sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Crise chega aos emergentes. Vêm aí aumentos no juro, dólar e inflação e mais arrocho fiscal

por Almir Cezar

A principal notícia da semana passada foi a crise que se espalha pelos países emergentes, com desvalorização de suas moedas e fuga de suas bolsas de valores em meio à crescente desconfiança dos investidores internacionais, combinado ao anúncio do governo americano de reduzir seu programa de compra de títulos do tesouro nacional. As economias emergentes estão às voltas com o aumento do juro, do preço do dólar e da inflação e promessas de arrocho fiscal dos governos.

Os países emergentes, principalmente os BRICS (bloco de países formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), durante a primeira fase da crise econômica mundial sofreram pouco com o “furacão” e serviram de “porto seguro” para os capitais, enquanto EUA e Europa afundavam. Agora, os grandes bancos e investidores internacionais, em meio à crise fiscal, inflação e crescimento econômico baixo, têm dúvidas com relação a esses países, especialmente com a impressão que os EUA e a Europa já teriam passado pela sua pior fase e haveria outros países mais "interessantes".


O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) anunciou corte no programa de compras mensais de títulos podres das carteiras dos principais bancos de investimento do país, também conhecido como “mensalão do Fed”. Essas compras serviam para injetar dinheiro na economia, para reduzir o juro interno, o que estimularia a economia através do consumo e do investimento produtivo. Porém, parte dessa grana saía do país e era usada para “irrigar” os mercados financeiros e investimentos nos países emergentes.

Tal montante de dólares ficou taxado de “tsunami monetário”, que tanto Dilma reclamava em 2011 e 2012, que levou as moedas pelo mundo a se valorizarem perante o dólar. Nesses anos, os países emergentes passaram a ter problemas nas exportações e a importar mais, complicando suas indústrias e gerando inflação das commodities e alimentos. E também, tiveram bolhas nas bolsas de valores, com as ações de empresas locais supervalorizadas. Foi assim, que Eike Batista, do grupo EBX, construiu seu império, em base a apenas a papel valorizado e empréstimos baratos. Porém, as coisas viraram.

Agora, os investidores estão arredios em relação aos mercados emergentes, diante da redução dos estímulos à economia dos EUA. A Bolsa de Nova York subiu 0,57%, enquanto as bolsas pelo mundo despencam. A depreciação cambial em países emergentes provocada pela fuga de capitais - ao antecipar um endurecimento da política monetária americana, os investidores repatriaram seus fundos, de forma abrupta, para os Estados Unidos, o que afeta as contas públicas e privadas de alguns países. Quem depende de produtos primários fica à mercê dos preços formados fora do país e do valor do dólar.

Sabendo disso ou não, para o FMI (Fundo Monetário Internacional) e as instituições financeiras internacionais, os Bancos Centrais dos emergentes devem combater urgentemente a inflação, que desanima os investidores ao enfraquecer o valor de seus ativos e “desconfiança” dos investidores. Para esses, o combate se faz com elevação da taxa básica de juros e superávits/austeridades fiscais. 

As autoridades econômicas dos mercados emergentes foram obrigadas principalmente na terça-feira (28/1) a emitir 'sinais concretos de determinação' a corrigir os problemas que estão fazendo as suas moedas 'derreterem'.

Com derretimento da lira, o Banco Central turco 'radicalizou' e eleva os juros para 12% ao ano, e informou que manterá a política monetária apertada, até que a inflação, que ronda os 8%, ceda para níveis mais confortáveis. 

A África do Sul, que não aumentava seus juros há seis anos, elevou sua taxa de 5% ao ano para 5,5% ao ano, acompanhando a Turquia e outras economias emergentes. A alta de 0,5 ponto do juro na África do Sul, no entanto, foi insuficiente para saciar o mercado financeiro, que impôs uma desvalorização de 2% ao rands, moeda sulafricana.

Na Argentina, depois da crise cambial instalada na semana passada, que levou a equipe da presidenta Cristina Kirchner a reduzir as restrições de compra de dólares para pessoa física para evitar uma nova mordida nas parcas reservas internacionais, foi obrigada a voltar atrás. 

Somente em janeiro, a moeda argentina perdeu 22,7% de seu valor, a maior desvalorização registrada em um mês, desde março de 2002, quando o país saía da pior crise de sua recente história, em meio a um colapso nas suas reservas internacionais, isto é, ficar sem dólares para pagar as importações, viagens e compras fora. 

Assim como os fatos recentes na Argentina, a Índia também sofreu com os problemas cambiais. O Banco Central da Índia elevou a taxa de juros em 0,25 pontos percentuais na terça-feira para frear a inflação. A rupia, moeda local, despencou 11% em 2013 logo após o anúncio do governo americano.

No Brasil, há meses sob pressão do mercado financeiro, desde abril de 2013 já elevou sete vezes a taxa básica de juros (Selic). Já o governo federal agora indica corte maior no Orçamento desse ano, para economizar até 2% do PIB, porém, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a Casa Civil não confirmaram ainda.

De fato essa ação estaria errada. Em um cenário otimista, a recente desvalorização do real, que subiu mais 0,3% nesta quarta-feira, para mais R$ 2,43, já teria incorporado o “efeito Fed”. De nada adiantará o BC continuar a elevar juros. Por sua vez, há pouca margem também para mais aperto fiscal.

Contudo, em um cenário pessimista, não se vê limite para a queda do real ou a alta dos juros no Brasil. Por exemplo, em 2002, às vésperas da primeira eleição de Lula, o dólar chegou a R$ 3,53. Por outro lado, o Brasil tem déficit de contas externas muito grande - metade dele causado por remessas de lucros, que aumentarão após as concessões que o governo está fazendo. E ainda, o Brasil tem passivo externo de US$ 1,6 trilhão, e num ambiente de liberalização financeira, as reservas cambiais são insuficientes para proteger o país dos especuladores. Então pode ser vítima de uma crise nas reservas internacionais.

A dica por hora é não contrair dívidas em dólar em viagens ou compras fora e adiar a compra da moeda americana. Também evitar dívidas com juros que flutuam. E poupar. O governo poderá para honrar sua promessa de credibilidade aos bancos ter que aumentar impostos ou cortar despesas essenciais, em saúde, educação, para garantir o superávit primário, enquanto dá rios de dinheiro com os juros da dívida aos bancos ou às empreiteiras com as obras do PAC e Copa do Mundo.

Dúvidas, críticas e sugestões envie uma mensagem para almir@agencianota.com ou deixe um recado na página do no blog ou no Facebook da ANOTA.

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