Por que não a economia, estúpidos?
Marcos de Oliveira | Monitor Mercantil | 16/11/2015
Ninguém esperaria que o presidente francês, François Hollande, se tornasse, na crise, o estadista que nunca foi. Mas podia-se desejar, pelo menos, um discurso menos maniqueísta e raso do que o feito por ele nesta segunda-feira, no Parlamento. Ao insistir na mesma receita que visa obter imagens midiáticas e foge do ataque aos problemas centrais, Hollande segue apagando fogo com gasolina. Não deve ter sido pequena a fila de candidatos a terrorista nas portas do Estado Islâmico.
Enquanto bombardeava o que alega ser campo de treinamento e posto de comando do EI, pouco o Ocidente faz para reduzir os vastos recursos financeiros à disposição do grupo. O MONITOR MERCANTIL já mostrou, há pouco mais de um ano, que grande parte do financiamento ao Estado Islâmico vem do contrabando de milhões de barris de petróleo. A origem do óleo são os poços e as refinarias situadas no Norte do Iraque e no Norte da Síria já sob o poder do Estado Islâmico, que vende clandestinamente petróleo barato na Turquia. Os Estados Unidos tomaram tímidas medidas contra este “comércio”. O respeitado jornalista turco Alptekin Dursunoglu expressou surpresa sobre a relutância da coalizão liderada pelos EUA em bombardear depósitos de petróleo controlados pelo EI na Síria, que, segundo ele, são uma das principais fontes de renda do grupo jihadista.
Calcula-se que somente com contrabando de petróleo o califado arrecada US$ 2 milhões por dia; incluindo saques, doações e outras fontes, chega-se fácil a US$ 3 milhões. A Secretaria do Tesouro dos EUA já reconheceu, publicamente, que desconhece o volume de recursos que dispõe o EI, mas acredita que suas arrecadações somam vários milhões de dólares por mês. E explicou seu raciocínio: “Os volumes de recursos gastos mensalmente pelo EI são gigantescos.”
O apoio dos Estados Unidos na criação do Estado Islâmico é um segredo de polichinelo. Documentos do serviço secreto dos EUA, divulgados pela organização norte-americana Judicial Watch, relatam claramente o apoio ocidental à oposição armada ao regime sírio do presidente Bashar Al-Assad. Um dos documentos prevê com terrível exatidão a possibilidade de o Estado Islâmico atrair combatentes do exterior. Em outras palavras, há três anos os EUA aguardavam a fundação do Estado Islâmico como consequência direta de sua estratégia na Síria.
A frase de James Carville, estrategista da campanha vencedora de Bill Clinton, em 1992, buscava mostrar que era o desempenho da economia que motivava os eleitores. Os amplos recursos financeiros à disposição do Estado Islâmico garantem a força e abrangência do grupo. Interessa aos EUA e seus aliados atacarem esta fonte?
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