quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Teoria da Crise no Marxismo (4) - O problema da demanda efetiva a partir dos anos 1930

Capítulo 4 
O problema da demanda efetiva a partir dos anos 1930

Fora da corrente marxista, foram poucos economistas, até a década de 1930, que se interessaram pelo problema das crises por fora da abordagem do equilíbrio geral neoclássico e na "Lei de Say"[1]. Entre esses poucos, destaca-se J. A. Hobson, que era um teórico subconsumista: segundo ele, a capacidade produtiva da economia crescia mais rapidamente do que a capacidade de consumo da sociedade, e isso acontecia devido a má distribuição de renda: de um lado, os trabalhadores, com baixas rendas, não podiam aumentar seu consumo, e de outro lado, os capitalistas, com altas rendas, formavam grandes poupanças, acumulavam capital, ampliando cada vez mais a capacidade produtiva.

A grande crise económica iniciada em 1929 acabaria por forçar o reconhecimento da importância da realização no processo capitalista de produção. Apesar disso, a maioria dos economistas de formação ortodoxa neoclássica continuou a sustentar opiniões apoiadas na "lei de Say". Mas uns poucos começaram a ver o problema. Na Inglaterra, J. M. Keynes, publicou em 1936, a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda[2], o economista um declarado admirador de Malthus e com uma influência de economistas europeus nos primeiros anos da década de 1930 que puseram em discussão as relações entre poupança e investimento. Depois do aparecimento dessa obra, e também ao grande prestígio do autor nos meios políticos e acadêmicos ocidentais, o princípio da demanda efetiva foi ganhando aceitação geral, em crítica e substituição à lei de Say.

Antes, contudo, da Teoria Geral de Keynes, M. Kalecki já havia publicado, em polonês, três estudos que constituíram em conjunto[3], a primeira formulação precisa e sistemática do papel da demanda efetiva no processo de reprodução capitalista. Nesses estudos pode-se constatar claramente a influência de Marx, Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburgo, como o próprio reconhece, embora apresentando desprovido do vocabulário marxista tradicional e com todo o estilo formal e as expressões matemáticas, constituía um desenvolvimento do velho problema da realização. Mas do que isso, Kalecki introduziu diversas idéias que depois foram adotadas pela chamada escola keynesiana.

A revolução keynesiana e os trabalhos de Kalecki influenciaram os tecnocratas e intelectuais marxistas social-reformistas, ainda mais com a complementação que o próprio Kalecki ao incorporar os avanços de J. Schumpeter sobre o papel do desenvolvimento tecnológico e da grande empresa capitalista para o crescimento económico e causalidade das crises produtivas do capitalismo, possibilitando no pós Segunda Guerra nos países semi-coloniais e ex-coloniais, o profício desenvolvimento de abordagens desenvolvimentistas em termos estruturais e a importância do planejamento e da interferência estatal para o desenvolvimento económicos e manutenção de conjunturas favoráveis.

Nota do Capítulo:
[1] Segundo a Lei de Say, ou Lei dos Mercados, formulada pelo economista francês Jean-Baptiste Say, a produção cria sempre sua própria demanda, isto é, toda a renda gerada na produção é necessariamente gasta na compra dessa mesma produção. Foi aplicada pelo economista inglês David Ricardo, também membro da Escola Clássica, como hipótese que asseguraria equilíbrio geral nos esquemas de reprodução, e como tal foi incorporada pelos economistas neoclássicos (HEILBRONER, 1996).
[2] KEYNES, 1983.
[3]KALECKI, 1996

Amanhã
O início da Parte II - O ESTATUTO ONTOLÓGICO DAS CRISES EM MARX E ENGELS, com o Capítulo 5- DE NOVO A QUESTÃO DA REPRODUÇÃO NOS ESQUEMAS DE MARX

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