por Almir Cezar Filho
O artigo de Ricardo Sayeg, “Desmascarando o absurdo da tributação de lucros e dividendos”, parte de uma visão tipicamente neoliberal, segundo a qual a carga tributária brasileira seria excessiva e um entrave ao crescimento econômico. No entanto, uma análise crítica sob uma ótica progressista e desenvolvimentista permite desmontar 5 dos argumentos apresentados.
1. O Mito da Carga Tributária Excessiva sobre as Empresas
O autor afirma que as empresas no Brasil já enfrentam uma
carga tributária "descomunal" que pode chegar a 40% do faturamento.
Esse número é, no mínimo, controverso. A carga tributária total no Brasil gira
em torno de 32% do PIB, o que nos coloca abaixo da média da OCDE (cerca de
34%). Além disso, grande parte da arrecadação brasileira recai sobre o consumo
e a folha de pagamento, enquanto o capital e a renda dos mais ricos são
relativamente pouco tributados.
No que se refere ao lucro das empresas, o Brasil tem um dos
regimes mais generosos do mundo: não há tributação sobre lucros e dividendos
distribuídos a pessoas físicas desde 1995. Em comparação, países como Estados
Unidos, Alemanha e França taxam dividendos a taxas superiores a 20%. Ou seja, o
Brasil está na contramão da prática internacional, beneficiando especialmente
os mais ricos.
2. O Erro ao Chamar a Tributação de Lucros e Dividendos de
"Bitributação"
Sayeg argumenta que tributar dividendos equivaleria a uma
bitributação, pois as empresas já pagam IRPJ e CSLL sobre seus lucros. Esse
argumento ignora um ponto fundamental: lucro e dividendos são coisas distintas.
O IRPJ e a CSLL incidem sobre o lucro da empresa antes da
distribuição aos sócios. A tributação de dividendos recai sobre o rendimento recebido
pelo acionista. Isso não configura bitributação, pois são tributos sobre
sujeitos distintos: a empresa paga sobre seu lucro, e o acionista paga sobre
sua renda. Essa distinção existe em praticamente todas as economias
desenvolvidas.
3. A Falácia de que Tributar Dividendos Afugentaria
Investimentos
Outro ponto levantado no artigo é que a tributação de lucros
e dividendos afastaria investidores e sufocaria o setor produtivo. Isso é uma
falácia econômica. Países com tributação de dividendos bem estruturada, como os
EUA e a Alemanha, não sofrem fuga massiva de investimentos. Pelo contrário, a
segurança jurídica e a previsibilidade fiscal são fatores muito mais relevantes
para o investimento do que a isenção sobre dividendos.
Além disso, no Brasil, a isenção de dividendos não se traduz
em maior investimento produtivo. Em vez disso, estimula a distribuição de
lucros em detrimento do reinvestimento nas empresas, beneficiando acionistas em
detrimento da geração de empregos e do crescimento econômico.
4. O Verdadeiro Impacto da Isenção de Dividendos
O artigo ignora um dado crucial: quem mais se beneficia da
isenção de dividendos são os super-ricos. Estima-se que os 0,1% mais ricos do
Brasil detêm 70% dos rendimentos isentos de tributação. Enquanto trabalhadores
assalariados pagam até 27,5% de Imposto de Renda, empresários e investidores
recebem dividendos sem qualquer tributação, aprofundando a desigualdade.
Se o Brasil adotasse uma alíquota moderada sobre dividendos,
seria possível arrecadar mais de R$ 100 bilhões por ano, aliviando a carga
sobre o consumo e o trabalho, que hoje sustentam o sistema tributário.
5. O Verdadeiro Problema Fiscal
Sayeg acusa o governo de descontrole fiscal e
irresponsabilidade, mas ignora que a verdadeira distorção está na falta de
progressividade do sistema tributário. O Novo Arcabouço Fiscal não revogou a
responsabilidade fiscal, apenas substituiu o teto de gastos, que se mostrou
ineficaz e socialmente perverso. Reduzir o tamanho do Estado, como propõe o
autor, significaria menos serviços públicos, mais desigualdade e menor
capacidade de indução ao crescimento econômico.
Conclusão
A crítica de Sayeg à tributação de lucros e dividendos é
baseada em premissas equivocadas e falácias econômicas. Tributar dividendos não
é bitributação, nem uma aberração, mas uma medida justa, alinhada às melhores
práticas internacionais e essencial para reduzir desigualdades.
Se o Brasil quer um ambiente econômico mais justo e sustentável, deve buscar um sistema tributário progressivo, que onere menos o consumo e a classe trabalhadora e cobre mais de quem realmente pode pagar.
Se o Brasil quer um ambiente econômico mais justo e sustentável, deve buscar um sistema tributário progressivo, que onere menos o consumo e a classe trabalhadora e cobre mais de quem realmente pode pagar.
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