por Almir Cezar Filho
A crise econômica mundial pegou o Brasil. Demissões em massa e adoção de reduções salariais. Mas essa crise não se manifesta por igual na economia nacional, vemos mesmo ao contrário setores indo bem, contratando, mas tendo dificuldade em manter seu ritmo. Na verdade, a crise é uma crise na indústria, e como tal gera impacto sobre a economia como um todo. A questão é que a indústria brasileira ficou mais vulnerável as crise e adota sempre a estratégia da demissão. A alternativa real não pode passar pelas adotadas pelo Governo Lula, pois de fato não vão a raiz do problema.
O setor industrial tem função dinamizadora na economia como um todo. O crescimento da indústria puxa o setor de serviços e a inovação. Se, por um lado, a indústria no Brasil responde apenas por 30% dos empregos, enquanto o setor de serviços responde por 60%, por outro, os postos de trabalho na indústria são de muito mais qualidade e têm efeito multiplicador na dinâmica da economia. Porém, a crise econômica por que passamos é da indústria, pois o agronegócio e o setor de serviços apresentaram variação positiva, após outubro do ano passado.
As décadas de neoliberalismo deixaram a indústria brasileira muito vulnerável às crises como a que o mundo está vivendo, à medida que, com a abertura comercial, um terço do investimento produtivo no Brasil provém de multinacionais e com a abertura financeira o país ficou ainda mais dependente de crédito externo e não reduziu o grau de concentração bancária (produziu na verdade o efeito contrário). Logo, a crise no Brasil é uma crise na indústria.
Assim a crise pegou os melhores empregos com os respectivos efeitos compressivos sobre o mercado consumidor interno. E ainda ampliou a taxa de rotatividade da mão-de-obra. Como no Brasil é fácil demitir, e como as empresas do setor industrial são em geral de maior porte e que têm mais condições de arcar com as demissões, o oposto ocorre no setor de serviços onde predomina empresas de pequeno porte. A consequência foi que a taxa de rotatividade da mão-de-obra cresceu 30% sobre 2007. Só para ilustrar essa facilidade, usamos o caso dos EUA, epicentro da crise e onde ocorre seus maiores estragos, país que a legislação trabalhista é flexível, a taxa de rotatividade é metade da brasileira, mesmo com a crise.
Com a crise, e a redução das vendas externas e dos investimentos e créditos internacionais, as indústrias passaram a demitir para ajustar os estoques e compensar a queda do volume de lucros aumentando a taxa de lucros pela redução de salários pagos, e assim conseguiam também os capitais para crédito para giro.
Por sua vez, apostaram pela estratégia de demissões por seu baixo ônus, diferentemente do que ocorre nos EUA e Europa, pois mesmo que possam vir a ser forçados re-contratar em caso de recuperação econômica mundial, podem recontrar seus próprios ex-funcionários sem ter com que arcá-los durantes os meses de baixa, e ainda sob salários menores.
A gravidade também é que esta a crise estancou a recuperação da participação dos salários no PIB, interrompendo dois anos de crescimento. Nas décadas de neoliberalismo houve um severo aumento da concentração de renda no país entre a população entre os vários segmentos dos trabalhadores. A participação na renda nacional em 1980 era que os 50% mais pobres da população recebiam 13% da renda do fator trabalho (salários), que por sua vez, representa 50% da renda nacional (PIB); em 2002, os 50% mais pobres recebiam 11% da renda do fator trabalho, que representa apenas 38% da renda nacional.
A solução à crise não passa pelas isenções tributárias (redução e isenção de IPI para eletrodomésticos e automóveis) ou redução do aperto fiscal (redução do superávit fiscal do Governo de 3,5% para 2,5% do PIB). De fato essas medidas não resultaram nos últimos meses em redução no ritmo de queda nos postos ocupados na indústria.
O Brasil tem que diminuir o grau de abertura financeira e depender menos do comércio com os países ricos (que já foi de 70% e agora ainda está em 40%). E também promover um processo de desconcentração bancária, até mesmo pelo incentivo às cooperativas de crédito e outras alternativas para oferecer financiamento à pequena empresa, que é responsável por 80% dos empregos mas que quase nunca recebem os bilhões em juros subsidiados do BNDES. É preciso, por um lado aumentar a dificuldade em demitir no Brasil especialmente na indústria e pela grande empresas e, por outro, nas pequenas facilitar a formalização trabalhista e a legalização, combinando com um programa de obras e compras públicas.
Infelizmente sabemos que o Governo Lula não fará isso, vide seus compromissos políticos com as grandes empresas e bancos. Tudo isso com a conveniência de partidos de esquerda e centrais sindicais, que em muito, limitam-se a comentaristas críticos da políticas econômicas.
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