Juros e persistência da inflação
Os jornais da terça feira, 9 de abril, noticiaram que a  Presidente Dilma conversou no dia anterior com três economistas conhecidos no  País (Belluzzo, Nakano e Delfim Netto) sobre a conjuntura econômica brasileira,  mais especialmente sobre as perspectivas de crescimento e as pressões  inflacionárias para 2013 e 2014.
A notícia tem importância não só porque a inflação medida em 12  meses está elevada, mas porque ela vem no calor de declarações da Presidente  sobre o debate juros versus inflação ainda na semana anterior, quando Dilma  disse que não cabia elevar os juros sem olhar o sacrifício que a medida impunha  ao crescimento. Houve exageros na interpretação da declaração e o Governo teve  que se explicar. O debate esquentou em função da reunião do COPOM de 16 e 17 de  abril, pois paira uma grande expectativa sobre o início de um ciclo de elevação  dos juros.
Há muitas dimensões para explicar a inflação atual no Brasil:  há elementos de oferta, de demanda e os ainda presentes elementos de indexação.  Em 2012 houve choque de preços agrícolas (internos e externos, com a quebra da  safra americana), forte elevação do salário mínimo brasileiro e um movimento  puxado pelo Governo de desvalorização do real, que inflacionou os preços dos  produtos importados. Neste início de 2013 houve pressão dos preços dos  hortigranjeiros, em função de condições climáticas. Sempre é bom lembrar que a  alta dos juros repercute diretamente apenas sobre os elementos de demanda, o que  exigiria elevações muito expressivas para se obterem resultados significativos  de redução da inflação. Há instituições financeiras no País que chegam a  projetar uma taxa básica de 9% no final do ano; tudo indica que seja um  exagero.
 
 
 
 
 
Neste momento há um nervosismo no ar em função da inflação  acumulada em 12 meses ter chegado a 6,6%, além do teto da meta. Ora, já se sabia  desde o final do ano passado que alcançaríamos este ponto nos primeiros meses de  2013 – até mesmo pelos aspectos sazonais da safra dos hortigranjeiros – e que  uma acomodação viria a seguir. Com efeito, os índices de preços no atacado, que  costumam antecipar o que ocorre na ponta do consumo, já mostram a esperada  desaceleração e o Relatório Focus do Banco Central projeta inflação de 5,7% para  o final de 2013. Ainda é uma taxa alta, mas não suficiente para causar  desespero. É muito próxima da de 2012 e quase igual à da média do Governo Lula.  Lembre-se que há muitos anos o centro da meta (4,5%) é mais baixo que estas  taxas.
É preciso reconhecer que a persistência da inflação acima da  meta está ligada a aspectos estruturais que vão permanecer atuando nos próximos  anos. São gargalos representados por: 1) um enorme gap de infra  estrutura; 2) dificuldades institucionais que atrasam projetos e emperram  soluções óbvias; 3) um alto nível do emprego, que pressiona os salários. No  setor de Serviços, particularmente, encontram-se segmentos com baixa  produtividade que espalham sua ineficiência e seu custo para o resto da  economia.
Sem descuidar destes gargalos, mas tendo em conta que eles não  terão solução rápida, me parece importante rediscutir o sistema brasileiro de  metas, corrigindo imperfeições que existem desde o seu nascimento em 1999, como  por exemplo, a utilização dos núcleos da inflação em lugar das medidas cheias, o  que retiraria variações excessivas do índice, tanto as de alta como as de  redução dos preços. Outra medida correta seria a de estender o período para o  cumprimento das metas, não o restringindo ao ano calendário.
Não se trata de mudar o termômetro para encobrir a medida da  febre. Trata-se de aperfeiçoar o sistema, tal como se fez com a correção da  remuneração da caderneta de poupança e com a reponderação dos itens do IPCA.  Foram medidas corajosas do Governo Dilma, tecnicamente corretas e implementadas  sem medo da disputa política que poderiam envolver. Nestes termos, porque não  ajustar o sistema de metas? É certo que a precocidade do debate eleitoral de  2014 atrapalha uma boa discussão do tema, mas, por outro lado, já está claro que  apenas as medidas de aperto monetário não vão resolver nosso problema. Além do  que, produzem efeitos colaterais, como o aumento da conta de juros que o Governo  paga para rolar sua dívida e a apreciação cambial, que torna os importados mais  baratos e retira competitividade do produto nacional.
Flávio Fligenspan é professor do Departamento de Economia e  Relações Internacionais da UFRGS
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