terça-feira, 20 de novembro de 2012

Diferença racial de salário segue no Brasil, inclusive na capital federal

Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan) a diferença racial de salário segue no Brasil, inclusive na capital federal. Mulheres negras são as mais prejudicadas. Negros são a minoria no serviço público. E entre os domésticos, os afrodescendentes são maioria.Os negros têm mais oportunidades com políticas públicas específicas.

Negros têm mais oportunidades
LARISSA GARCIA | Correio Braziliense - 14/11/2012

Pesquisa Dieese revela que diminuiu o abismo étnico no mercado de trabalho, mas persistem as discrepâncias salariais

Enquanto os negros que vivem na capital do país ainda têm salários menores que os não negros, a taxa de desemprego entre os dois grupos diminui a cada ano. Números da Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED-DF) de 2011, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan), mostram que a diferença entre não ocupados dos dois segmentos é de apenas 1,9 ponto percentual. Em 2002, a discrepância chegava a quase 6 pontos. O rendimento médio mensal de trabalhadores brancos e amarelos é 55,26% maior. Afrodescendentes recebem R$ 1.737, contra R$ 2.697 dos indivíduos de outros grupos.


As mulheres negras são as mais prejudicadas quando o assunto é salário. O rendimento médio por hora trabalhada delas é o menor em todos os setores englobados pela pesquisa. "Elas carregam dois fatores históricos, discriminação de gênero e raça/cor. Muitas empresas preferem homens por conta do cotidiano. As mulheres podem engravidar e têm direito a licença-maternidade, o que é um gasto a mais para a companhia. Além disso, têm tarefas domésticas e dispõem de mais tempo para ficar com os filhos", justificou o analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Daniel Biagioni.

A dona de casa Maria Santana, 41 anos, moradora da Cidade Estrutural, sentiu na pele as dificuldades de ser mulher e negra. "Fui empregada doméstica desde os 13 anos e sofri muito com a discriminação. Quando estava desempregada, bati de porta em porta e recebi muitos nãos e olhares preconceituosos", disse. Ela começou a trabalhar quando criança. "Não me lembro a idade. Ajudava na lavoura com meus pais e não tive a oportunidade de estudar. Hoje, tenho três filhos, e todos estão na escola. Quero que tenham o que eu não tive." Para ela, os afrodescendentes ainda são minoria nas instituições de ensino. "Passo em frente a uma faculdade e vejo dois ou três negros, o resto é branco. Não tivemos escolha, tanto é que, na periferia, a maioria é negra."

O advogado Asclepiades Vasconcellos, 42 anos, morador do Cruzeiro, vive uma realidade diferente. "Sinto-me privilegiado, nunca passei dificuldades e tive oportunidades que muitos, como os meus pais, não tiveram", lembrou. Ele cursou ciência política na Universidade de Brasília (UnB) e direito no Centro Universitário UDF. "Já sofri muito preconceito, inclusive de não poder ser apresentado aos pais da namorada. Mas, no mercado de trabalho, nunca senti isso. Ainda assim, sei que essa é uma realidade no Brasil, um problema histórico. Tenho uma filha de 5 anos e ela é branca. Desejo um mundo mais justo para ela no futuro."

Políticas públicas
Para a Secretaria de Trabalho do DF, os negros têm mais oportunidades graças às políticas públicas. "Ainda assim, acredito que, em todo o Brasil, há carência de mão de obra qualificada e eles ainda têm dificuldades para chegar ao nível superior. Entre os autônomos, por exemplo, o salário é semelhante, não tem tanta diferença", disse Iraci Peixoto, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

"No setor público, a diferença é muito grande. Os negros correspondem a 19,8%. Como têm menos acesso à educação, eles enfrentam mais dificuldades para a ascensão na carreira profissional, pois têm menos títulos acadêmicos e uma remuneração menor. Os não negros somam 28,7%", ponderou Adalgiza Lara Amaral, economista do Dieese e coordenadora da PED-DF. Entre os negros empregados no DF, 63,9% trabalham no setor de serviços, frente a 71,8% de não negros. Entre os domésticos, os afrodescendentes são maioria: 8,8%, diferença de 4,1 pontos percentuais em relação aos não negros.

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