(ciência & tecnologia)
por Almir Cezar Filho
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem realizando pesquisas sobre a viabilidade da produção de etanol a partir de uma espécie diferenciada de mandioca, descoberta no interior do Pará: a mandioca açucarada.
No Brasil a mandioca constitui-se importante produto agrícola, destacando o país como o segundo maior produtor mundial e por apresentar elevado teor de amido, que posteriormente pode ser transformado em glucose, a mandioca também pode ser utilizada como matéria-prima para a produção de álcool. As pesquisas, que seriam por si só importantes por conta disso, vêm apontando que a produção de etanol com mandioca açucarada gasta menos energia do que com milho e cana e pode ser mais barato, as usinas de cana podem ser facilmente adaptadas para sua produção e ainda ajudará a fixar população no campo.
O álcool de mandioca
“A produção de álcool carburante de mandioca é viável tanto do ponto de vista técnico quanto em relação a custo. E é também uma alternativa para o Brasil deixar de lado a monocultura da cana”, afirma o químico industrial Claudio Cabello, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu e diretor do Centro de Raízes e Amidos Tropicais da Unesp (Cerat), que estuda o assunto há quase 20 anos. Para ele, além da mandioca, todas as plantas amiláceas (produtoras de amido) – como milho, arroz, batata doce, inhame e cará – podem ser usadas na produção de álcool.
Em alguns períodos em que essa matéria-prima foi pautada como promissora no Brasil para essa finalidade. Seis usinas de álcool de mandioca chegaram a ser construídas no Brasil, na década de 1980, com financiamento público e incentivos fiscais. Mas como a cana-de-açúcar se mostrou a fonte mais viável na produção de álcool combustível, as usinas de mandioca foram gradativamente abandonadas. A única que sobreviveu redirecionou sua produção para outros produtos, como o álcool refinado, mais puro, usado em indústrias de perfumes, remédios e bebidas.
A mandioca açucarada
No processo convencional para fabricação do álcool a partir da mandioca é preciso hidrolisar o amido que está no tubérculo. É assim que se produz o açúcar, que é fermentado para fabricação do álcool. O problema é que a hidrólise é um processo dispendioso tanto em termos financeiros como energéticos. A variedade criada pela Embrapa dispensa o processo de hidrólise.
Em vez de amido, ela tem açúcar na raiz. E esse açúcar é a glicose, que é o substrato do processo de fermentação. De acordo com as pesquisas, a nova variedade reduz o custo energético em mais de 25%.
O álcool de mandioca vs. de cana-de-áçucar
O fato da mandioca não ter mostrado no passado viabilidade frente à cana-de-açúcar ocorre pelo fato daquela cadeia produtiva ter experimentado períodos de elevados investimentos no setor, o que levou à modernização do mesmo. O novo boom do etanol pelo mundo pode ressuscitar, e com mais viabilidade, essa antiga ideia, ainda mais com o domínio nacional de tecnologia do processo de produção de etanol e melhorias nas técnicas agrícolas.
Segundo a pesquisa, para cada caloria de energia investida com a mandioca há um retorno de 1,67 caloria de energia em etanol. “São 67% de lucratividade energética com a mandioca, contra 9% da cana e 19% do milho”, argumentou. “Portanto a mandioca é, entre os três produtos, o que causa menor impacto no agroecossistema de cultivo”, conclui. O estudo desconsiderou a utilização do bagaço da cana como fonte de energia.
Uma alternativa estratégica para o Brasil
No Brasil, a cana deverá continuar sendo a principal matéria-prima para a produção de álcool em razão dos ganhos de escala, o que torna o produto mais viável em relação à outros produtos agrícolas. Mas a mandioca poderá ser matéria-prima para o álcool em pequena escala e em regiões específicas, como nos estados do Norte e Nordeste, e justamente os principais projetos estão sendo implantados naquelas regiões atualmente.
E como uma parcela desse produto agrícola que será destinada ao fabrico de amido (alimentar) será re-direcionada à produção de combustível, pode exercer alguma influência sobre os preços da matéria-prima cronicamente deprecidos. Assim, o etanol de mandioca pode ajudar na agricultura familiar brasileira, promovendo geração de renda, desenvolvendo a cadeia produtiva da mandioca e derivados, além de criar diversos mecanismos que possibilitem a criação de negócios para o pequeno produtor rural, e como alternativa ao monocultura extensiva da cana-de-açúcar.
Com grandes investimentos em tecnologia agrícola e industrial para tornar a mandioca uma das principais alternativas energéticas. A intenção não é rivalizar com o etanol de cana-de-açúcar, mas ocupar nichos complementares. Além de que, sozinho o etanol de cana não dará conta da demanda, principalmente se o Brasil quiser exportar.
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