no mercado financeiro e bancário, mas uma crise fiscal.
WASHINGTON (Reuters) - A economia global se recuperou da recessão mais rapidamente do que se previa, mas os pacotes de estímulo fiscal promovidos por vários governos pioraram a situação das finanças públicas, deixando os países vulneráveis a novos choques, afirmou o Fundo Monetário Internacional (FMI) na quarta-feira.
Em sua Perspectiva Econômica Mundial, o FMI reviu de 3,9 para 4,2 por cento a sua estimativa de crescimento econômico global para 2010, e manteve em 4,3 a previsão para 2011.
"A perspectiva para a atividade permanece excepcionalmente incerta", disse o fundo, citando as dívidas públicas como a principal ameaça. "A maior preocupação é de que a margem de manobra política em muitas economias avançadas tenha sido em grande parte esgotada ou se tornado muito mais limitada, deixando essas frágeis recuperações expostas a novos choques", disse o documento.
As economias emergentes devem liderar a recuperação global, com previsão de crescerem em 2010 quase o triplo da média das economias avançadas.
Segundo o FMI, países emergentes e em desenvolvimento devem crescer 6,3 por cento neste ano e 6,5 por cento no próximo. Nos países avançados, a perspectiva é de 2,3 e 2,4 por cento, respectivamente.
A China terá novamente o maior crescimento --10 por cento neste ano e 9,9 por cento em 2011. Brasil, Índia e Indonésia também são citados pelo FMI como protagonistas de sólidas recuperações.
Já os países ricos enfrentam um problema crescente com suas contas, e a proporção entre divida e PIB já se aproxima dos valores da época da Segunda Guerra Mundial.
Embora o FMI tenha conclamado os países a adotarem "urgentemente" estratégias críveis de redução de dívidas, o órgão afirmou que as medidas de estímulo programadas para 2010 devem ser mantidas, porque a recuperação ainda é frágil e o desemprego está elevado.
Os reiterados alertas do FMI sobre a dívida pública parecem ganhar mais pertinência nos últimos meses, quando a crise fiscal da Grécia eleva os gastos do crédito e leva instituições multilaterais a cogitarem um pacote de resgate do país.
O Fundo disse que a consolidação fiscal é prioridade máxima para diversos países, e deve estar acima da normalização das taxas de juros, levadas a valores excepcionalmente baixos no auge da crise.
Pela avaliação do FMI, a eventual retirada dos estímulos fiscais reduziria os gastos públicos apenas em cerca de 1,5 por cento do PIB, e os países precisariam fazer o triplo de cortes para estabilizar sua relação dívida/PIB nos níveis atuais.
Restaurar a relação dívida/PIB de antes da crise exige ajustes ainda mais incisivos, provavelmente com elevação da carga tributária e cortes em gastos públicos, inclusive com previdência.
"Como estão, os atuais programas típicos de benefícios (sociais) implicam compromissos extra-balanços bem superiores à real dívida pública", disse o FMI.
(Reportagem de Lesley Wroughton e Emily Kaiser)
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