quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O mundo pós-crise

Uma interessante análise do jornalista econômico Luís Nassif, retirada de seu blog (http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=10009) , à respeito das transformações do capitalismo contemporâneo que se manifestou com a atual crise e que se manifestaram após.

Coluna Econômica - 26/11/2008

Luis Nassif

Alguns pontos relevantes sobre os desdobramentos da crise mundial
O primeiro é a constatação da mudança radical sobre o papel dos Estados Unidos no novo mundo. Ao contrário da Inglaterra, a grande hegemonia americana foi conduzida por suas grandes corporações, especialmente em três setores, a mineração-siderurgia, a indústria automobilística e o setor financeiro.
Coube a elas espalhar o poderio americano pelo mundo, os hábitos empresariais, a influência política. A diplomacia americana quase que caminhava atrás, respaldando suas ações.

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Com o tempo, essa expansão levou à perda da identidade nacional, dos vínculos com o país. A expansão levou-as a privilegiar a produção de manufaturas na Àsia. Especialmente na China. Com o tempo, as linhas de produção foram transferidas para lá, reduzindo o potencial de emprego norte-americano.
Os ganhos eram na forma de dividendos recebidos e na expansão das instituições financeiras.
Nas décadas passadas, os EUA perderam a primazia da mineração e da siderurgia. Desde o começo da década, a primazia do setor automobilístico. Problemas trabalhistas em Detroit, erros de avaliação sobre os novos modelos (com alto consumo de combustível), fizeram com que gradativamente seu espaço no mercado passasse a ser ocupado primeiros pelos japoneses, depois pelos europeus, finalmente, pelos coreanos.
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A bolha da tecnologia segurou a expansão do setor de telecomunicações. Manteve-se o da indústria de softwares.
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Nos últimos seis meses, caíram os últimos símbolos do predomínio americano, os grandes bancos de investimento que, desde o início do século 20 representaram a ponta de lança do poderio americano.
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Não significa a decadência americana, mas o fim do predomínio absoluto. Obviamente há no país um estoque imenso de pesquisa, inovação, capacidade gerencial, ambiente favorável de negócios. Mas, agora, sob um mundo bem mais equilibrado.
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Ponto importante nesse jogo é o novo papel desempenhado pelos emergentes. Tanto as montadoras quanto os bancos têm garantido que poderão abrir mão de subsidiárias em vários países, menos em alguns emergentes – como o Brasil.
Não se sabe como o mercado interno norte-americano emergirá da crise atual. Barack Obama já deixou claro que implementará um programa similar ao New Deal, de Roosevelt. Ou seja, prioridade para as pessoas físicas, para a geração de empregos, para a solução da inadimplência dos mutuários.
É um desafio ciclópico, o de unificar a nação em torno de bandeiras de solidariedade, já que os beneficiários do modelo anterior ainda mantém a influência política – como acontece em todo final de ciclo.
Mesmo assim, levará muito tempo até que o mercado interno americano recupere o dinamismo das últimas décadas – já que o motor principal, o crédito, ficou profundamente avariado.
Significa que, quando a economia mundial começar a mostrar sinais, ainda que tênues, de recuperação, o investimento preferencial das multinacionais será em grandes emergentes, como o Brasil.
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O desafio é prender a respiração e chegar à outra margem do rio.

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