A República Democrática Alemã (RDA ou DDR em alemão), nome oficial da Alemanha Oriental, era das sociedades do conjuntos dos Estados Operários do século XX a mais avançada. Contudo, no fim da década de 1980 esbarrou com o declínio econômico e da confusão política de seus aliados. A URSS da glasnot e perestroika se viu forçada a "entregar de bandeja" a RDA para a Alemanha Ocidental (República Federal Alemã - RFA), na tentativa de aproximação política, em vista a atrair investimentos alemães-ocidentais para o novo "socialismo de mercado" soviético em implantação por Gorbachov.
Os quase duas décadas de movimento abafada por revolução política que exigia mais democracia e melhoria nas condições de produção e consumo nos países do Leste Europeu foram assediadas pelas "reformas" comandadas por Gorbachov. Em 1989 em visita a Alemanha Oriental, nas comemorações aos 40 anos da fundação da RDA, Gorbachov exige que a burocracia dirigente se submeta a nova aliança entre a URSS e a Alemanha Ocidental. O chefe da burocracia alemã-oriental Honnecker se nega. Nesse momento, a conjuntura abre-se para que os movimentos sociais da Alemanha Oriental rebelem-se e se re-organizem.
Contudo, o plano da burocracia soviética originalmente não era a unificação, mas ceder o mercado e o controle político da RDA à Alemanha Ocidental, para em troca ganhar investimentos das grandes multinacionais alemãs ocidentais. No meio do processo, a burocracia soviética perde o controle, e a burocracia alemã-oriental capitula a burguesia alemã-ocidental. Para azar da burocracia soviética, os investimentos não vieram (a Alemanha Ocidental estava em meio aos custos da unificação), acelerando sua queda, e com isso, o fim da URSS como estado nacional, dois anos depois, em 1991.
Nas semanas seguintes, os alemães-orientais, prevendo um futuro incerto, foram à ruas das principais cidades pela primeira vez desde as grandes greves de Berlim de 1951 e 1956 (esmagadas na época pelo próprio Exército Vermelho), protestar contra o regime. Muito embora também muito incitados pelos meios de comunicação do ocidente que pregavam "uma vida melhor e mais livre" no outro lado do "muro". Diante da repressão, milhares de alemães orientais migravam em poucos meses para RFA, com a abertura das fronteiras na Tchecoslováquia e Hungria. Isso até a noite de 09 de novembro de 1989, em que as fronteiras da cidade de Berlim da República Democrática Alemã se abrem para o oeste, por uma ordem direta da burocracia alemã-oriental, que naquele momento derrubava discretamente Honnercker.
Com isso, multidões de Berlim Oriental cruzam a fronteira, e vice-versa, e comemoram nas ruas de Berlim, o fato de que pela primeira vez em 4 décadas alemãs de uma mesma cidade dividida pela burocracia e pelo imperialismo puderem se encontrar. Esse mesmo fenõmeno de massas na rua era vivido nas outras capitais da Europa do Leste. Em semanas, os postos de fronteiras entre as Alemanhas são desativados e as multidões, com apoio de tratores dos governos começam a desmontar o Muro, que durante mais de 28 anos ceifou vidas e separou uma mesma cidade.
Se no início "tudo era festa", como pode ser visto nas imagens que as emissoras de televisão no Ocidental não se cansaram em exibir, mais tarde tornou-se um pesadelo.
Em poucos meses, as lideranças do movimento democrático alemão oriental eram derrubadas ou cooptadas pela burocracia oriental entreguista e burguesia ocidental, e assim o movimento em 1990 começa a dissolver-se ou aderir ao uma perspectiva de adesão ao capitalismo. Paralelamente, a Aliança pela Alemanha, favorável à unificação, vence em 1990 a primeira eleição pluripartidárias na RDA, tornando Lothar de Maziére o primeiro-ministro da Alemanha Oriental.
Numa iniciativa demagógica, o governo da Alemanha Ocidental, estabelece uma paridade monetária de 1:1 entre as moedas alemãs, ocorre uma invasão de produtos ocidentais, que quebra a economia oriental, forçando ainda mais à capitulação. E assim começa o desmonte da RDA até a unificação precipitada das Alemanhas em 03 de outubro de 1990. Que ao invés de uma unificação, foi uma anexação dos estados da RDA à República Federal Alemã (Alemanha Ocidental). Em poucos anos, fábricas e empresas no oriente sãosob iniciativa do governo unificado simplesmente encerrados ou vendidas por preço de banana à grandes empresas ocidentais, que meramente as desmontam como sucata, empurrando seus empregados para a rua, enquanto que funcionários públicos são demitidos.
Resultado ao longo da década de 1990 foi a paralisação e encolhimento da economia, com o fechamento de empresas, aumento da inflação e do desemprego no lado oriental (os índices são diferentes entre o oeste e leste), o aumento do desnível entre as duas regiões, aumento da animosidade entre os ocidentais e orientais, o aumento da criminalidade em 800% por causa de movimentos neonazistas e do narcotráfico, o desmonte da máquina esportiva e também dos símbolos do regime socialista sem nenhum critério.
Atualmente há um sentimento entre os antigos cidadãos da RDA chamada de “Ostalgie”, muito bem materializado no sucesso de bilheteria do filme "Adeus, Lênin", e na busca pelos alemães por tudo que havia na vida cotidiana da Alemanha Oriental, que a cada dia aumenta. Apesar das campanhas ideologicas da mídia e governo alemão, que inclui a derrubada de monumentos e edifícios símbolos da RDA, como foi vista no atropelo em se demolir o Palácio da República de Berlim. Para reforçar essa caracterização em torno a crescente insatisfação entre os ex-alemães orientais, pesquisas apontam que a população prefere o passado.
Apesar de ter se passado mais de duas décadas, pesquisas recentes apontam que mais de 20% desejam a volta do Muro de Berlim, e que entre os alemães da ex-RDA mais de 80% preferem a vida como era antes ou a volta do socialismo (mesmo do tipo que viram). E o mais curioso são os dados que apontam que em torno de 36% da população de jovens com menos de 18 anos, isto é, que não viram nem mesmo a Queda do Muro de Berlim, gostariam de viver na RDA.
Essa é a prova que há algo de errado na vida capitalista da nova Alemanha. Que apesar de vários aspectos ruins, havia coisas boas na vida sob a RDA, e que o capitalismo não era a alternativa correta aos desejos e anseios da população. Na verdade, a população da Alemanha Oriental queria mais liberdade e melhores condições de trabalho e consumo, e não o capitalismo, que em verdade, encontrou ainda menos do que antes.
Contudo, embora a História não seja reversível, ela é cheia de reviravoltas. A vida como é hoje na Alemanha não seguirá para sempre. A experiência que o povo alemão teve com a Queda do Muro de Berlim o preparará, agora unidos, para a construção de um novo futuro - quando as condições e decisões forem propícias.
Para ler mais:
Muro de Berlim - wikipédia
DDR - Lulamann
Alemanha Oriental - wikipédia
bomm
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