Segundo dia: nada será como antes em Honduras
Cristina Barbosa, presidente da Fed. Estudantil da Costa Rica e Roberto Herrera do MAS (LIT-QI)
• Acompanhe a reportagem sobre a resistência ao golpe de Estado, enviada por uma delegação que está em Honduras. Desde o dia seguinte ao golpe, formou-se na Costa Rica o Movimento de Solidariedade ao Povo Hondurenho. O Movimento ao Socialismo (MAS), seção oficial da LIT-QI na Costa Rica, participa desde o início das atividades do comitê, com a firme certeza de que a atitude dos revolucionários da América Central deve ser assumir para si qualquer luta que ocorra nos cinco países da região que foram artificialmente divididos. Neste momento, uma delegação se encontra em Honduras, levando solidariedade e participando da resistência. Estas são as primeiras notícias que eles nos enviam desta importante luta democrática, antioligárquica e antiimperialista.
# Leia a reportagem do primeiro dia
Quinta-feira, 16 de julho, segundo dia
Hoje completam-se 19 dias de luta contra o golpe. Participamos do fechamento de ruas na altura de El Durazno, principal saída de Tegucigalpa para o norte do país. O bloqueio durou das 8h30 até 15h.
O protesto, aqui, reuniu duas mil pessoas e, no sul, cerca de mil. Nesta saída, concentraram-se os ativistas liberais que se opõem ao golpe. Em El Durazno, se concentraram os sindicatos do estado (PANI, Frente de organizações do magistério, INA, enfermeiras etc.).
Além destes bloqueios, estavam fechadas as cidades de San Pedro Sula (capital industrial onde se concentram as maquiladoras) e Porto Cortês (principal porto do país), o que representou uma paralisação importante da economia. Para sexta-feira, espera-se uma nova jornada de resistência, igual à da quinta-feira. Um novo dia de luta nos espera.
Muitos símbolos indicam que, em meio a muitos “estica e afrouxa”, tentam solucionar por cima o conflito. Os olhos apontam para a negociação de sábado em Costa Rica. Vamos resumir alguns fatos políticos que nos parecem importantes.
1) O governo golpista mostra sinais de cansaço. A saída de dois servidores públicos do governo, entre eles López Colindres (chanceler), se soma a um estranhamento dos militares com o governo e com o próprio anúncio de Michelletti de que poderia renunciar desde que Zelaya não regressasse.
2) Diferentes formas de repressão seguem ativas, como, por exemplo, o fechamento temporário dos sinais de rádio e TV, o toque de recolher, a perseguição a servidores públicos governistas, a perseguição sindical, o assassinato seletivo ocultado como crime comum. Esta violência política é acompanhada também pelo aumento da delinquência, como ajustes de contas e fatos vinculados aos “maras” (violenta gangue da região).
3) O custo econômico do golpe num país tão pobre como Honduras, começa a surgir. Há projetos interrompidos, fundos congelados e bloqueios. Além disso, há o custo de manter mobilizado o exército por 19 dias. Amanhã é o pagamento de salário dos servidores públicos. Gabriela Núñez, ministra de finanças, está tentando reunir fundos de todos os lados.
4) O mais importante é que o movimento popular segue ativo apesar das ameaças. Entre os docentes, é muito forte. Exemplo disso foi o início da transmissão da rádio clandestina ligada à Resistência (Rádio Morazán) e de que as ações continuarão amanhã, mesmo que não se concretize a paralisação geral. No interior do país, as ações também ganham força.
5) É importante assinalar que a direita latino-americana mantém uma campanha muito agressiva em relação a Honduras. Hoje chegou o grupo UNO América, que é o “rim dos vermes”. Seu objetivo era legalizar o golpe e lhe dar apoio político. Na delegação, haviam reconhecidos representantes da direita da Venezuela e da Colômbia. Além do delírio fascistóide e dos argumentos deste grupo, a presença de UNO América assinala um claro vínculo das direitas golpistas latino-americanas e norte-americanas, mas, sobretudo, um esforço deste setor ultradireitista em descongelar o isolamento internacional dos golpistas.
Estes são alguns fatos, mas como assinalamos, a situação é instável. Ainda que existam sinais de negociação, o “estica e afrouxa” de ambos os lados, o fato mais importante para os revolucionários é que o povo continua nas ruas e com um nível crescente de politização. Se Zelaya retornar pela ação das massas, isso representaria uma clara vitória democrática e popular, que não seria detida facilmente, mas continuaria avançando e questionando o regime. Se as elites conseguem uma saída negociada [1], não será fácil para eles desativar as bandeiras que foram articuladas pelo movimento popular, sobretudo, o chamado à Assembleia Nacional Constituinte.
Como dissemos algumas vezes, nada será como antes em Honduras.
NOTA:
1. É claro, no processo de possíveis saídas negociadas, que cumpre um papel fundamental a mediação pró-imperialista do presidente Arias, que já tem levantado a consigna de governo de reconciliação nacional, que consistiria em duas opções: ou num governo de transição, apoiado na Corte Suprema de Justiça, ou num regresso condicionado de Mel Zelaya, isto é, afastado da Alba, sem o projeto de quarta urna, e com a anistia para ambos os lados. Estas saídas são incômodas para os golpistas, sobretudo para as forças armadas. Outra opção pela qual se decantariam os golpistas é um governo de reconciliação sem Zelaya, em que ele possa regressar e ser anistiado dos supostos delitos políticos, mas que seja julgado pelos delitos de corrupção. Como se vê, os cenários são múltiplos e variáveis. Evidentemente, para os revolucionários, a melhor saída é que o movimento popular consiga através de sua ação independente uma quebra total do regime e uma convocação à Assembleia Nacional Constituinte sobre as ruínas do velho regime, apoiado nas organizações populares. Para conseguir isto, é evidente que é preciso forjar uma força política ampla, orientada pela independência de classe e a meta socialista.
Retirado do Portal www.pstu.org.br
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