Principal liderança do MST, o gaúcho João Pedro Stédile concedeu entrevista ao UOL Notícias, na qual falou sobre a questão agrária no Brasil, as eleições presidenciais de 2010, o governo Lula, a crise no Senado, além de fazer um balanço dos 25 anos do movimento. Suas respostas ilustram ao menos de maneira resumida a ideologia do MST, suas concepções sobre a reforma agrária e seu projeto político para o Brasil.
Na entrevista ao UOL Stédile afirma que há quatro projetos em disputas no Brasil, um deles é o do MST, que além de possível a construção de uma sociedade mais justa por meio das instituições democráticas atuais, defende um projeto diferente ao socialismo do PSTU e de correntes do PSOL: "... há outros setores da esquerda brasileira, mais radicais, correntes do PSOL e do PSTU, que defendem o "socialismo já"...nós, dos movimentos sociais, defendemos um quarto projeto, que chamamos de projeto popular, que é, nos marcos da nossa sociedade, fortalecermos de fato o Estado para que ele adote uma política econômica que leve ao desenvolvimento do país em benefício do povo. (...) seria uma ilusão achar que a solução seria uma reforma agrária socialista"
Vejam alguns trechos da entrevista:
UOL Notícias - É possível pensar em um projeto de esquerda para o Brasil, ou vislumbrar uma sociedade mais justa e igualitária, por meio das instituições democráticas que temos hoje?
Stédile - Claro. Há um debate na sociedade que se aglutina em quatro campos: alguns setores das elites, das classes dominantes, defendem a subordinação total do Brasil ao capital internacional. Aí estão os 5% mais ricos, as empresas transnacionais, os bancos, que são os que defendem políticas neoliberais e que, nos partidos, tem sua expressão, sobretudo, entre os tucanos e entre o DEM; temos um setor nacionalista, que está presente em todos os partidos, que defende um projeto "neo-keynesiano" para o Brasil, com algumas políticas de distribuição de renda, redução da taxa de juros e fortalecimento do mercado interno; há outros setores da esquerda brasileira, mais radicais, como correntes do PSOL e do PSTU, que defendem o "socialismo já". Eles acreditam que o capitalismo já chegou a sua maioridade aqui no Brasil e que não há outra saída sem o socialismo. Só que a palavra socialismo é muito forte. Significa socialização da propriedade dos meios de produção. Não é apenas você ser socialista no sentido humanista, ser socialista por querer uma sociedade mais justa; nós, dos movimentos sociais, defendemos um quarto projeto, que chamamos de projeto popular, que é, nos marcos da nossa sociedade, fortalecermos de fato o Estado para que ele adote uma política econômica que leve ao desenvolvimento do país em benefício do povo. Quais são os problemas fundamentais do povo no Brasil? Desemprego alto, falta de moradia, necessidade de reforma agrária e ausência de educação. Então, [nós defendemos] um programa para a sociedade que coloque o dinheiro público como prioridade para resolver os problemas do povo. Mas não basta colocar no papel "esse é o nosso projeto". É preciso construir, acumular forças populares que atuem para a implementação desse projeto.
UOL Notícias - Esse projeto popular é um caminho para uma sociedade socialista?
Stédile - Ele é fundamental. Ele seria uma espécie de transição para nós construirmos uma sociedade mais igualitária. Primeiro vamos resolver os problemas fundamentais da população. Que é comida, trabalho, moradia e educação. Depois, podemos avançar para a socialização de outros meios de produção da nossa sociedade.
UOL Notícias - Qual é o modelo de reforma agrária defendido hoje pelo MST?
Stédile - Na história das reformas agrárias, há dois tipos clássicos. Primeiro, a reforma agrária capitalista, que todos os países do hemisfério norte fizeram entre a metade do século 19 e ao longo do século 20 até a Segunda Guerra Mundial. E eles fizeram as reformas agrárias clássicas capitalistas distribuindo a propriedade da terra para fortalecer o mercado interno e desenvolver a indústria nacional. Depois houve uma outra reforma agrária clássica, que aconteceu no bojo de revoluções socialistas, ou de revoluções populares, como no Vietnã, China, Rússia, Nicarágua e Cuba. Qual é a realidade hoje no Brasil? Nós tentamos desde o início do movimento defender uma reforma agrária clássica capitalista, mas não há forças acumuladas burguesas que queiram essa reforma. Por isso que o governo não faz reforma agrária. Quem fez as reformas agrárias capitalistas? Foram as burguesias industriais, que queriam desenvolver o mercado interno e a indústria. Também seria uma ilusão achar que a solução seria uma reforma agrária socialista, porque essa reforma só acontece depois de uma revolução. Ela é casada com um processo revolucionário, que não é o que temos hoje no Brasil. O que nós propomos é uma reforma agrária que chamamos de popular, que se diferencia das duas. Nessa reforma não basta distribuir terra, como na reforma capitalista. É necessário também desenvolver agroindústrias na forma cooperativa, criar pequenas agroindústrias nos assentamentos. Assim, o agricultor sai mais rápido da pobreza, porque daí ele não vai só produzir matéria prima, mas também se apropriar do valor agregado dos produtos e gerar emprego no meio rural.
Para ler a íntegra acesse: http://noticias.uol.com.br/politica/2009/08/15/ult5773u2074.jhtm
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