Queria agradecer aos companheiros pelos elogios e críticas enviadas a mim sobre o texto "Oscar Niemeyer, especial", mas gostaria de entrar na polêmica enviada por alguns amigos e leitores. Primeiramente, não compartilho de visões tão negativa de Niemeyer que chegaram a mim, embora respeito a caracterização dada. E, embora haja fatores fortes na realidade para ela, porém, não há elementos nenhum para descartar Niemeyer enquanto um gênio e alguém em que a vanguarda socialista e a classe devam celebrar.
No texto nunca tentei fazer uma elegia de Niemeyer, muito menos repetir a cantilena que a imprensa burguesa fez agora em sua morte. Quis mostrar os motivos, apesar de suas contradições, para que, como já disse, a vanguarda socialista e a classe, pudessem celebrá-lo, que não residia em uma "genialidade" individual, mas, sucessivamente, na capacidade dele de agregar pessoais especiais, em trabalhar coletivamente, em tratar o belo para as massas e em captar as aspirações estéticas e capacidade construtiva surgida no Brasil no século XX. E, é claro, nunca abandonar o ideal da justiça social, apesar do avançar da sua própria idade. Coisas que os textos que rapidamente li na mídia burguesa simplesmente negligenciavam, preferindo endeusá-lo de maneira oportunisticamente asséptica quanto a isso.
Pessoalmente, tenho críticas fortes sim a Niemeyer: sua adesão ao stalinismo, o apoio aos governos bonapartistas sui generis (os Castros em Cuba, Chávez na Venezuela, Brizola no Rio de Janeiro, etc), e justamente, falo disso no texto. Porém entendo que ele sempre o fez por boa vontade, e não por oportunismo. Porém, nenhum artista é unânime e isento de críticas. Pablo Picasso era um conhecido terrorista psicológico com as esposas e amigos, Salvador Dalí apoiou o início do regime franquista, Richard Wagner tinha um visão nacionalista que beirava o racismo e ao antissemitismo, Sergei Eiseinten capitulou a Stálin, e assim sucessivamente.
Por sua vez, a crítica que Niemeyer produziu as obras feitas a governos burgueses, pode ser relativada com um exemplo clássico, de Diego Rivera, o mesmo que acolheu Trotsky no México, que depois que descobriu o caso deste com Frida Kahlo rompeu relações políticas, e que sempre, produziu murais para os governos semi-ditatoriais do México e para burguesia internacional, vide encomendas de Rockefeller e Ford, por exemplo.
Há também, a crítica estética a Niemeyer, que eu mesmo em muito caso, compartilho, embora parcialmente. Mas nenhum artista gera unanimidade, inclusive em sua própria arte. Contudo, seu viés estético deve ser relativizado com seus propósitos artísticos e sua sensibilidade, como também os fins aspirados em suas obras. Seu faraonismo, por exemplo, deve ser contextualizado com a necessidade de atender as encomendas e sua preocupação de fazer obras para as massas, tanto para uso e finalidade, como para provocar espanto e monumentalidade aos usuários. Não muito diferente do que um escola de samba faz em seus desfiles, por exemplo. Tenho diferenças estéticas e arquitetônicas sim, mas devo reconhecer o valor e o talento dele. Prefiro Lúcio Costa a ele, mas nem por isso, devo negligenciá-lo, não reconhecendo seus méritos.
Recebi comentários a respeito da sua negligência em torno dos graves problemas ocorridos nos canteiros da construção de Brasília, em especial, o assim chamado Massacre da Pacheco Fernandes de 1959, mas mesmo quanto a isso, devemos ter cuidado. Carlos Drummond de Andrade deveria ser repudiado pelos socialistas só porque louvou Stálin em suas poesias da década de 1940, quando a URSS vencia Hitler e o fascismo internacional, ignorando as centenas de milhares de dissidentes em gulags? Ou devemos repudiar Jean Paul Satre e seu apoio ao maoísmo em plena Revolução Cultural chinesa? Devemos sim fazer a crítica.
Niemeyer não negou os massacres, mas podemos até dizer que se fez de "surdo". E por sua vez, a própria mídia noticiou pouco o caso na época, mesmo a imprensa alternativa, e até hoje é assim. Mas, se o negou, acredito eu, porque não conseguia compreender, e reconhecer, que em um local em que ele próprio pôde conviver com os peões de forma tão fraterna, como inúmeras vezes mencionou em entrevistas e conversas, poderia ter acontecido tão algo terrível. Ingênuo, mas não um canalha, ou idiota. Humano. Essa a dimensão que eu quis materializar no texto.
Por fim, queria fazer mais duas observações sobre o texto em si. A primeira é que, embora não seja uma desculpa, explica a forma que lhe foi feito. O texto me veio como uma inspiração, e feito as pressas, durante o almoço. Por sua vez, esta semana passei de maneira terrível e pesada, e estava muito sensível, portanto, reagi de maneira emocional ao texto idiota do idiota do Reinaldo Azevedo na Revista Veja, o que explica o tão levemente "adesista" e elogioso a Niemeyer, isto é, não mais de que tomando partido do ofendido. Mas também reagi, aos textos vazios e apologéticos da mídia sobre Niemeyer, que nada tratava de onde residia sua genialidade, que repito, na dimensão coletiva de seu trabalho e vida e em sua adesão ideológica ao socialismo.
A segunda, é que não redigi o texto voltado para site ou outro material de comunicação. Porém, agradeço a decisão de vários amigos de divulgar o material. Toda a mídia burguesa debateu o fato, e é bom não deixar uma lacuna junto a vanguarda, com uma versão nossa, mesmo que parcial e incompleta. Por outro lado, acredito que a imprensa alternativa e classista, deveria ser como no tempo de Lênin, um espaço para reflexão intelectual nascida no seio da classe, e portanto, aberta inclusive a polêmica, à menos que esta prejudique o trabalho de propaganda socialista e organizativo.
Assim, entendo que, caso algum leitor queira redigir outro texto sobre Niemeyer, ou mesmo, um texto de polêmica ao meu, deveria fazê-lo. Um movimento cheio polêmicas conduzidas de maneira fraterna, intelectualmente ricas e em base a vida concreta da classe, é necessário para construir o socialismo. Por isso, inclusive agradeço o espaço e as críticas.
A vida de Niemeyer, como a de qualquer artista, e de qualquer militante, não é uma vida reta, houve curvas. As curvas servem para valorizar as retas, mas elas, também por si só, também têm seu valor. Não há unanimidade nas curvas, não há curvas unânimes. E como nas obras de Niemeyer, mesmo que o observador não entenda, goste ou aceite, talvez sejam as curvas o mais importante, impressionantemente belo.
A vida de Niemeyer, como a de qualquer artista, e de qualquer militante, não é uma vida reta, houve curvas. As curvas servem para valorizar as retas, mas elas, também por si só, também têm seu valor. Não há unanimidade nas curvas, não há curvas unânimes. E como nas obras de Niemeyer, mesmo que o observador não entenda, goste ou aceite, talvez sejam as curvas o mais importante, impressionantemente belo.
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