domingo, 6 de março de 2016

Alta da Bolsa e queda do dólar: o Mercado quer a queda da Dilma?

por Almir Cezar Filho

Paralelo ao noticiário político dominado pelas repercussões dos últimos lances da Operação Lava-Jato, o noticiário econômico da semana passada se pautou pela simultânea alta da Bolsa de Valores e pela queda do dólar. Mas afinal, o Mercado quer a queda da Dilma? Pelo menos é isso que as notícias nos passam a ideia.  Porém, fico com o diagnóstico emitido no comentário desta semana do Economia é Fácil, meu quadro do programa Censura Livre, da rádio Aliança FM 98,7 para São Gonçalo (RJ) e região (clique AQUI para ouvir o áudio), que aponta para uma conclusão totalmente diferente.

Muito pelo contrário, o Mercado no último ano - em que o país mergulhou numa profunda crise política cujo governo Dilma acabou paralisado e agudizou a crise econômica - deu várias demonstrações de não estar favorável ao impeachment da presidenta ou mesmo cassação da chapa pelo TSE. Por outro lado, uma conjunção de quatro fatores resultaram nessa euforia que elevou a Bolsa e abaixou o dólar nos últimos três dias, simultaneamente às últimas notícias da Operação Lava Jato, e que lhes impactaram muito mais.


Há uma vinculação um tanto artificial de que o Mercado até mesmo vem apostado na queda Dilma. Esse diagnóstico falseado inclusive vêm alimentando o discurso lulistas-petistas (e de setores do PSOL) de que o Mercado estaria por trás do juiz Moro, dos coxinhas, etc, de uma ofensiva até mesmo "golpista" ao Governo. O que sabemos ser uma baboseira.  O governo Dilma, e antes com Lula, foram anos de maiores lucros da História para bancos e bolsa de valores. Apesar de é verdade manter uma espécie de apoio precário, um pé atrás, em razão do tipo de governo.

Contudo, o contrário ocorre com a mídia, que aí sim, procura instigar a opinião pública a entender que seria melhor para a economia a queda de Dilma, PT e Lula. O Infomoney não é lá a fonte mais confiável, mas vale a leitura de como a galera que "joga" na Bolsa está enxergando esse momento, mas também como a mídia quer fazer crer, inclusive para eles. O jornalismo econômico da mídia patronal segue muito ideologizado, mesmo em veículos mais voltados ao próprio mercado.

Vamos aos quatro fatores que de fato influenciaram os resultados no mercado financeiro nessa semana:

Primeiramente, esta última semana, o noticiário econômico internacional deu uma revertida, em sentido oposto aos últimos meses, com sinais menos pessimistas vindo dos EUA e Europa, dando portanto um refresco a maré negativa dos últimos dois meses nas bolsas do mundo.

Também, em segundo lugar, as notícias otimistas vindo da China, país que vinha funcionando ao longo da crise como motor da economia mundial, mas que no último ano apresentou forte desaceleração. O governo de lá anunciou uma série de intervenções na tentativa de reverter o desaquecimento.

Por sua vez, em terceiro lugar, também foi nos últimos dias houve uma reversão na queda do preço do petróleo em razão de acordos entre os países produtores. Isso fez com que houvesse uma alta nas empresas petrolíferas e ligadas a essa commodity, como nos mercados produtores. A Petrobrás reverteu uma tendência de mais de um ano, com forte alta, puxando o restante do IBOVESPA. Nada tendo a ver com a Lava-Jato.

Por fim, se há uma vinculação no otimismo do mercado financeiro e o noticiário da crise política é que a cada vez que o Governo e o PT apanha da PF e MPF ou no Congresso com Cunha e Cia ou da oposição de direita ou mesmo da mídia, é a reação do Governo é uma virada neoliberal na sua política econômica na tentativa de obter confiança do Mercado. Não à toa a adoção do ajuste fiscal, da proposta de Reforma da Previdência, do contingenciamento, pacote de privatizações e concessões, etc. Medidas que beneficiam os agentes financeiros. O que não seria diferente com a elevação do tom de pancadas que o governo levou na semana.

Com relação a precificação dos custos de um eventual impedimento de Dilma, isto é verdade: já há muitos meses o Mercado já existiu e levou em consideração em suas decisões, com baixo impacto a novas notícias sobre os escândalos. O mesmo o fez com o rebaixamento na nota pelas agências de classificação de risco nos títulos da dívida brasileira semana passada pela Mood´s. Logo esta semana os últimos acontecimentos da Lava-Jato não repercutiram negativamente no Mercado.

Atualizado em 07/03/2016 às 10h21

Nenhum comentário:

Postar um comentário