quinta-feira, 29 de maio de 2025

TEMPO, PLANEJAMENTO E TRANSFORMAÇÃO: A coerência motivacional retroativa como princípio para a teoria econômica, a política pública e o fomento ao desenvolvimento

Um ensaio heurístico-dialético aplicada à Economia


Por Almir Cezar Filho


Vivemos em um tempo de incertezas profundas, marcado por choques externos, transições tecnológicas aceleradas e limites ambientais. Nesse contexto, cresce a exigência por políticas públicas que não apenas resolvam problemas imediatos, mas que preservem a coerência estratégica e histórica de seus objetivos. Este ensaio propõe uma lente alternativa para pensar a racionalidade econômica e a ação governamental no tempo: a coerência motivacional retroativa.

Este ensaio propõe uma lente alternativa para pensar a racionalidade econômica e a ação governamental no tempo: a coerência motivacional retroativa.

Trata-se de uma heurística — ou seja, uma regra prática orientadora que ajuda a pensar e agir em cenários complexos, instáveis ou incertos. Heurísticas não pretendem fornecer soluções fechadas, mas sim guiar decisões eficazes quando os modelos tradicionais não dão conta da realidade. No planejamento e na formulação de políticas públicas, esse tipo de ferramenta é essencial, pois permite alinhar intenção e efeito mesmo quando as condições mudam e os resultados são parcialmente imprevisíveis.

Originalmente inspirada por reflexões filosóficas e paradoxos da literatura de ficção científica, essa noção assume aqui um novo papel: o de princípio heurístico para o planejamento e o fomento ao desenvolvimento. Ela parte de uma pergunta fundamental: uma política continua justificável quando seus efeitos anulam ou distorcem os fins que a motivaram? Em outras palavras, os resultados de uma intervenção pública ainda legitimam a motivação que a originou?

A Economia contemporânea já opera com modelos baseados em expectativas retroalimentadas, como no caso das expectativas racionais. Entretanto, a teoria da coerência motivacional retroativa sugere um passo além: considerar não apenas as consequências econômicas previstas, mas a manutenção ou transformação da motivação que justifica as decisões.

Políticas econômicas ou movimentos de mercado só se sustentam historicamente se os efeitos retroativos dessas ações reproduzem ou atualizam a motivação que as impulsionou.

Exemplo: Um país adota uma política de juros altos para conter a inflação. Se, de fato, a inflação cai, mas ao custo de uma recessão prolongada, desemprego em massa e precarização social, a motivação original — estabilizar a economia — pode perder sua legitimidade.

Nesse caso, os sujeitos sociais/agentes econômicos exigem mudanças, ou até reversão, na política econômica, mesmo que ainda esteja em curso ou até nem tenha completado/finalizado a sua atuação. Isto é, a ação entra em contradição retroativa: os meios deslegitimam o fim.

Esse critério permite uma avaliação histórica da legitimidade das políticas econômicas, não apenas em termos de eficácia técnica, mas de coerência estratégica ao longo do tempo.


1. A Crise da Causalidade Linear nas Políticas Econômicas

Grande parte da teoria econômica moderna opera com um modelo de causalidade linear: políticas geram efeitos que, por sua vez, são avaliados por indicadores. Entretanto, crises sucessivas — como a estagflação, o colapso financeiro de 2008, ou os efeitos distributivos regressivos de reformas estruturais — mostraram que resultados econômicos podem deslegitimar a intenção original de uma política.

A lógica da coerência motivacional retroativa propõe, nesse cenário, um teste de consistência estratégica ao longo do tempo. Uma ação econômica ou institucional só se sustenta se os contextos que ela gera ainda justificam a sua adoção — ou reconfiguram, de forma coerente, sua motivação inicial.

Esse problema decorre, em parte, da persistência do raciocínio causal linear e do uso sistemático do ceteris paribus nos modelos econômicos, que isolam variáveis como se o restante do sistema permanecesse inalterado. No mundo real, porém, as políticas públicas e as decisões econômicas operam em contextos dinâmicos e interativos, onde cada ação modifica as condições iniciais e afeta outras variáveis relevantes. A coerência motivacional retroativa se apresenta, nesse cenário, como uma alternativa mais adequada: ela rejeita a fixação artificial de parâmetros e propõe um critério de causalidade histórico-dinâmica, em que a ação só se justifica se seus efeitos preservarem — ou reconfigurarem de modo legítimo — a motivação que a originou.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Uma teoria dialética da coerência temporal com implicações para a economia, a história, a luta social (…e a ficção científica)

Por Almir Cezar Filho


Vivemos um tempo em que a realidade parece escapar pelas frestas e o futuro se dissolve em incertezas. Talvez, diante disso, devêssemos pausar e encarar uma pergunta incômoda: o que realmente justifica uma ação política ou histórica? Basta vencer uma batalha? Impedir uma medida regressiva é suficiente? Ou é preciso mais: garantir que nossas vitórias preservem, no tempo, a razão pela qual lutamos?

Hoje, a ação parece cada vez mais desconectada de suas consequências. O futuro, quando não é temido, é descartado. Crises superpostas, decisões apressadas, mobilizações frustradas e retrocessos disfarçados de avanços formam o pano de fundo deste cenário. O que, então, justifica uma ação histórica? Basta o êxito imediato ou devemos considerar se a vitória mantém viva a coerência com o projeto que a motivou?

Este ensaio propõe uma reflexão filosófica que parte de uma especulação provocadora — a hipótese da viagem no tempo — para propor uma teoria com implicações políticas, históricas e éticas: a da coerência motivacional retroativa. Inspirada nos paradoxos clássicos da ficção científica, essa hipótese convida a pensar não apenas sobre os limites da causalidade, mas sobre o próprio sentido das transformações que buscamos. O tempo, aqui, não é mero cenário das ações humanas, mas um espelho crítico que interroga: nossas ações ainda fazem sentido, depois de realizadas?

O paradoxo temporal — a possibilidade de uma viagem ao passado alterar o futuro a ponto de impedir a própria viagem — tornou-se um tema recorrente na ficção científica moderna. De O Exterminador do Futuro a Dark, de Looper a Interestelar, a obsessão narrativa por curvar, refazer ou corrigir o tempo expressa uma ansiedade histórica profunda da nossa era. Em tempos de colapso ambiental, instabilidade democrática e avanços tecnológicos acelerados, o desejo de voltar atrás e refazer bifurcações perdidas transformou-se num anseio coletivo, mascarado de entretenimento.

Porém, a ficção científica nunca foi apenas escapismo. Ela funciona como um laboratório filosófico da razão humana, onde hipóteses radicais são testadas em cenários simbólicos. Em um mundo que parece girar mais rápido do que nossa capacidade de compreendê-lo, a sci-fi fornece não apenas metáforas potentes, mas estruturas lógicas alternativas para pensar tempo, causalidade, responsabilidade e agência. Ao encenar paradoxos temporais, a arte nos ensina a enfrentar as contradições do presente com rigor e, quem sabe, a encontrar saídas.

Mais que um gênero, a ficção científica opera como dispositivo epistemológico e estratégico. Ela antecipa tecnologias, projeta sistemas sociais, modelos econômicos alternativos, cenários de escassez, colapso ou utopia — oferecendo ferramentas heurísticas a campos como a economia, a sociologia, o urbanismo, a engenharia e o planejamento político. Modelos econômicos pós-trabalho, sociedades baseadas em inteligência artificial, crises de recursos ou reorganizações estatais: tudo isso foi primeiramente explorado pela ficção, antes de se tornar pauta nos fóruns da política global.

Nesse sentido, a ficção científica também é um instrumento de luta para os movimentos sociais. Ao imaginar futuros possíveis — e, às vezes, futuros a evitar — rompe com o fatalismo histórico e o estreitamento do imaginário imposto pelas ideologias dominantes. Permite que os movimentos populares formulem estratégias de longo prazo, reconstruam narrativas e visualizem o impacto sistêmico de suas ações — inclusive em termos temporais: coerência entre meios e fins, entre causas e efeitos. O tempo, nesse contexto, deixa de ser fluxo linear e passa a ser campo simbólico e estratégico a ser disputado.

Falo também de um lugar pessoal. Desde a infância fui marcado pelas sagas de Star Wars e Star Trek. Em suas galáxias distantes e futuros especulativos, não vi apenas naves e batalhas, mas projetos de sociedade. Star Trek me apresentou, ainda criança, a ideia de uma federação interplanetária onde o conhecimento e a cooperação superam a escassez. Star Wars, por outro lado, me ensinou que impérios caem — mas apenas quando a resistência se organiza e ousa imaginar alternativas. Essas obras, embora distintas, foram decisivas para meu despertar intelectual, moldando meu interesse pela economia e meu posicionamento político à esquerda: crítico às desigualdades, atento às estruturas de poder e comprometido com a ideia de que outros futuros são possíveis — mas que é preciso agir com coerência entre o que se sonha e o que se constrói no tempo.

Assim, proponho uma provocação filosófica com consequências muito concretas: e se fosse possível voltar no tempo e mudar o passado, mas apenas se o novo futuro ainda justificasse a viagem no tempo que o provocou? Esse princípio evitaria os famigerados paradoxos temporais e preservaria uma lógica: o tempo pode mudar, mas não pode perder o sentido que o impulsionou. A coerência motivacional retroativa não precisa ficar restrita ao domínio dos paradoxos: ela oferece uma lente original para pensar a história, a economia e a conjuntura política.

VI. Conclusões

[...]

4. Tempo, sentido e compromisso

A metáfora clássica do tempo como uma linha reta já não dá conta da complexidade histórica contemporânea. A História não anda em linha: ela gira, bifurca, se dobra, e, frequentemente, nos obriga a retornar — se não fisicamente, como nas narrativas de ficção científica, ao menos simbolicamente, para corrigir, reavaliar e recolocar sentido onde ele se perdeu.

Talvez esta seja a verdadeira tarefa da política em tempos de crise:
agir com a consciência de que o tempo exige coerência.
Não é o futuro que redime o passado, mas a capacidade de manter viva a motivação histórica da ação, mesmo após os seus efeitos.

A coerência motivacional retroativa nos oferece mais do que uma teoria especulativa: oferece um critério ético e estratégico para evitar tanto o cinismo do poder quanto a ingenuidade do ativismo vazio.

Ela nos ensina que transformar o mundo não basta:
é preciso transformá-lo de tal modo que, ao olharmos para trás, ainda nos reconheçamos no gesto que o fez possível.


PARADOXOS TEMPORAIS: Causalidade retroativa, plasticidade do tempo e preservação motivacional



Uma Teoria Dialética heurística da Coerência Temporal com usos para a Economia, História, Luta Social (…e Sci-Fi)

Por Almir Cezar Filho

Assista também: https://youtube.com/shorts/MVdN4IDnXzM

Vivemos um tempo em que a realidade parece escapar pelas frestas e o futuro se dissolve em incertezas. Talvez, diante disso, devêssemos pausar e encarar uma pergunta incômoda: o que realmente justifica uma ação política ou histórica? Basta vencer uma batalha? Impedir uma medida regressiva é suficiente? Ou é preciso mais: garantir que nossas vitórias preservem, no tempo, a razão pela qual lutamos?

Hoje, a ação parece cada vez mais desconectada de suas consequências. O futuro, quando não é temido, é descartado. Crises superpostas, decisões apressadas, mobilizações frustradas e retrocessos disfarçados de avanços formam o pano de fundo deste cenário. O que, então, justifica uma ação histórica? Basta o êxito imediato ou devemos considerar se a vitória mantém viva a coerência com o projeto que a motivou?

Este ensaio propõe uma reflexão filosófica que parte de uma especulação provocadora — a hipótese da viagem no tempo — para propor uma teoria com implicações políticas, históricas e éticas: a da coerência motivacional retroativa. Inspirada nos paradoxos clássicos da ficção científica, esta hipótese convida a pensar não apenas sobre os limites da causalidade, mas sobre o próprio sentido das transformações que buscamos. O tempo, aqui, não é mero cenário das ações humanas, mas um espelho crítico que interroga: nossas ações ainda fazem sentido, depois de realizadas?

O paradoxo temporal — a possibilidade de uma viagem ao passado alterar o futuro a ponto de impedir a própria viagem — tornou-se um tema recorrente na ficção científica moderna. De O Exterminador do Futuro a Dark, de Looper a Interestelar, a obsessão narrativa por curvar, refazer ou corrigir o tempo expressa uma ansiedade histórica profunda da nossa era. Em tempos de colapso ambiental, instabilidade democrática e avanços tecnológicos acelerados, o desejo de voltar atrás e refazer bifurcações perdidas transformou-se num anseio coletivo, mascarado de entretenimento.

Porém, a ficção científica nunca foi apenas escapismo. Ela funciona como um laboratório filosófico da razão humana, onde hipóteses radicais são testadas em cenários simbólicos. Em um mundo que parece girar mais rápido do que nossa capacidade de compreendê-lo, a sci-fi fornece não apenas metáforas potentes, mas estruturas lógicas alternativas para pensar tempo, causalidade, responsabilidade e agência. Ao encenar paradoxos temporais, a arte nos ensina a enfrentar as contradições do presente com rigor e, quem sabe, a encontrar saídas.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Paradoxo Temporal: Você já imaginou mudar o passado… sem destruir o sentido da sua própria ação? 🤯

Você já imaginou mudar o passado… sem destruir o sentido da sua própria ação? 🤯
Neste vídeo, apresentamos a Coerência Motivacional Retroativa, uma teoria dialética poderosa em heurística que conecta viagem no tempo, transformação social e estratégia política.
Partimos da ficção científica — de "O Exterminador do Futuro" a "Dark" — para propor uma reflexão profunda: não basta transformar, é preciso preservar o sentido da transformação!


👉 Aplicações práticas para a Economia, História, Luta Social… e, claro, para a Ficção Científica!
👉 Descubra como a ação política pode ser coerente com seus próprios fundamentos, mesmo em tempos de crise e incerteza.
🔗Link: https://youtube.com/shorts/MVdN4IDnXzM

Debate sobre o ciclo capitalista de longo prazo entre Trotski vs. Kondratiev e a solução pelas categorias "regulação" e "direção"

Por Almir Cezar Filho

📊 O debate entre Kondratiev e Trotski sobre a dinâmica de longo prazo do capitalismo marcou a teoria marxista. Neste vídeo, explicamos de forma rápida e clara por que a solução passa pela síntese entre dois conceitos: regulação pela lei do valor e direção política.
Descubra como superar o velho dilema entre economicismo e politicismo!
⚙️ Regulação → estrutura os ciclos econômicos 🧭 Direção → conduz o desenvolvimento histórico

Assista - clique aqui: https://youtube.com/shorts/P23hn6w1Asg

sábado, 24 de maio de 2025

No Brasil, quem vive do trabalho paga imposto pesado, quem vive de renda... não paga nada!

 💰 Desde 1995, lucros e dividendos distribuídos a acionistas são isentos, enquanto trabalhadores arcam com até 27,5% de IR. Neste vídeo, desmontamos os mitos sobre a chamada “bitributação” e mostramos por que tributar lucros e dividendos é o mínimo de justiça fiscal.

📊 Países como EUA e Alemanha tributam — e continuam atraindo investimentos!

💸 No Brasil, só os super-ricos ganham: os 0,1% mais ricos concentram 70% dos rendimentos isentos. A pergunta é: Lula e Haddad terão coragem de aprovar essa medida?

Assista aqui: https://youtube.com/shorts/zDE5tIf59CI 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Crise, Ciclo e desenvolvimento no capitalismo: A solução do debate Kondratiev-Trótski a partir das idéias de regulação e direção

 A solução do debate Kondratiev-Trótski a partir das idéias de regulação e direção1 2

Prólogo

A relação entre crise e ciclos econômicos e o desenvolvimento do capitalismo é uma tema palpitante, especialmente no período de uma crise. O artigo3 procura fazer um primeiro apanhado do meu entendimento sobre a questão, onde procuro desenvolver a solução do problema de maneira distinta do que a intelectualidade marxista sempre a vem tratando, em especial as naturezas objetiva versus subjetiva e o caráter econômico x não-econômico do ciclo e da dinâmica econômica.

Embora outros autores4 cheguem a conclusões aproximadas deste artigo, e tratem até com maior profundidade a questão da polêmica e a abordagem diferente sobre ciclo entre Trótski e Kondratiev, esses não tratam as implicações fundamentais dessa controvérsia e os seus três desdobramentos obrigatórios: (i) a relação entre o ciclo e a crise e as determinações dessa dinâmica alternante, (ii) a relação entre dinâmica de longo prazo e o desenvolvimento econômico e (iii) que os capitalismos nacionais são partes de um sistema capitalista, totalizante e mundial. Assim, também se condena qualquer compatibilidade entre a tese de “onda longa” com o entendimento trotskista de dinâmica de longo prazo do Capitalismo, inclusive uma eventual correspondência entre onda longa e ciclo longo.

Por fim, o presente artigo além do debate Trótski-Kondratiev, encontra ainda na própria literatura marxiana a solução do dilema teórico das ligações entre "ciclo e tendência, entre dinâmica e desenvolvimento econômico e entre esfera política e esfera econômica, que de fundo permeou o debate.

A solução é encontrada pelo método de recortar a realidade sistêmica do Capitalismo entre seus mecanismos de “regulação” e de “direção”, isto é, entre a determinação pela lei do valor e a “primazia” da política, como ficará mais claro ao final do artigo. Como consequência do artigo, esse instrumental permite ao estudioso marxista da conjuntura e/ou da trajetória de desenvolvimento superar o falso dilema “economicismo” versus “politicismo”.

(1) Apresentação

No início dos anos 1920 o economista russo Nicolai Kondratiev pioneiramente produziu um estudo sobre a regularidade do desenvolvimento da economia capitalista e definiu com base em análises estatísticas que a uma fase de expansão segue-se outra de contração. Frequentemente marxistas, e mesmo não-marxistas, costumam analisar a dinâmica de longo prazo do capitalismo a partir da teoria das “ondas longas” de Kondratiev.

Atualmente, vivemos o início de um revival do pensamento de Kondratiev, com a crise econômica mundial aparecida em 2007, finalizando um forte ciclo de prosperidade vivida pelo mundo desde o início da década de 2000. Com isso alguns intelectuais aparentemente passaram a ver nesse fato a manifestação ou prova viva da validade da dessa teoria.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Conjuntura: Lula se equilibra entre Trump, Xi e Putin. Haddad corre para agradar o mercado e STF julga os golpistas.

📌 Lula aperta a mão de Putin e Xi. Enquanto Lula busca apoio entre potências como China e Rússia, o governo afunda em escândalos como o do INSS.
🌎 No cenário global, as guerras seguem devastando Gaza e a Ucrânia, enquanto a tensão entre Estados Unidos e China ganha novos capítulos.
💰Haddad corre para agradar o mercado enfrenta o fantasma dos juros altos. E o STF julga os golpistas do 8 de janeiro e vê a extrema-direita ser julgada.
⚠️  De Brasília a Pequim, de Gaza a Wall Street — os ventos da crise varrem o planeta. Mas quem paga a conta é o povo.
🎧 Vem entender a conjuntura com Cyro Garcia no Economia É Fácil. Um giro completo pela geopolítica e economia, com olhar crítico, popular e independente.


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Agir no Tempo sem Trair a História - Uma Teoria Dialética da Coerência Temporal com uso para Economia, História, luta social (...e Scifi)


Causalidade retroativa, plasticidade do tempo e preservação motivacional 
(Ensaio)

Por Almir Cezar Filho

Num tempo em que a realidade parece escapar das mãos e o futuro se dissolve em incertezas, talvez devêssemos parar e fazer uma pergunta incômoda: o que justifica uma ação política ou histórica? Vencer uma batalha basta? Impedir uma medida é suficiente? Ou devemos ir além: será que nossas vitórias mantêm viva a razão pela qual lutamos?

Vivemos tempos em que a ação parece cada vez mais desconectada de suas consequências, e o futuro — quando não é temido — é simplesmente descartado. Em meio a crises superpostas, decisões políticas apressadas, mobilizações frustradas e retrocessos que se anunciam como avanços, uma pergunta incômoda se impõe: o que realmente justifica uma ação histórica? Basta vencer uma batalha? Impedir uma medida regressiva? Conquistar uma reforma? Ou será que há algo mais sutil, porém essencial: nossas vitórias ainda preservam a razão pela qual lutamos?

Este ensaio parte de uma especulação provocadora — a hipótese da viagem no tempo — para propor uma teoria com implicações concretas para o pensamento político, histórico e ético: a da coerência motivacional retroativa. Inspirada em paradoxos clássicos da ficção científica, ela nos convida a refletir não apenas sobre os limites da causalidade, mas sobre o próprio sentido das transformações que buscamos. O tempo, aqui, não é apenas o pano de fundo onde agimos — ele é o espelho crítico que interroga se nossas ações ainda fazem sentido depois de terem sido realizadas.

O paradoxo temporal — a ideia de que uma viagem ao passado poderia alterar o futuro a ponto de impedir a própria viagem — tornou-se um dos temas mais recorrentes da ficção científica moderna. De O Exterminador do Futuro a Dark, de Looper a Interestelar, a obsessão narrativa por alterar o tempo, curvá-lo, refazê-lo ou corrigi-lo parece refletir uma ansiedade histórica profunda da nossa era. Em tempos de colapso ambiental, instabilidade democrática e avanços tecnológicos acelerados, a ideia de voltar atrás, desfazer erros, reconstruir bifurcações perdidas da história tornou-se um desejo coletivo mascarado de entretenimento.

Mas a ficção científica nunca foi apenas escapismo. Ela opera como laboratório filosófico e imaginativo da razão humana, onde hipóteses radicais são testadas em cenários simbólicos. Em um mundo que parece girar mais rápido do que a capacidade de compreendê-lo, a sci-fi oferece não apenas metáforas poderosas, mas estruturas lógicas alternativas para pensar tempo, causalidade, responsabilidade e agência. Ao encenar paradoxos temporais, a arte nos ensina a encarar as contradições do presente com rigor, e talvez até a encontrar saídas possíveis para elas.

Mais do que um gênero literário ou cinematográfico, a ficção científica opera como um dispositivo epistemológico e estratégico. Ela não apenas antecipa tecnologias, mas projeta sistemas sociais, modelos econômicos alternativos, cenários de escassez, colapso ou utopia — e, ao fazer isso, oferece ferramentas heurísticas para áreas como economia, sociologia, urbanismo, engenharia e até mesmo planejamento político. Modelos econômicos pós-trabalho, sociedades baseadas em inteligência artificial, crises de recursos, reorganização dos Estados — tudo isso já foi explorado na ficção décadas antes de se tornar pauta nos fóruns de política global.

Nesse sentido, a ficção científica pode ser também um instrumento de luta para movimentos sociais. Ao imaginar futuros possíveis (e às vezes futuros a evitar), ela rompe com o fatalismo histórico e o estreitamento do imaginário imposto pelas ideologias dominantes. Permite que os movimentos populares pensem estratégias de longo prazo, reconstruam narrativas e visualizem o impacto sistêmico de suas ações — inclusive em termos temporais, como a coerência entre meios e fins, ou entre causas e efeitos. O tempo, nesse contexto, não é mais um fluxo linear a ser suportado, mas um campo simbólico e estratégico a ser disputado.

Falo também de um lugar pessoal. Desde a infância, fui marcado pelas sagas de Star Wars e Star Trek. Em suas galáxias distantes e futuros especulativos, não vi apenas naves e batalhas, mas projetos de sociedade. Star Trek me apresentou, ainda criança, a ideia de uma federação interplanetária onde o conhecimento e a cooperação superavam a escassez. Star Wars, por outro lado, me ensinou que impérios caem — mas só quando a resistência se organiza e ousa imaginar alternativas. Essas obras, embora muito diferentes entre si, foram decisivas para me despertar para os estudos da economia e moldar meu posicionamento político à esquerda: crítico às desigualdades, atento às estruturas de poder, e profundamente comprometido com a ideia de que outros futuros são possíveis — mas que é preciso agir com coerência entre o que se sonha e o que se constrói no tempo.

Proponho aqui uma provocação filosófica inspirada na ficção científica, mas com consequências bem reais. É uma hipótese que nasce de uma especulação: e se fosse possível voltar no tempo e mudar o passado, mas apenas se o novo futuro ainda justificasse a viagem no tempo que o provocou? Isso evitaria os famigerados paradoxos temporais e preservaria uma lógica: o tempo pode mudar, mas não pode perder o sentido que o impulsionou. Essa ideia — a coerência motivacional retroativa — não precisa ficar restrita ao reino dos paradoxos. Ela nos oferece uma lente original para pensar história, economia e conjuntura política.