por Almir Cezar Filho
Nos períodos de crise não é fácil explicar as crises utilizando o instrumental teórico tradicional da Economia. Venho estudando a algum tempo o autor marxista Leon Trotsky. Ele é muito usado para explicar tanto pela sociologia e pela historiografia os fenômenos revolucionários e políticos, mas esse autor analisou em seu tempo, em vários textos, fenômenos e conjunturas econômicas - a dinâmica e o equilíbrio do sistema capitalista.
Há um texto clássico, “A Situação Mundial”, escrito em 1922, que foi escrito como informe político num congresso partidário, onde analisava a economia mundial após a Primeira Guerra Mundial, a vaga revolucionária posterior e o começo de recuperação européia. O centro do texto é o conceito de "equilíbrio capitalista". É a partir desse conceito ele explica o funcionamento do sistema capitalista e as possibilidades da economia européia voltar a crise que havia passado entre 1918 e 1921.
O equilíbrio capitalista na verdade é uma “dinâmica”, à medida que passa permanentemente por rupturas e construção. Quando se fala em equilíbrio se fala em regularidade na dinâmica, mas há momento de irregularidades (desequilíbrios) e períodos de instabilidade.
“O equilíbrio capitalista é um fenômeno complicado; o regime capitalista constrói esse equilíbrio, o rompe, o reconstrói e o rompe outra vez, alargando, de passo, os limites de seu domínio.” As oscilações são naturais, portanto no capitalismo “O capitalismo possui então um equilíbrio dinâmico, o qual está sempre em processo de ruptura ou restauração.”
Apesar dos desequilíbrios e da instabilidade atacar o capitalismo, esse sistema é naturalmente regular, prova disso é sua sobrevivência. “Ao mesmo tempo, semelhante equilíbrio possui grande força de resistência; a prova melhor que temos dela é que ainda existe o mundo capitalista.”
A dinâmica é a derivada da divisão de trabalho entre as partes do mercado mundial, porque o capitalismo é um fenômeno mundial. A dinâmica, portanto é a relação do fluxo de mais-valia, capitais e mercadorias entre os sujeitos, partes, segmentos, setores do sistema capitalista.
“O equilíbrio capitalista está determinado por fatos, fenômenos e fatores múltiplos: de primeira, segunda e terceira categoria. O capitalismo é um fenômeno mundial. Tem conseguido dominar o mundo inteiro, como podem observar durante a guerra: quando um país produz demais, sem ter mercado que consumisse suas mercadorias, enquanto que outro necessitava produtos que lhe eram inaccessíveis. Naquele momento, a interdependência das diferentes partes do mercado mundial se faz sentir em todo situação. Na etapa alcançada antes da guerra, o capitalismo estava baseado na divisão internacional do trabalho e no intercambio internacional dos produtos.”
Mas a dinâmica muda ao longo do tempo. Mudanças vinculadas as modificações da divisão do trabalho.
“(...) Sem dúvida, esta divisão do trabalho não é sempre a mesma, não está sujeita a regras. Estabeleceu-se historicamente, e às vezes se tumultua por crises, competições e tarifas. Mas, em geral, a economia mundial se funda sobre o feito de que a produção do mundo se reparte, em maior ou menor proporção, entre diferentes países. ”
A dinâmica também é interna nas economias nacionais, na interação entre as partes dessa economia. Essas interações também passam por rupturas e reconstruções.
“Em cada país, a agricultura prove à indústria com objetos de primeira necessidade para os operários e com bens para a produção (matérias-primas); por sua vez, a indústria provê ao campo objetos de uso pessoal e doméstico, assim como de instrumentos de produção agrícola. Deste modo se dá estabelecida certa reciprocidade. No interior da mesma indústria assistimos a fabricação de instrumentos de produção e a fabricação de objetos de consumo, e entre estes dois ramos principais da indústria se estabelece certa interação a qual passa por constantes rupturas para ser reconstruída sobre novas bases.”
A dinâmica também não é apenas econômica, mas também política, na luta de classes, que manifesta em geral na disputa poder, e logo luta pelo Estado. A luta política também se processa internacionalmente, portanto a dinâmica ganha uma terceira esfera, na relação de disputa entre os Estados.
“Na esfera econômica, estas constantes rupturas e restaurações do equilíbrio tomam a forma de crises e booms. Na esfera das relações entre classes, a ruptura do equilíbrio consiste em greves, em lockout, em luta revolucionária. Na esfera das relações entre estados, a ruptura do equilíbrio é a guerra, ou bem, mais solapadamente, a guerra das tarifas alfandegárias, a guerra econômica ou bloqueio.”
O papel das relações políticas e inter-estatais é muito importante, cria condições para estabilidade e regularidade na dinâmica econômica.
“(...) Há que considerar, ademais, o equilíbrio das classes baseado sobre o da economia nacional. No período anterior a guerra, existia uma paz armada, não somente no que se refere as reações internacionais senão - em grande escala - em quanto se referia a burgueses e ao proletariado, graças a um sistema de acordos coletivos referente aos salários; sistema levado a cabo pelos sindicatos centralizados e o capital industrial, a sua vez se centralizando mais e mais.”
Com essa leitura podemos criar uma abordagem metodológica nova sobre a questão da crise mundial, ainda mais que no presente momento, que mais uma vez os capitalistas e seus especialistas e executivos, os ditos “mais bem preparados para dirigir a produção”, levam o mundo novamente a uma grave crise econômica.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
O Equilíbrio Capitalista - questões metodológicas para analisar a crise mundial
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