segunda-feira, 18 de maio de 2015

Apesar da crise, lucros dos bancos crescem no Brasil

Lucro das empresas da Bolsa cai R$ 18,2 bi, mas bancos crescem 42% 
Alta da Selic, spread e concentração do mercado explicam rentabilidade na crise

De acordo com levantamento de uma consultoria, as 317 empresas com ações negociadas na BM&F Bovespa lucraram um total de R$ 25,7 bilhões no primeiro trimestre de 2015. O montante representa uma queda de R$ 18,2 bilhões, ou 41,4%, em relação ao mesmo período do ano passado.

Os resultados do setor bancário se apresentaram na direção contrária - os ganhos das 25 empresas do setor somaram R$ 17,7 bilhões de janeiro a março, um crescimento de 42,8% frente ao ganho de R$ 12,4 bilhões nos mesmos meses do ano passado o maior lucro entre os 24 setores presentes na Bolsa.


Três instituições foram responsáveis por cerca de 88% do lucro total do setor bancário - Banco do Brasil, que teve o maior lucro entre as empresas de capital aberto no primeiro trimestre, totalizando R$ 5,81 bilhões; o Itaú aparece em segundo lugar, com ganho de R$ 5,7 bilhões; e o Bradesco é o quarto da lista, com R$ 4,2 bilhões.

Explicação: alta da Selic, spread bancário e concentração do mercado 

Para os analistas econômicos que de visão mais crítica, chama atenção para a importância de fatores como a alta dos juros e do spread bancário nesses bons resultados. No Brasil, as operações de curto prazo podem ser rentáveis e ao mesmo tempo ter uma liquidez elevada. Segundo algumas consultorias chega a ser o dobro que nos EUA.

Parte dos retornos dos bancos é garantida com aplicações financeiras que não são empréstimos a pessoas físicas ou empresas. No caso brasileiro, esse lucro fácil e sem limites é impulsionado pelos juros altos, inerentes à política econômica baseada no chamado tripé macroeconômico vigente no Brasil desde 1999, ancorado no câmbio flutuante, metas de superávit primário e metas de inflação.

Se a Selic (taxa de juros básicas da economia) sobe, como tem acontecido, temos um aumento do piso de rendimento do mercado financeiro. Em última instância, se os bancos não conseguem emprestar seus recursos, podem aplicá-los em títulos do tesouro. Então quanto maior os juros pagos por esses títulos, mais os bancos ganham nesse tipo de operação.

A política de juros do governo federal está atrelada à inflação, quanto mais alta a inflação, maior seria a necessidade de elevação dos juros, como defendem o mercado financeiros e seus gurus e é ecoada pela mídia (curiosamente, patrocinada pelos bancos ou endividada com eles).

O Tesouro Nacional emite títulos que são comprados pelo mercado, ajudando o governo a honrar compromissos. Os bancos ganham quando o governo resgata esses títulos: quanto maior o juro, mais alto o lucro do mercado financeiro com os títulos do Tesouro Nacional, que, afinal, bancam a chamada "farra dos juros". 

O spread bancário maior que o de outros países é outra explicação. O spread é a diferença entre o que banco cobra para emprestar recursos e o que paga para tomá-los emprestado. É dele que a empresa tira o lucro, depois de pagar os impostos e cobrir os custos administrativos e ligados ao risco de inadimplência.

De fato, deve-se que o mercado bancário ser relativamente bem concentrado no Brasil impulsionando as taxas cobradas pelos empréstimos.

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