quarta-feira, 17 de abril de 2013

Juros e persistência da inflação

 Flávio Fligenspan

Juros e persistência da inflação

Os jornais da terça feira, 9 de abril, noticiaram que a Presidente Dilma conversou no dia anterior com três economistas conhecidos no País (Belluzzo, Nakano e Delfim Netto) sobre a conjuntura econômica brasileira, mais especialmente sobre as perspectivas de crescimento e as pressões inflacionárias para 2013 e 2014.
 
A notícia tem importância não só porque a inflação medida em 12 meses está elevada, mas porque ela vem no calor de declarações da Presidente sobre o debate juros versus inflação ainda na semana anterior, quando Dilma disse que não cabia elevar os juros sem olhar o sacrifício que a medida impunha ao crescimento. Houve exageros na interpretação da declaração e o Governo teve que se explicar. O debate esquentou em função da reunião do COPOM de 16 e 17 de abril, pois paira uma grande expectativa sobre o início de um ciclo de elevação dos juros.
 
Há muitas dimensões para explicar a inflação atual no Brasil: há elementos de oferta, de demanda e os ainda presentes elementos de indexação. Em 2012 houve choque de preços agrícolas (internos e externos, com a quebra da safra americana), forte elevação do salário mínimo brasileiro e um movimento puxado pelo Governo de desvalorização do real, que inflacionou os preços dos produtos importados. Neste início de 2013 houve pressão dos preços dos hortigranjeiros, em função de condições climáticas. Sempre é bom lembrar que a alta dos juros repercute diretamente apenas sobre os elementos de demanda, o que exigiria elevações muito expressivas para se obterem resultados significativos de redução da inflação. Há instituições financeiras no País que chegam a projetar uma taxa básica de 9% no final do ano; tudo indica que seja um exagero.
 
Neste momento há um nervosismo no ar em função da inflação acumulada em 12 meses ter chegado a 6,6%, além do teto da meta. Ora, já se sabia desde o final do ano passado que alcançaríamos este ponto nos primeiros meses de 2013 – até mesmo pelos aspectos sazonais da safra dos hortigranjeiros – e que uma acomodação viria a seguir. Com efeito, os índices de preços no atacado, que costumam antecipar o que ocorre na ponta do consumo, já mostram a esperada desaceleração e o Relatório Focus do Banco Central projeta inflação de 5,7% para o final de 2013. Ainda é uma taxa alta, mas não suficiente para causar desespero. É muito próxima da de 2012 e quase igual à da média do Governo Lula. Lembre-se que há muitos anos o centro da meta (4,5%) é mais baixo que estas taxas.
 
É preciso reconhecer que a persistência da inflação acima da meta está ligada a aspectos estruturais que vão permanecer atuando nos próximos anos. São gargalos representados por: 1) um enorme gap de infra estrutura; 2) dificuldades institucionais que atrasam projetos e emperram soluções óbvias; 3) um alto nível do emprego, que pressiona os salários. No setor de Serviços, particularmente, encontram-se segmentos com baixa produtividade que espalham sua ineficiência e seu custo para o resto da economia.
 
Sem descuidar destes gargalos, mas tendo em conta que eles não terão solução rápida, me parece importante rediscutir o sistema brasileiro de metas, corrigindo imperfeições que existem desde o seu nascimento em 1999, como por exemplo, a utilização dos núcleos da inflação em lugar das medidas cheias, o que retiraria variações excessivas do índice, tanto as de alta como as de redução dos preços. Outra medida correta seria a de estender o período para o cumprimento das metas, não o restringindo ao ano calendário.
 
Não se trata de mudar o termômetro para encobrir a medida da febre. Trata-se de aperfeiçoar o sistema, tal como se fez com a correção da remuneração da caderneta de poupança e com a reponderação dos itens do IPCA. Foram medidas corajosas do Governo Dilma, tecnicamente corretas e implementadas sem medo da disputa política que poderiam envolver. Nestes termos, porque não ajustar o sistema de metas? É certo que a precocidade do debate eleitoral de 2014 atrapalha uma boa discussão do tema, mas, por outro lado, já está claro que apenas as medidas de aperto monetário não vão resolver nosso problema. Além do que, produzem efeitos colaterais, como o aumento da conta de juros que o Governo paga para rolar sua dívida e a apreciação cambial, que torna os importados mais baratos e retira competitividade do produto nacional.
 
Flávio Fligenspan é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS

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