quarta-feira, 26 de julho de 2017

Educação, cultura e mídia na Direita Pós-Moderna

Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita  25
por Almir Cezar Filho

Há uma guerra cultural. Que se estende a Ciência, a Educação, as Atividades Artísticas-culturais e a Mídia. É assim que a Pós-Modernidade de Direita vê o mundo. Uma guerra contra o Marxismo Cultural que semearia a Pós-modernidade em si, que segundo eles seriam uma campanha contra a sociedade ocidental, de livre mercado, etc. Portanto, é preciso combater o Marxismo Cultural em todas essas fileiras que contemporaneidade são apenas manifestações dessa conspiração.

Paulatinamente no século XX várias das certezas a respeito do mundo para o indivíduo médio foram sendo demolidos com base a universalização do ensino e com a divulgação científica, como a própria produção científica do período. Surge como contraponto uma busca não apenas por reação, de retorno a uma visão mais simples do mundo, mais cheio de verdades, repleta de senso comum e de ideias tradicionais. Ao mesmo tempo, de busca por contestação da ordem vigente, de disseminação daquilo que era tratado como marginal, não hegemônico, antimoderno. Surge assim, o pensamento Pós-Moderno e a Pós-Modernidade. Tanto à Esquerda, como à Direita no espectro político e intelectual.

Combina-se a isso tudo a característica que temos no Brasil uma direita tão pouco erudita e refinada. Em suma, tosca. Não por ser minoritária, ou mesma refratária à Academia, mas por ser Direita, logo vinculada convencionalmente à Tradição ou refratária às transformações sociais rápidas e/ou radicais. Como o Brasil a população é ignorante, suas tradições são portanto por si mesmas pouco refinadas. E como a elite dominante foi constituída ainda no tempo colonial e da escravidão, sente-se premida a repelir qualquer hipótese de transformação que leve a perda de seu status e bases de seus privilégios e dominação.

O Marxismo Cultural, Pós-Modernidade e Direita pós-moderna

O século XX desenvolveu-se no capitalismo a indústria cultural de massas, a popularização da cultura erudita e a elevação da cultura popular ao patamar simbólico igual ao erudito e a mercantilização das manifestações culturais e o advento empresarial da publicidade e propaganda. A primeira escola teórica a debruçar-se na análise desse fenômeno social múltiplo foi o Marxismo, naquilo que alguns costumam se referir como Marxismo Cultural. O Marxismo tratava esse fenômeno como uma crítica à sociedade capitalista, e também descortinando igualmente os aspectos positivos à esse fenômeno. O Marxismo Cultural foi um dos precursores nas pesquisas e um dos principais produtores de investigações nessa temática.

O Marxismo ainda descortinou que esse fenômeno também continha alta dose de contestação e contradição ao próprio sistema. Dava em certa medida poderes a produção intelectual das classes e grupos subalternos, ampliava o papel dos artistas e intelectuais, ampliava a difusão de conhecimentos entre os componentes da sociedade de maneira indistinta e abria a contestação direta de valores e diretrizes da ordem burguesa. Permitia ainda espaço social a produção cultural também conhecida como contracultura, isto é, aquela que se dá fora da produção significada como hegemônica na sociedade. E muitos casos, produzida conscientemente para rivalizar com a cultura hegemônica. Mesmo que algum momento possa ser reabsorvida pela hegemom, inclusive por meio do circuito mercantil da cultura.

À medida que ocorriam os avanços nas Ciências, especialmente às sociais, também reforçava-se não apenas o conhecimento, mas a própria crítica ao funcionamento e formatação das sociedades burguesas-capitalistas, ao menos, nas sociedades ditas ocidentais. Revelava-se as suas disfuncionalidades, suas anomias e as possibilidades de transformações. A escolarização levava consigo a difusão da Ciência, inclusive das Ciências Sociais. A mídia também contribuía, mesmo que sob controle de grupos empresariais capitalistas.

A Escola e a Mídia, que paulatinamente após as Revoluções Burguesas e a urbanização da Revolução Industrial, substituíram a Igreja como espaço e instituição da difusão e reprodução intelectual, e portanto, de certa forma, são pilares intelectuais da Modernidade, difundia de maneira dissolvida, combinada e inconsciente tanto as ideias de repúdio da ordem pré-Moderna, mas conservação do status quo Moderno, porém também de contestação a ordem vigente Moderna.

De certa maneira, esse "bolo cultural" contestava o zeitgest hegemônico do sistema capitalista, a Modernidade burguesa. Negativando-a, mesmo que parcial. Superando, em certa medida. Assim, em vários casos, ficou-se conceituado esse fenômeno com o título de Pós-Modernidade. Esse fenômeno se tornou mais forte após a Grande Guerra e especialmente após a Segunda Guerra Mundial e o aparecimento da Guerra Fria.

Durante a Guerra Fria, os EUA e a URSS denunciavam-se mutuamente de manipulação ideológica seus cidadãos e de propaganda ideológica da população do rival. A sociedade brasileira inserida no lado estadunidense do conflito replicava aqui a versão de que a URSS e o bloco de países do socialismo real praticaria uma conspiração cultural infiltrando agentes ou arregimentando pessoas expoentes aqui, utilizando como ferramenta o Marxismo Cultural.

Porém, os detratores de Direita do Marxismo, pegaram essa produção intelectual e procuraram difamar invertendo a causalidade: o sujeito investigador (o Marxismo Cultural) seria na verdade o produtor do objeto investigado (a Indústria Cultural, a Pós-Modernidade). Portanto, a oposição política e intelectual à Pós-Modernidade seria contra a Pós-Modernidade em si, mas contra o Marxismo Cultural.

Segundo esses, o Marxismo Cultural teria identificado as fragilidades sistêmicas e se aproveitaria da indústria cultural, da mídia e da escola e da Academia para persuadir as massas e a juventude em especial contra os valores da sociedade burguesa e difundir os supostos valores da revolução marxista, ao menos na Cultura. Chegam ao ponto de tomar de maneira desvirtuada as teorias do marxista italiano Antônio Gramsci sobre Revolução Passiva, a acusam de fazer justamente isso, de que o Marxismo Cultural visa provocar uma revolução social por meio da penetração silenciosa e conspiratória de teor ideológico e cultural nas instituições acima citadas.

Curiosamente, os detratores do Marxismo Cultural esquecem que a Pós-Modernidade também vitima o Marxismo, as organizações políticas marxistas e as entidades políticas operária com algum viés programático marxista. Ao contrário do que os intelectuais marxistas ligados a temática cultural apontavam, que a Esquerda e o Marxismo também se veem às voltas a lidar com o impacto da Pós-Modernidade e/ou com manifestações pós-modernas em seu próprio seio.

Haveria para os detratores do Marxismo Cultural a identificação que este agiria para arruinar os pilares da sociedade burguesa (a "sociedade ocidental", "cristã", "mundo livre", etc) - para eles, exemplo máximo da forma organizativa da Humanidade. Mesma a expansão do Islamismo são classificados como Marxismo Cultural ou por ele apoiado ou "sócio" na ameaça global contra o cristianismo, o mercado livre, a democracia liberal parlamentar-eleitoral, a sociedade ocidental judaico-cristã.

Esses detratores do Marxismo Cultural se comportam de maneira histérica e conspiracionista com uma retórica acusatória e virulenta antimarxista e anti-esquerdista. Para eles, deveria se erigir uma campanha ideológica contrária, uma guerra cultural contra o Marxismo Cultural, em que as trincheiras seriam a escola, a Academia, a mídia e a indústria cultural de maneira geral, e em outros casos até outras instituições ideológicas, como a própria Igreja Cristã, especialmente a Igreja Católica. E proibir que marxistas, esquerdistas em geral, cientistas, intelectuais e artistas de inclinação de esquerda ou no mínimo não direitista, pudessem se pronunciar intelectualmente ou mesmo exercer seus ofícios. Nesse contexto, repetindo percepções e práticas Macarthismo, que em muito retroagem no tempo a Inquisição Ibérica, as Caças as Bruxas puritana.

No Brasil atual propostas como a Escola Sem Partido, a criminalização dos símbolos comunistas, acusações de que o bolivarianismo e o Fórum de São Paulo (coletivo que reúne uma parcela da centro-esquerda latino-americana) como conspiração hemisférica, combate a tal "Ideologia de Gênero", etc., partem daquilo que podemos classificar de Olavismo Cultural, tendo como referência a conduta do pseudofilósofo Olavo de Carvalho, mas não se limitando ao mesmo, apesar de não sob sua influência.

Curiosamente, os expoentes nessa prática como seus seguidores utilizam não apenas as campanhas para pôr na ilegalidade aquilo que classificam como Marxismo Cultural, mas contraditoriamente os mesmos meios e ferramentas segundo os quais denunciam. Fazem amplo uso da mídia digital e da internet. Se organizam como entidades da sociedade civil. Se focam nos discursos, narrativas e linguagens mais do que práticas sistêmicas, condutas coletivas e condições sociais e materiais. Tentam arregimentar intelectuais e artistas para se tornarem seus porta-vozes (obviamente, que conseguem apenas pessoas secundárias, subcelebridades ou com pouca expressão). Tentam penetrar na Escola. E se debruçam de maneira mais inclinada na luta intelectual do que política.

O Olavismo Cultural, portanto, não é apenas uma reação, mas é tanto uma conduta de uma nova direita pós-moderna, como uma vertente dessa direita pós-moderna. Podendo ser exercida/manifestar-se tanto no que decompõe nas três vertentes da Direita: o liberalismo de direita (liberal-conservadorismo e no liberismo), como em maior grau no conservadorismo e reacionarismo. E mesmo, tomando como referência para classificação esse nome, fora do Brasil em muito se pratica formas similares que podem ser classificadas do mesmo jeito.

Por sua vez, tudo aquilo que não apoia ou sustenta ideologicamente a tese de que todos os males contemporâneos residiriam no Marxismo Cultural, são para eles, classificados como Marxismo Cultural, esquerdismo, comunismo, ou no Brasil, "petista", "esquerdalha". O debate livre de ciências e de direitos humanos fica ameaçado, acossado permanentemente pelos seus antagonistas com o discurso de praticar "ideologia" ou "partidarização". Apenas aquilo que eles pregam, defendem ou praticam não seriam.

O Olavismo tal qual o fascismo e suas formas antecedentes desenvolveu um forte anti-esquerdismo, anticomunismo, antimarxismo. Denunciando que toda a crise da sociedade contemporânea como também toda contestação a seus pilares é produto da conspiração do Marxismo Cultural.

Outra característica do Olavismo Cultural é que se manifesta de maneira multidimensional e temática. Não se limita ou a educação, ou a cultura, ou a ciência, ou a mídia. Seu discurso e narrativa alcança sempre simultaneamente duas ou mais, ou mesmo todos essas dimensões sociais. Vê-se assim que vários olavistas que denunciam a penetração comunista em segmentos da indústria cultural, podem compartilham da histeria anticientífica, denunciando o darwinismo ou mesmo a esfericidade do planeta Terra e o heliocentrismo como uma conspiração comum, ao mesmo tempo que defendem o livre mercado e propriedade privada, mas criticam as formas não patriarcais de família.

Uma miscelânea que pode parecer confusa ou mesmo risível, mas que na verdade é um tremendo coquetel venenoso contra as liberdades e valores da modernidade, combinando obscurantismo e tradicionalismo pré-moderno com aspectos privilegiados aos segmentos dominantes existentes apenas na atual sociedade capitalista.

A Direita pós-moderna torna-se também detratora da ciência moderna e é obscurantista porque esta baliza questionamentos a esses privilégios, contra-argumenta, retruca, às ideologias que o legitimavam. 'Seu anticientificismo também se manifesta tanto em uma forte crítica a Economia moderna e uma adesão à Escola Austríaca e outras vertentes ultralibertarianas em economia, como no total repúdio à Sociologia, Ciência Política e à Psicologia.

Em muitas dimensões a conduta da direita pós-moderna se assemelha ou se equivale a da esquerda pós-moderna à medida que no campo do conhecimento puro se concentra no revisionismo, inclusive no revisionismo científico. Porém, ao contrário da vertente de esquerda, a direita possui um viés reacionário e antiprogressivo por si só. A esquerda pós-moderna procura se escorar na reinterpretação e reinserção no meio intelectual de ideais não hegemônicas, que em geral provêm de sujeitos e atores subordinados, marginalizados, em sua maioria explorados e oprimidos pelo sistema. Já a direita pós-moderna, se apoia por meio de ideias antigas, pré-modernas, antimodernas em sua essência, que se tornaram não hegemônicas, minoritárias, mas não necessariamente antissistêmicas, contra-hegemônica. Usando para garantir a preservação de status quo ou mesmo reverter ao status de situação anterior. O ideário de direita pós-moderna comunga de uma visão de mundo em que considera razoável a criptociência e pseudociência muito mais ampla que a esquerda pós-moderna.

Assim, um segmento da direita pós-moderna pode defender apaixonadamente a infame Tese da Terra Plana como se houvesse uma megaconspiração iniciada desde o Renascimento, contra os valores medievais e uma suposta cosmovisão descrita no texto da Bíblia. Ao mesmo tempo que defende a propriedade privada e o livre mercado. Lembra de muitas maneiras os amálgamas que o Fascismo em geral e o Nazismo em especial faziam.

Não por isso que o Neofascismo se permite a atuar com ou sob a forma de Olavismo Cultural, embora não sendo sinônimos. Pode-se falar até que o neofascismo é uma forma atualizada do fascismo da primeira metade do século XX, mas sim que seria sua forma pós-moderna. Dessa maneira, não causa espanto que o neofascismo tenha abraçado várias teses neoliberais. O fascismo sempre se baseou em um amálgama de bonarpartização e na modernização conservadora, com forte presença de desejo da utopia reacionária e de uma releitura da Tradição.

Se o fascismo sempre procurou combinar a defesa da propriedade privada dos meios de produção, com certa intervenção pública para assegurar tanto a preservação da propriedade como também da estabilidade público, procurando desenvolver formas de solidariedade econômicas sob o manto das corporações paraestatais. Agora o neofascismo, sua versão pós-moderna chegue ao ponto de negar as corporações paraestatais e a solidariedade econômica. A intervenção pública se resume na guerdarme da grande negócio privado, na preservação a qualquer custo da ordem pública e imposição de certa moralidade comportamental na vida privada.

A elite e a base econômica da pós-modernidade de direita da sociedade brasileira


O avivamento que possibilita a ascensão da direita pós-moderna no Brasil corresponde ao próprio grau e trajetória de desenvolvimento das classes e grupos dominantes em sua sociedade - apesar dos anos de propaganda antiesquerdista da Guerra Fria e a recente antipatia com a centro-esquerda desenvolvida nos anos do governo Lula-Dilma. Portanto, não é apenas um produto subjetivo, mas objetivo e material. A crise econômica iniciada em 2014 marca sua ascensão e portanto, ratifica esse padrão de ligação com a elite e a base econômica do país.

Apesar do desenvolvimento econômico do último período, o Brasil ainda está em um círculo macroeconômico vicioso, típico das economias dependentes, obrigado a fixar alta sua taxa de juros para compensar o déficit externo recorrente e combater sua persistente inflação alta, a chamada "armadilha macroeconômica". Contudo, o efeito da taxa de juros alta pode ser oposto da propagandeada pelo BC (Banco Central), pois ajuda a puxar para cima os preços, e, portanto a inflação, devido a uma combinação dos efeitos estruturais, cuja origem reside em peculiaridades herdadas do desenvolvimento da economia brasileira.

E ainda alimenta a uma grande mudança estrutural no padrão de desenvolvimento brasileiro, reforçando ainda mais a dependência do Brasil dentro do sistema mundial capitalista ao capital externo, com severos prejuízos aos trabalhadores, muito maiores do que o superendividamento das famílias e o melindre ao consumo a prazo. Temos então não apenas uma relação inversa entre juros e inflação, mas uma nova "armadilha" que deve ser combatida pelos trabalhadores em suas raízes, no modelo de desenvolvimento.

No Brasil configura-se uma classe dominante que acha que o país é inferior e incapaz de debater "à altura" as "grandes questões" do sistema mundial. Essa classe dominante virou uma “burguesia compradora” – intermediadora entre atividades produtivas domésticas e o mercado internacional, especialmente atuando no sistema financeiro interno para esse papel. Sua finalidade é intermediar a dependência de nosso país. Logo é incapaz de um projeto nacional de reafirmação.

As políticas macroeconômicas brasileiras, em muitos aspectos refletem isso, nos últimos anos a preocupação permanente e central é impedir a expansão da demanda agregada e o consumo popular. Vive-se a política de "stop and go" - a cada leve expansão do PIB, vem ações de restrição da expansão, alta dos juros, que freiam a demanda agregada.

Enquanto a maioria esmagadora da população consume muito pouco, e essa elite se farta em consumir jatinhos, helicópteros e champanhes, todos comprados com os recursos obtidos com a remuneração dos ativos aplicados no mercado financeiro. É preciso, restringir a parcela da Demanda nacional, a comprimir perpetuamente, para ampliar o excedente econômico disponível, para transferi-lo para o mercado financeiro e para o capital internacional, ampliar essa parcela para essa finalidade.

Tal ideologia deve-se ao fato que esse grupo econômico, dirigente do Estado brasileiro, além de ser uma "burguesia compradora", foi educado no exterior, não tem ligação ideológica com seu país. O triste é que essa ideologia vem impregnando na Academia brasileira, reproduzindo os padrões, ditos "aceitáveis e modernos". Assim, as camadas médias da sociedade, educadas nas universidades brasileiras, passam a absorver a posição ideológica da elite, fator contribuído pela ação consciente da Mídia, que é favorável a tais padrões.

O curioso é que nos últimos anos, situação acelerada com os últimos eventos, tal pensamento monetarista, de restrição permanente ao consumo e de papel meramente financista do Estado, entrou em decadência nos EUA e UE, e agora com a crise econômica atual entra numa crise terminal. Os setores conservadores lá fora já pensam diferentes, inclusive vêm à importância do papel econômico do Estado e de proteção ao consumo das camadas populares.

Contudo, nossa elite absorve lentamente essa mudança, em parte também, devido sua própria condição objetiva de "burguesia compradora", que se mantém apesar da crise. Por isso, que as autoridades econômicas brasileiras (especialmente o Banco Central), apesar do agravamento do quadro da crise, continuam com essa ênfase em manter a taxa de juros alta, essa preocupação com o ajuste fiscal do Estado, etc., em suma, com a estabilidade dos indicadores macroeconômicos nominais (taxas de juros, inflação, câmbio, relação dívida do Governo/PIB) em detrimento dos indicadores reais (níveis de emprego, PIB, etc.).

Sem burguesia nacional, não há como ter "projeto nacional", como defendem setores da esquerda brasileira. Assim, toda a luta pró-independência econômica do Brasil tem que ser uma luta antissistêmica, e até mesmo, anticapitalista.

As Ciências para a Direita Pós-Moderna

Se as ciências sociais ensinam coisas que vão de encontro ao que o senso comum diz - construído pela mídia, igreja, família, etc - e isso incomoda, o que se deve fazer é suspender o ensinado pelas ciências sociais. E depois o mesmo se faz com as ciências naturais, vide a teoria da evolução contraposto pelo Criacionismo e Hipótese do Design Inteligente; o heliocentrismo, contraposto pelo geocentrismo e pela hipótese da Terra Plana; e a teoria da gravidade.

A ciência, isto é, a Academia, produtora primordial de pesquisa que abastece à ciência, teria sido penetrada pelo Marxismo Cultural e se "ideologizado", perdendo neutralidade. Sua produção, além de contaminada, estaria a seu serviço. As teorias seriam dogmáticas ou enviesadas. Os professores universitários e os pesquisadores nada seriam que seus agentes conscientes ou inconscientes.

Por outro lado, por sua vez, o ceticismo seria ruim. Haveria, portanto, para a direita pós-moderna uma suposta necessidade de rumar na produção científica para a tal método zetético (palavra "zetética" possui sua origem no grego zetein que significa perquirir, enquanto "dogmática" origina também do grego dokein, ou seja, doutrinar). Nessa perspectiva, as pseudociências e as criptociências deveriam ser reconsideradas, mesmo a teologia e conhecimentos tradicionais, pela impossibilidade do mundo real ser apreendido pelo conhecimento humano em sua totalidade pelas pesquisas e testes empíricos.

Mas ao contrário, do praticado pela esquerda pós-moderna, que vê o "abraço" aos conhecimentos não hegemonicamente considerados científicos, muitos dos quais por preconceito, eurocentrismo, ou pouca testagem científica, como se faz, por exemplo, com a medicina alternativa, a base para a direita pós-moderna exercer seu anticientificismo reside na busca da re-aceitação pública da dogmática religiosa, da teologia e dos conhecimento tradicional pré-moderno.

Se no método científico observa-se os fatos para obter conclusões que são a base para as teorias. No método dos pós-modernos passa-se primeiramente da conclusão, como uma premissa, em que procura selecionar quais fatos os apoiam. Nem que para isso, pervertam o método zetético em busca de certa aceitabilidade e legitimidade ao que fazem.

Assim, a ética, a moral, ou mesmo a cosmologia e a cosmogonia abstraídas do texto da Bíblia não pode ser encarado em termos de fé, mas deve ser reconsiderado como base para conhecimento socialmente válido.  Se a cosmologia bíblica remete a uma terra plana (?), deve-se, apesar de 2.000 de conhecimento científico e mesmo pré-científico mostrar ao contrário, procurar no empírico comprovações dessa intepretação do texto. As ideias a respeito da esfericidade da Terra seriam obra de uma conspiração milenar em que os governos e as universidades são a etapa mais recente.

Uma Terra Plana cujo Universo e o Cosmo se limita a ela e uma abóboda celeste em forma de domo que a cobre mostraria que o mundo é muito mais simples do que a mídia, a escola e os cientistas dizem. A complexidade impediria os indivíduos, tanto de aceitar o deus cristão demiurgo e juiz universal, sujeito a obediência das leis de Deus escritas na Bíblica. Como servia para servir de escravos a um sistema opressor controlados por aqueles que hoje se dispõe a difundir o Marxismo Cultural.

Por outro lado, uma ordem cosmológica universal fundada, supervisionada e regulada por Deus, mas sob a livre arbítrio de cada indivíduo humano, dava boas-vindas a uma ordem econômica baseada no livre mercado e na propriedade privada. Como também na segregação, se não na perseguição dos praticantes de cultos e comportamentos privados condenados pela Bíblia.

Não por acaso, que uma das outras vertentes da nova direita pós-moderna seja uma espécie de Neofundamentalismo religioso, e tal como ocorreu no Neofascismo, esse abandona qualquer tipo de intervenção pública corporativista pelo abraço ao mercadismo neoliberal. E a acusação de Marxismo Cultural, apesar da "conspiração da esfera" ter 1.800 anos a mais que o Marxismo, faz sintonia bem clara com os velhos conspiracionismos do tipo antissemita e antimaçom e os mitos de irmandades secretas que governam secretamente o mundo ou se preparam para isso.

A Escola para a Direita Pós-Moderna

Há uma espécie de batalha cultural, mas do ideológica. Para a nova direita, seria como se os professores ao desenvolverem propostas pedagógicas a desenvolver a capacidade de reflexão crítica dos seus estudantes, estivessem fazendo doutrinação, ou pior, recrutamento ideológico.

As crianças e os adolescentes seriam propriedade de suas famílias e somente elas dado o direito a formação moral, ética e cívica e que contribuísse a emancipação, liberdade e higiene. Se limitaria ao conteúdo programático escolar para capacitação profissional e seleção acadêmica para ingresso na universidade, porém, sem resposta a pergunta do que distingue um do outro.

Se na Modernidade a Escola tornou-se símbolo e forja de cidadãos, seres humanos melhores e iguais, isso tem que ser abandonado, em um suposto respeito às desigualdades da família, inclusive de acesso à conhecimento. E se a família e a igreja que a família professa neguem algum conhecimento científico, até mesmo de ciência natural, em nada a Escola deve se sobrepor.

A Mídia e a Direita Pós-Moderna

Mídia para teoria crítica, para o Marxismo e maioria das vertentes das ciências sociais, especialmente a Sociologia, mais do que um veículo de comunicação ou uma indústria cultural, é uma aparelho ideológico do sistema e do regime. Submetido ao juízo legal do regime, quando não diretamente uma concessão econômica do Poder Público, isto é, seu funcionamento se faz apenas com autorização e vigilância legal do Estado.

Apesar de ser realizado por grandes empresas privadas que visem o lucro e dividendos, são capturados ou infiltrados pelos agentes do Marxismo Cultural, tanto pela participação da classe artística na produção de conteúdo, como pela formação acadêmica dos profissionais de mídia, ou mesmo a serviço dos empresários e acionistas "mal intencionado".

REFERÊNCIA
  • BRINTON, Crane. Anatomia das Revoluções. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura S.A, 1958.
  • FRIEDMAN, Benjamin M. As consequências morais do crescimento econômico. Rio de Janeiro: Record, 2009.
  • JUDT, Tony. Passado imperfeito: um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa no pós-guerra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
  • HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo, Loyola, 1993.
  • MERQUIOR, José Guilherme. O Liberalismo - antigo e moderno. São Paulo: É Realizações, 2014.
  • MIRANDA, Sergio Quiroz. La utopia del siglo XXI. Outro mundo es posible. Universid de Tijuana, 2008.
  • RAS, Joseph. A moralidade da liberdade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
  • SANTOS, Jair Ferreira dos. O Que É Pós-ModernismoColeção Primeiros Passos, Brasília: Brasiliense.

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