sábado, 22 de novembro de 2008

Com a Crise a discussão de uma 'Nova Econômica'

Por Almir Cezar Filho

Com a atual crise econômica no Capitalismo, a questão da viabilidade do Socialismo e voltou novamente à pauta dos debates acadêmicos. Mesmo no Marxismo são poucas obras que falam sobre a construção do Socialismo e sua transição. Vamos falar sobre o livro mais importante de Eugeni Preobrazhensky, "A Nova Econômica", obra de um economista que co-liderou a Revolução e a montagem do primeiro Estado socialista da História.

Escrito inicialmente em 1924, como uma conferência na Academia de Ciências da URSS, onde Eugeni Preobrazhensky apresentava à comunidade científica local a teoria-base do programa da Oposição de Esquerda trotskista no Partido Comunista. No texto o centro é a explanação e uma análise em termos de Economia Política sobre a economia de transição ao socialismo em uma sociedade subdesenvolvida, como era a sociedade soviética após a Revolução Russa de 1917. A chamada teoria da "acumulação socialista primitiva". O texto dessa conferência acabara virando em 1926 a base de um trabalho mais amplo que virá a ser o livro "A Nova Econômica", onde o texto original tornando-se o capítulo 2 do novo livro.



O título em russo significava que Preobrazhensky pretendia apresentar uma nova teoria econômica para uma nova ciência econômica. Essa nova Economia tornara imperativa ser construída à medida que a Economia até então, mesmo de tradição marxista, não havia, ou apenas muito pouco, discutido e elaborado de forma seria e funcionaria a economia pós-capitalista, a economia sob a vigência da Ditadura do Proletariado sobre o Estado. Preobrazhensky tentar trabalhar de maneira bem abstrata recorrendo ao método de Marx e Engels, real-abstrato-concreto, e tendo como base teórica a Economia Política derivada diretamente do O Capital. Analisa a economia soviética sob o ponto-de-vista das categorias da Economia Política marxiana, sua vigência ou não e as mutações que sofrera numa economia de tipo novo, pós-capitalista.

O motivador do livro A Nova Econômica seria tornar-se uma resposta aos teóricos da maioria da direção do Partido Comunista, ligados a linha política do bloco Stálin e Bukharin, que defendiam a manutenção da NEP e da política econômica de industrialização lenta e estímulo a acumulação privada pelos kulaks e pequenos comerciantes - a linha política que defendia o "socialismo em um só país". A teoria da acumulação socialista primitiva permitia dizer que o socialismo na URSS deveria ser construindo sim, mas com a industrialização acelerada, o planejamento centralizado e democrático, a coletivização do campo e a expansão da revolução mundial. A Nova Econômica consolidaria as posições da Oposição de Esquerda e dos trotskistas soviéticos até então sobre a economia de transição ao socialismo, as relações econômicas internacionais e o desenvolvimento social e econômico das nações.

Preobrazhensky anunciara no prefácio que A Nova Econômica seria apenas a primeira parte de uma obra maior, onde abrigaria a extensão das teorias ali apresentadas. Enfatizaria segundo ele, aspectos mais concretos da economia soviética de então, a formulação de modelos matemáticos a esse respeito e a teoria da crise do capitalismo, e também tratar outros aspectos não tratados com profundidades. Contudo, toda tentativa posterior de lançamento de materiais foi vetada pela ditadura stalinista e mesmo a luta política desse período dificultava tempo e condições para redação de uma continuação dessa obra. A publicação fragmentada de variados artigos, entre 1926 a 1931, que acabaram décadas mais tarde sendo reunidos e publicado no Ocidente, sob o nome de "Crise da Industrialização Soviética", e seu último livro "O Declínio do Capitalismo", editado ainda vivo em 1931, podem, de certa forma, ser considerados como a continuação do trabalho de "A Nova Econômica" e mesmo dos volumes não editados.

O livro “A Crise da Industrialização Soviética: ensaios selecionados” é uma coletânea de artigos que abordam os dilemas da industrialização e desenvolvimento econômico socialista da URSS (a maioria deles são de críticas a coletivização e industrialização forçada de Stalin realizada pelo I Plano Qüinqüenal iniciadas em 1929). A maior parte dos textos circulou pela URSS no tempo de vida, mas só foi publicada, e no Ocidente, em 1980, agregando vários artigos do autor escritos desde a década 1920.

O livro “O Declínio do Capitalismo” (publicado originalmente como 1931 como Zakat kapitalizma: Vosproizvodstvo i krizisy pri imperializme i mirovoi kriz 1930-1931) é um estudo sobre a crise capitalista de 1929 e uma formulação de uma teoria da crise marxista. Aponta a gravidade da Depressão, que então ainda se iniciava, sem cair no “colapsismo”, tão constante na esquerda marxista, em herança ao marxismo vulgar da Segunda Internacional, opondo inclusive a visão dominante sobre a questão na própria URSS. Analisa as tendências recorrentes, cíclicas, crônicas e crescentes de crise do sistema capitalista e o caráter progressivamente mais crítico desse sistema, investigando com base as elaborações de O Capital as causas da crise capitalista e suas formas de manifestação.

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