Escrito por José António Dias e Ana Paula Amaral |
Sex, 08 de Julho de 2011 |
Ganha força a ideia de que a “tragédia grega” de não ter dinheiro para pagar a sua dívida, mesmo com a injeção do empréstimo externo, seria a tragédia da União Europeia e poderia levar à sua implosão. Já é compreensível para muitos: o pacote de “ajuda” de € 78 bilhões do FMI/União Europeia não vai ajudar em nada o povo português nem salvará a economia portuguesa da recessão. Basta olhar para a Grécia, enterrada numa crise social sem precedentes após o pacote similar de Maio de 2010, ou para a Irlanda, forçada a aceitar um empréstimo em Novembro passado para salvar a banca privada dos resultados das suas próprias iniciativas especulativas, e onde a crise não apresenta fim à vista. O resgate do FMI não está aí para relançar a economia do nosso país em bases produtivas (única maneira de fazê-lo sair da recessão), mas sim para salvar os mercados financeiros, ou seja, os interesses dos credores. Ganha assim força a ideia entre os comentadores da nossa praça de que o colapso da Grécia rapidamente contagiaria os dois países também intervencionados pelo FMI/UE (Irlanda e Portugal), o que seria um golpe profundo no “projeto europeu”. A tragédia grega de não ter dinheiro para pagar a sua dívida mesmo com a injeção do empréstimo externo seria a tragédia da União Europeia (UE) e poderia levar à sua implosão. E o primeiro passo desta implosão seria a saída da Grécia do euro – podendo seguir-se a mesma solução para a Irlanda e Portugal. O que é o euro? Criado em finais do século passado com o objetivo de concorrer com o dólar nos mercados cambiais, o euro foi uma tentativa de unificar os interesses distintos e por vezes contraditórios das várias burguesias europeias face ao imperialismo americano sob a direção da Alemanha e da França. A adoção desta moeda única significou a perda de soberania nacional na emissão de moeda – foi o Banco Central Europeu (BCE) que passou a deter essa prerrogativa – e a imposição de critérios comuns para os défices orçamentais (exigindo-se que não ultrapassem 3% do PIB em cada país) e para as dívidas públicas (que não podem ser superiores a 60% do PIB). Atualmente são 16 os países que integram o euro, ao passo que 11 outros pertencem à UE, mas mantêm as suas moedas nacionais. O que prova que há vida para além do euro, ao contrário do que muitos comentadores do sistema pretendem fazer crer… O que significaria para a classe trabalhadora sair do euro? Sair do euro implica regressar às moedas nacionais, o que permitiria aos governos usarem o mecanismo da desvalorização cambial para conseguirem exportações mais baratas. Isso poderia trazer a uma economia anêmica como a nossa uma vantagem concorrencial imediata nos mercados internacionais, daí que possa haver algum interesse da burguesia nesta saída para a crise. Mas os países que optassem por sair da moeda única teriam também dificuldades em aceder a financiamentos externos (muito mais caros por continuarem a ser feitos em euros), e os credores veriam as suas dívidas em risco de não ser pagas. As importações seriam mais caras, os salários perderiam poder de compra, etc. Mas o certo é que os trabalhadores estão já a perder poder de compra com sucessivos cortes salariais e aumentos de impostos …e estamos no euro! Quanto aos credores, quem são eles senão capitalistas financeiros que especulam com as dívidas soberanas dos países? Aliás, desde a adoção do euro que é visível uma maior sucção da mais-valia produzida pelos trabalhadores e uma cada vez maior concentração dessa riqueza na banca. O capital financeiro já ganhou muito, perderia com a saída do euro… E depois? Risco de implosão da UE O pânico da burguesia europeia de qualquer dos países mais endividados decidir sair do euro tem razões políticas: é provável que a própria UE implodisse, já que o nível de desacordo acerca do euro dificilmente permitiria aos países continuarem juntos no projeto europeu. E daí? Não é a UE uma união das burguesias europeias contra os trabalhadores europeus? Não tem sido uma máquina de guerra contra os direitos sociais e laborais de quem trabalha ou trabalhou? Na verdade, a desagregação do euro e da UE poderia até dar mais força à luta dos trabalhadores contra o capital, que agora estaria mais fraco e, como tal, fragmentado. Que política de esquerda para o euro e a dívida? Por isso não entendemos que um partido como o Bloco de Esquerda tanto se assuste com a ideia da saída do euro e da UE (ver textos da última Convenção). Assim como não entendemos que quer BE quer PCP defendam a renegociação da dívida externa, ou seja, a concertação entre governos e instituições do capital para pagamentos da dívida mais “suaves”, com juros mais “benéficos”, etc. Trata-se de uma ilusão, porque significaria continuar a deixar a economia nas mãos do capital financeiro e permitir que ele continue a ditar as regras. Seria como quando alguns de nós renegociamos as dívidas das nossas casas: as condições são menos draconianas, mas os altos juros continuam lá, os lucros da banca continuam lá. As nossas casas já estão realmente pagas há anos, mas a banca não abdica de sufocar as famílias com décadas de prestações, mesmo que um pouco mais suaves… Do que o povo português (e o grego, e o irlandês) necessitam é de deixarem de pagar a dívida que os sufoca, e tomarem medidas anticapitalistas para uma verdadeira recuperação econômica, a começar pelo relançamento da produção industrial, agrícola e pesqueira, sob controle dos trabalhadores. Isto poderia ser feito desde logo com os €16 bilhões que estão em off-shores e que em 2010 representavam 10% do PIB (e cuja cobrança de impostos pelo Estado faria com que o défice passasse de imediato para 1,9%!). Tais medidas certamente implicariam romper com os privilégios do capital financeiro e o euro. Fonte: Jornal Ruptura no. 117, julho/2011 |
sexta-feira, 15 de julho de 2011
O Euro vai desmoronar? E daí?
O Euro vai desmoronar? E daí?
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