sábado, 2 de dezembro de 2017

Flutuações, ciclos e tendências no sistema socioeconômico


por Almir Cezar Filho

Os ciclos econômicos

Continuando com as questões metodológicas. Agora deve-se falar de outro fenômeno “místico” do Capitalismo, a sua capacidade de gerar predestinação, de prognóstico, tendo em vista, seu poder de se repetir ao longo do tempo, os assim chamados os ciclos econômicos. Isto é, a capacidade do sistema de que seus indicadores, ao menos aqueles stricto sensu econômicos, têm de seus números a apresentar vieses de altas e/ou baixas, em sucessão e/ou repetição contínua. O volume produzido, o valor gerado, o consumo, etc., operam em ciclos, início, meio e fim, para novamente reinício, meio e fim, etc.

Esses indicadores não se mantêm continuamente em mesmo patamar ao longo do tempo, oscilando, flutuando, muita vezes sob um “eixo”. Mesmo que esse eixo, essa linha tendencial, mostre ou ascensão ou queda. Isto é, num prazo mais longo apontem para uma direção, uma tendência.


Portanto, não à toa, as sucessivas dinâmicas conjunturais formam, quando somadas no longo prazo, aquilo que chamamos de “desenvolvimento”. 

Deve-se ter em mente que, o longo prazo para identificar a tendência, é um recorte analítico importante, pois tal como uma amostra estatística, quando maior podem interferir o resultado. Um recorte temporal de um ano, ou de dois, três, sete, vinte, cinquenta, etc., podem revelar trajetórias tendenciais diferentes. Mais dentro do recorte temporal escolhido verifica-se forças atuando internamente ao sistema, ao ciclo do sistema, para conduzir ou para ascensão ou para o declínio.


A tendência aí não é apenas um apontamento geométrico da curva de crescimento, da curva de evolução, mas a manifestação das forças internas que operam no sistema que, por sua vez, o forçam ao viés identificado. Como também, os sucessivos pontos, momentos e valores de evolução nada mais do que tração, uma média e uma linha média e trajetória de tendência. Assim, o valor ou ponto fora dessa linha tendencial, desse viés, é, por outro lado, apenas uma flutuação, quando não mesmo uma oscilação dessa tendência.

Logo se tem que a flutuação é quando os valores/pontos/momentos fluem rumando para acompanhar a tendência ao longo do tempo. A oscilação é quando esses valores/pontos/momentos estão ou acima ou abaixo da linha de trajetória da tendência, gravitando, “atraídos” justamente por essa linha. Flutuação avalia o quanto os pontos rumam no mesmo sentido da tendência. Oscilação, o quanto os pontos variam em relação a linha tendencial. O ciclo, portanto, é a capacidade do crescimento iniciar, se encerrar e reiniciar.

A questão subjacente - de que a oscilação/flutuação seriam ou não produto de contradições ou choques externos – deve ser refeita de outra forma, à medida que a curva vai se desenrolando, se desenvolvendo, cada ponto em si tem sua capacidade de gerar simultaneamente três aspectos: equilíbrio, resistência a interferência externa e dar vida a elementos “tóxicos” de interferência na própria posição do ponto subsequente temporalmente. Os próprios eventos e forças externas a curva nada mais que na maioria dos casos uma reação ao “metabolismo” do próprio ponto. Entendendo “externo” aqui a interferência proporcionada por forças de outra dimensão do próprio sistema, e não aquelas de outro sistema.

Por exemplo, uma crise parlamentar pode prejudicar o crescimento da economia, levando a uma recessão. O que por sua vez, esta crise parlamentar em si pode ter sido provocada pelos primeiros sinais dessa mesma crise econômica.

A tendência revela-se assim não apenas como sentido da trajetória e repetição, mas causalidade (causa-efeito). Não casualidade explicativa, mas preditiva. Ao menos correlação. Isto é, não aponta quem é a causa, quem é efeito, mas uma relação comum entre dois fatores, que presentes, adquirem a manifestação de fenômeno. Mesmo que não se saiba: quem produz quem ou quem antecede a quem. E que o fenômeno ocorre novamente ao menos probabilisticamente. Isto é, presente ambos os fatores ou elementos há forte chance de ocorrer novamente o fenômeno, a menos que não há na proporção certa, com a presença de um catalisador certo (ainda desconhecido), ou que não está presente uma contratendência que impedirá ou enfraquecerá a ação da tendência.

Temos assim, a presença de contratendências. Isto é, tendências que vão em sentido contrário de outras, anulando ou enfraquecendo o movimento. Um fenômeno pode então não se efetivar no tempo e no espaço justamente porque houve a presença de sua contratendência equivalente. E, por sua vez, uma tendência pode ser contratendência de outra.

As contratendências não existem ao acaso. Vale lembrar que, em muitos casos contratendências são eventos ou elementos colaterais de tendências que há antecedem temporalmente, atuando contra, respectivamente, na vez seguinte. Como também durante a ação da própria tendência.

Se não pode se efetivar, não se manifesta, ou se manifesta diferente. Como se fosse a soma dos paralelogramos. Assim, os pontos da curva de crescimento vão aparecendo diferente da própria tendência, oscilando e flutuando. Como também, gerando que o ponto seguinte seja igualmente diferente do anterior, e assim sucessivamente. 

Formar-se assim, por sua vez, os ciclos. Quando um ponto futuro oscila/flutua para o mesmo patamar de um ponto antecessor a uma determinada escala de tempo. Manifestando como um fim de um mesmo padrão de ascensão (ou queda).

Por sua vez, a soma de ciclos formam, ou apontam, tendências. Ao menos dentro de uma mesma escala cronológica. Ciclos de curto prazo apontam a tendência de curto prazo. Ciclos de médio prazo a tendência de médio prazo, e assim sucessivamente.

Tem-se ao final da forma como exposta ao longo do texto acima a distinção entre flutuações, ciclos e tendências.

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