sexta-feira, 24 de março de 2017

O novo monarquismo no Brasil não é apenas neoliberal, é pós-moderno

Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 23

por Almir Cezar Filho

Alguns pessoas já devem ter percebido um recente interesse pela volta da monarquia no Brasil. O monarquismo neoliberal que está em moda entre a nova direita pós-Junho de 2013 cuja visibilidade se fez presente durante as manifestações pelo impeachment de Dilma, pode até chocar, mas há uma causa muito simples.

A direita pós-moderna condena todos os valores da Modernidade. Assim, buscam na Tradição, combinando-a com o livre-mercado, ou melhor, com a defesa do reino pleno da propriedade privada e dos negócios assegurados. 

Mas qual é a Tradição erudita no Brasil? E o desencanto com o regime político, materializado na república -  instalada aqui após o golpe cívico-militar republicano 1889? Só lhe resta na tradição o que há de mais reacionário possível, a monarquia dos Bragança, base de legitimação do escravagismo tardio do Brasil do século XIX.

Porém, pedem não uma monarquia europeia, dos regimes sociais socialdemocratas e de welfare state. Mas a volta do liberalismo tosco pré jacobinismo republicano, florianismo, ou mesmo anterior à Revolução de 1930, sem empresas estatais, educação pública, CLT, etc., identificado com o período antes da República e a suposição de que não haveria corrupção dos governantes, especialmente da mais alta autoridade do regime, os imperadores.

Por sua vez, em nada difere do que há no Oriente Médio hoje, com o desejo do retorno do Califado, da Justiça Islâmica (Sharia) e o predomínio do clero. O Isis (também chamado de Daesh ou Estado Islâmico) e mesmo o Talibã têm um programa econômico que é muito mais parecido com o Tea Party do que da velha Direita Ocidental, ou mesmo dos últimos governos do Sultanato Otomano ou do período que antecede o colonialismo europeu. 

Essa combinação esdrúxula e aparentemente paradoxal entre conservadorismo agudo e neoliberalismo, já se manifestava com Margareth Tchatcher, Ronald Regan, Augusto Pinochet, embora em medida menos extremada. Em comum entre todas essas direitas reacionária em política e moral e liberista em economia, além da ruptura com os valores da Modernidade, uma base social calcada na classe média, pequena-burguesia e baixos estratos da burguesia, porém tolerada e patrocinada por parte da grande burguesia. 

São portanto, não apenas expressão do desencanto com o seu respectivo sistema político nacional, mas simultaneamente as aspirações de grandeza de uma elite periferizada, desprestigiada, e de saudosismo a tempo passado idealizado, onde imperaria a moral e os bons costumes, e os tais "homens de bem" viveriam soberanos e seguros.

No caso dos monarquistas, a tal saudade de Dom Pedro II, considerado o maior estadista da história brasileira? Contudo, ignora-se questões fundamentais. Pode ser que em país como o nosso um intelectual e mecenas como ele pode ter destoado. Mas, por outro lado, foi um chefe de Estado que governou por 49 anos e não fundou nenhuma universidade pública. As duas principais leis emancipadoras do trabalho escravo foram sob a regência de sua filha (Lei do Ventre Livre e a lei Áurea). E sob sua influência direta sobre ministros, o Barão de Mauá foi prejudicado em vários projetos industrializantes. Realmente, o Brasil não tem a classe política que merece. Nem hoje, nem ontem...

Ligados a propriedade privada esses setores sociais não conseguem ver que reside no Capitalismo, na acumulação capitalista e no desenvolvimento da sociedade burguesa a decomposição da família convencional; a integridade, honestidade e confiança; as garantias de funcionamento e proteção aos pequenos e médios negócios; e proteção contra um Estado contemporâneo a la Kafka.

Portanto, ao contrário de que esses setores pensam, reside não em um "resgate" dentro capitalismo, mas no Socialismo, isto é, na supressão da anarquia capitalista e da grande propriedade privada dos meios de produção, a superação da crise contemporânea.
Atualizado em 25/03/2017

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