terça-feira, 3 de setembro de 2013

BC obedece aos banqueiros e eleva Selic, apesar da inflação em queda

por Almir Cezar

Na quarta-feira passada (29/08) foi divulgado um novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, indo para 9% ao ano. A decisão, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), mesmo com a economia não devendo crescer nem 2% este ano, e a inflação em franca desaceleração, com algumas cidades até mesmo em deflação, cedeu, mais uma vez, à pressão do mercado financeiro. Abortando a recuperação e aumentando em mais R$ 10 bilhões do gasto público com juros da dívida.

Pressões pela alta dos juros

Foi a quarta sessão seguida em que o BC aumentou a Selic, depois de ela permanecer em 7,25% de outubro passado a abril deste ano. Em abril, também sob intensa pressão do mercado financeiro, o Copom elevara a taxa para 7,50% ao ano. O aumento foi seguido por mais duas altas de 0,5 ponto nas reuniões de maio e julho.

O novo incremento dos juros de 8,5 para 9 % ao ano atendeu à reivindicação dos bancos, cujos executivos ouvidos pelo boletim Focus, do BC, na última segunda-feira, exigiam exatamente uma alta de 0,5 ponto.

Curiosamente, a medida também fora cobrada, no mesmo dia, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para o qual o BC tem de continuar a aumentar os juros. Segundo o FMI, a prioridade deve ser conter a inflação, independentemente do impacto que os juros altos tenham sobre o crescimento da economia. O FMI insiste ainda em que os bancos públicos reduzam o ritmo de concessão de crédito e que a equipe econômica não abandone o aperto fiscal.

Inflação em queda

Contudo, a tendência não é de alta nos preços. A média nacional do IPC-S divulgada ontem (02/09) fechou agosto em 0,2%, 0,04 ponto percentual acima da terceira semana do mês.


Cinco das sete capitais pesquisadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) tiveram queda no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) entre a terceira e a últimas semanas de agosto. As principais reduções na taxa foram observadas em Salvador (de -0,21% para -0,26%) e Rio de Janeiro (0,46% para 0,41%), ambas com queda de 0,05 ponto percentual.

Aumento do gasto público por conta da Selic

Segundo cálculos da própria Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a elevação da taxa Selic em 0,5 ponto percentual força a União gastar R$ 10 bilhões a mais em juros da dívida pública.

Isso custa o triplo da ajuda aos municípios em mobilidade urbana, anunciada em julho pela presidenta Dilma, em resposta a onda de protestos que varreu o mês de junho.

A economia, que se recuperava, desacelera

Mais uma vez o BC toma a decisão equivocada de aumentar a taxa básica de juros. Esta medida prejudica o setor produtivo e a classe trabalhadora. O aumento da taxa básica reduz ainda mais a procura da população brasileira por bens e serviços, que já se encontra enfraquecida pelo baixo crescimento da empregabilidade e da renda real do trabalhador, mas que vinha se recuperando.

Fica evidente a opção da equipe econômica do atual governo de continuar privilegiando os especuladores e deixando em segundo plano a produção e a geração de novos empregos. 

Elevar a taxa Selic só contribui para a redução de investimentos no setor produtivo, obrigando o governo a pagar mais juros para especuladores. A decisão mantém os trabalhadores em alerta porque a alta dos juros retira dinheiro da economia e encarece o crédito em um período que eles vão às compras, ou seja, no Natal.

A retomada do ciclo de alta da Selic desde abril coincide com quedas na produção, que atingiram 15 dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, na passagem de junho para julho deste ano, abortando a recuperação econômica verificada.

Enquanto nos primeiros três meses do ano, o PIB havia crescido apenas 0,6% em relação ao trimestre anterior. O segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior teve crescimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro - ou 3,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

(Atualizado às 16h)

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