segunda-feira, 1 de junho de 2020

Trump, Bolsonaro e os novos bonapartistas: o divisionismo permanente e a grandeza no passado idealizado

por Almir Cezar Filho

Casa Branca, sede dos governo mais poderoso do planeta Terra, cercada de manifestantes. O presidente dos EUA Donald Trump em um bunker, tweetando freneticamente e ameaçando usar o Exército contra os manifestantes. Nenhum apelo à unidade nacional e à paz. Ao contrário, acusações ao movimento ANTIFA e frases abertamente divisionistas. 

Trump, como no Brasil Jair Bolsonaro, mas a sua maneira, precisa polarizar o tempo todo, pra manter uma base coesa e radicalizada, que lhe sirva como sustentáculo eleitoral e massa de manobra para pressão sobre as instituições da república.

Os bonapartistas do século XIX e XX, clamavam pela unidade nacional. Embora exigindo submissão completa, e "morte" aos inimigos (que não se submetem). Os bonapartistas antigos falam representar, ser porta-voz, das "maiorias silenciosos", mas sempre apelando à unidade nacional. No entanto, já os bonapartistas do século XXI, não querem a unidade; não a precisam. Apenas contam com o medo ou apatia das maiorias. Mas quando não podem contar com o medo das maiorias?

Os bonapartistas antigos ofereciam a promessa de preservação da paz, combinada com a restauração da ordem, trazendo a uma nova era prosperidade e grandeza. Os novos bonapartistas prometem o contrário: a guerra interna e o retorno a "era de ouro" perdida.

Por quê? As massas, de um lado ou de outro, não confiam e não querem a manutenção da ordem atual das coisas.

Os bonapartistas eram conservadores, ou, quanto muito, modernizadores conservadores. Os novos: reacionários, mas sem dúvida, carregam uma falsa áurea de "antissistema", ou melhor, são disruptivos.

E Bolsonaro?
A máquina de contrapropaganda do bolsonarismo é mais eficaz do que a da grande mídia. Há um grau tão grande de ceticismo em amplas camadas da população que qualquer notícia é recebida com descrédito de tal forma que fica vulnerável a autoverdades, pós-verdades e fakenews.

Bolsonaro está fazendo as jornalistas de direita descobrirem que machismo não é mimimi. Ele e seus filhos são imorais e corruptos, mas pra classe média decadente, seu moralismo de goela do meio do século passado e sua cruzada antiprogressista, simbolizam o último suspiro de seus privilégios em ruínas, o revival de um mundo passado que agora idealizam.

Há setores da população muitos ganhos ao bolsonarismo, que aceitam com docilidade a narrativa bolsonarista mesmo que seja pouco verossímil. Penso que não seja alvo consciente, mas uma espécie de crença, fidelidade por escolha, mas fidelidade.

Decorrentes da conjunção desses fatores. Mas, acrescidas de três outros: o ódio ao petismo (como um traidor); uma aposta no ultraconservadorismo, como uma espécie de indignação antissistema; e a mentalidade conservadora em si de uma ampla camada da população, agora reavivada pela ultradireita.
Contudo, não pense que há uma camada fascitóide que abarque 1/3 da população, como se justifica o petismo, pra se isentar de responsabilidade. As pesquisas qualitativas de opinião mostram isso com clareza. E a própria pesquisa eleitoral antes da prisão de Lula ou mesmo antes da facada em Bolsonaro mostram isso. As pessoas afinadas com posições filofascistas não representam nem 10% da população. Mas há uma camada adicionou de 15% a vinte e poucos porcentos que são, de fato, ultraconservadoras. Justamente o percentual que respondeu que votariam em Bolsonaro no 1º turno antes da facada.

Mas realmente ainda há um terço da população, justamente os que votaram nele no 2º turno, que seguem o apoiadam quase que incondicionalmente. São eles que teremos mais dificuldades de convencer. Ou mesmo, nunca ganharemos, ao ponto de talvez de termos de desistir de atuar sobre eles - talvez já estejam perdidos.

Mas essa situação está gerando mais instabilidade à burguesia.

O bonapartismo geralmente se consolida, ao menos na promessa, de estabilização da luta de classe e derrota da ameaça da revolução social, mesmo que às custas de extrema violência e de arbítrio, que até possa comprometar um ou outro interesse da burguesia. Contudo, o bolsonarismo, tal qual Trump, e outros similares neste momento no mundo, não age assim. O bolsonarismo alimenta a instabilidade política permanente. Ele só sobrevive assim.

Os setores liberais de centro-esquerda erram em apostar numa via de promessa de reconciliação nacional e de fim da polarização. Isso perde em dois aspectos:

1- as massas apesar de cansadas não apostam mais em posições “mornas”, centristas. O impeachment, e a posterior vitória de Bolsonaro, e com suas “obras” levaram a luta de classe a um ponto sem volta. E suas ações alimentam permanentemente a crise, reforçam-na.

2- a alta burguesia quer uma frente ampla, desde que, a tal frente se disponha a gerar (ou pregar) a paz social.

Por ainda, para ser consequentes com essa análise que, nossa tática prioritária pro período é jogar crise ainda maior. Especialmente dentro da própria burguesia.

Na conjuntura recente os únicos momentos que obtivemos vitórias, ou que a imagem de Bolsonaro foi arranhada, foi quando os “de cima” não aceitaram suas ações. Ou porque os pressionamos a enfrentar um “malfeito” dele, seus ministros ou dos filhos zero alguma coisa. Ou porque ficou explícito demais o caráter protofascista do governo.

Bolsonaro, como seus similares pelo mundo atual, como Kaczynski da Polônia, Orban da Hungria, Duterte das Filipinas, ou mesmo Trump, ao apostar na crise permanente, não pode fechar o regime, e implantar um ditadura, como se apavora boa parte da Esquerda e Centro-esquerda. Mas segue se apoiando numa espécie de semibonarpartismo permanente, aparado pelos aparelhos de segurança pública, no Judiciário manipulado(r) e das igrejas cristãs americanizadas.

Mesmo semeando o caos, para se postular como “Salvador”, a burguesia não confia neles ao ponto de dispensar das demais instituições políticas que lhe servam de contrapeso.

A burguesia fecha com Bolsonaro para seguir impondo às massas confusão, e permitindo aprovar a agenda ultraliberal, mas sabe que segue precisando tanto do Congresso controlado por Maia e Alcolumbre e seu Centrão e do dócil oposição do PT simultaneamente nos sindicatos e governos estaduais. Ao contrário disso, se minha caracterização for a correta.

Não há burguesia disposta a romper Bolsonaro, a menos que se faça todas as contrarreformas neoliberais ao mesmo tempo  que se reconstrua a conciliação social.

As instituições da República nada fazem contra essa turba de xucros porque o baronato do capital faz uma aposta por preferir destruir o sistema de bem-estar social,  pondo em risco às garantias à paz social, desde que se proteja ou recomponha sua margem de lucro.

Por sua vez, uma boa parte das instituições da República estão encapsuladas pelo semibonarpartismo permanente, portanto não é mais possível seguir à fio as regras normais do jogo do regime democrático burguês.

Obviamente unidade de ação e alianças táticas com setores de oposição consequente ao Bolsonarismo são possíveis e mesmo necessário. Em reafirmo: com setores consequentes de oposição.
Mas fica a pergunta: quem são eles? Há isso em setores burgueses? Há isso em setores da centro-direita?

E faço a segunda reafirmação: somente compor com eles unidades de ação e alianças táticas. Estou sinceramente torcendo por encontrar os tais "setores democráticos" e os "não alinhados a Bolsonaro".
Mas vemos Flávio Dino, ou Ruy Costa, ou Camilo Santana, ou etc, etc, agindo igual a Doria, Witzel, ou pior, igual ao próprio Bolsonaro. Seja aprovando reformas da previdência estaduais ou apoiando a violência policial mais bárbaras contra pobres e movimentos.

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