quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Neofundamentalismo religioso e o neofascismo são pós-moderno

Extremismo e poder estão a serviço dos lucros

Ensaios sobre a Direita e a Pós-Modernidade

por Almir Cezar Filho

Duas notícias recentes trouxeram choque em setores mais esclarecidos da opinião pública. O ato do MBL contra a exposição de arte Queermuseu que levou aos patrocinadores a cancelá-lo. E atos de terror de traficantes a moradores praticantes de religiões afro-brasileiras nas comunidades que suas quadrilhas controlam.

Como pode lideranças de uma minoria religiosa (pastores evangélicos) se aliar com a escória da sociedade (os narcotraficantes) pra perseguir uma outra minoria religiosa (os umbandistas e os candomblecistas)? Como pode uma escória se achar "ungida" e taxar de satânica fiéis e sacerdotes de outras religiões minoritárias e persegui-los impunemente com extrema violência? Cadê os líderes evangélicos repudiando essas ações? É isso mesmo?

É de senso comum, mesmo entre os mais intelectualizados, que este fundamentalismo religioso, ou mesmo o neofascismo corrente na atualidade, brotariam e seriam manifestações reacionárias, pré-modernistas, antemodernistas. Contudo, ao contrário disso, ambos partem justamente de aspirações e manifestações pós-modernistas. Violando as regras que se justamente ditariam as manifestações em parâmetros modernos. A diferença entre o fundamentalismo clássico e esses neofundamentalistas se explica na mentalidade universal que se instalou na atual etapa senil do sociedade de tipo burguesa, no Capitalismo, na Pós-modernidade.

Vamos lá: no Brasil parece ser um fato corrente que a intolerância religiosa ativa parece ser a prática corrente de boa parte das lideranças protestantes evangélicas (pentecostais e neopentecostais) e seus seguidores fanatizados. Difere do retrospecto histórico, que a intolerância brota em geral de um religião majoritária (os evangélicos são apenas 20%), e logo assim, no Brasil, teria partir do Catolicismo romano, que ainda é maior religião no país, coisa que centralmente não ocorre.


Obviamente as ações e iniciativas intolerantes se desenrolam livremente em nossa sociedade pelo preconceito passivo de maior parte da população, seja evangélica ou não, especialmente católicos, mas também de ditos agnósticos e mesmo ateus.

Lucros com os fiéis

Sabe por que as lideranças religiosas neofundamentalistas de base cristã evangélica agem perseguindo outras minorias, sejam LGBTs e membros de religiões afro-brasileiras, até mesmo se aliando com fascistas (MBL, Bolsonaro, etc) e lúmpens (narcotraficantes dos morros cariocas)? Como toda direita pós-moderna, age por lucro. Mais do que a defesa de uma agenda neoliberal (que os diferenciam dos fundamentalista clássicos), eles têm condutas neoliberais.

Porém, com a devida proporcionalidade entre desigualdade entre opressores e oprimidos, pode-se afirmar que quando a luta contra opressões se colapsa, se reduz, em meros patamares pós-identitários se convergencia, se iguala aos mesmos métodos e estratégias dos neofundamentalistas religiosos e dos neofascistas: uma guerra de posições culturalista e de segmentos minoritários entre si na tentativa de hegemonizar a maioria da população. Portanto, ambos são pós-modernos.

Com uma diferença: os neofundamentalistas e neofascistas têm o apoio de fundo das classes dominantes. E o contrário com os oprimidos, a menos quando isso se pode revelar lucro e não conflito aberto com o restante da burguesia. Foi o que fez o Santander.

Por outro lado, a velha "questão judaica" se refaz no Brasil contemporâneo em outros termos, combinado com o secular racismo aos negros e tradicionalismo cristão transmontano brasileiro, herança da escravidão e do colonialismo português, e reavivada pelo neoliberalismo e cultura pós-moderna.

Cabe simplesmente a autodefesa dos umbandistas, camdoblecistas e espíritas e sua aliança com movimento de combate às opressões.

Os evangélicos não devem se esquecer que são uma minoria religiosa. Se o catolicismo romano é tolerante e conivente hoje, isso pode virar no futuro. Se acham que com suas campanhas de satanizar os outros os tornarão maioria religiosa, estão muito enganados. Pelo contrário isso pode ser voltar contra eles.

Portanto, todos os segmentos oprimidos, sejam religiosos, raciais e étnicos, sexuais, devem sim se convergir com uma plataforma de mútua ajuda, em aliança com a maioria da população explorada, oprimida ao menos na sua espoliação da propriedade e nos frutos de seu trabalho. É preciso superar não apenas a cultura e a moral, e sim as instituições políticas e os mecanismos econômicos de espoliação e opressão.

E isso se chama Socialismo. Sob a bandeira socialista antes do stalinismo e da social-democracia todas essas lutas em um passado não tão distante foram uma só. É preciso que elas retornem imediatamente. E empunhar imediatamente a bandeira socialista: a única consequente na luta pelo direito de liberdade religiosa e das minorias étnicas e religiosas.

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