quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Antipositivismo, Metafísica e "Mercado" na Direita Pós-Moderna

Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 13

por Almir Cezar Filho

Um dos traços marcantes da nova direita que emerge é uma profunda propaganda ideológica à respeito do tal "mercado".

O gradual repúdio epistemológico ao positivismo central na Pós-Modernidade (inclusive à Direita),  levou ao progressivo retorno filosófico às formas marcante do período que antecedeu a Modernidade, até mesmo em base metafísica. Dessa maneira, mais que personifica-se  o Mercado. E reforça-lhe o caráter de entidade suprema ordenadora da vida social e orientadora da vida individual, como nunca o foi no Liberalismo durante a Modernidade - deificando-lhe.


O antipositivismo e o entendimento de ordenador supremo explicam a adesão entre a Direita Pós-Moderna às pseudoteorias econômicas da Escola Austríaca.

O Mercado

A economia de mercado é o sistema econômico controlado, regulado e dirigido apenas por mercados; (...). Uma economia desse tipo se origina da expectativa de que os seres humanos se comportem de maneira tal a atingir o máximo de ganhos monetários" (Polanyi, 1980:81).

Muitas pessoas acreditam que os mercados são "eficientes" no sentido de que refletem amplamente a informação dispersa, e, por isso, revelam mais conhecimento do que qualquer pessoa ou junta, por mais especializada que possa ser. Mesmo que essa afirmação seja correta, é bom esclarecer que pequenos grupos de investidores, se comunicando uns com os outros, podem polarizar de modo a produzir grande quantidade de erros. Em uma discussão excepcionalmente esclarecedora. Cascatas informacionais exercem grande influência na tomada de decisões em geral, e às vezes produzem bolhas, causando sérios problemas para a chamada eficiência dos mercados.

A metafísica

O gradual repúdio epistemológico ao positivismo levou ao progressivo retorno de formas marcante ao período que antecedeu a Modernidade. O positivismo é uma das quatro vertentes do Liberalismo, ideologia hegemônica da Modernidade - as outras são o Jusnaturalismo, o Funcionalismo e o Utilitarismo. O positivismo produziu uma profunda crítica ao que condenou a sociedade anterior e pré-moderna, pautada segundo essa pelo domínio da metafisica ou teologia, e abandono daquilo que consideram como "positivo". Os acontecimentos são explicados e regulados tendo como base leis gerais e universais.

O positivismo não se limita a Auguste Comte, mas uma série de importantes pensadores fundamentais à Modernidade, como o intelectual Emile Littre, o físico David Brewter, o filósofo e economista britânico John Stuart Mill. Para eles, por meio da experiência positiva poderíamos formular nossas legislações e também analisar e observar a nossa sociedade (ciência) com o objetivo de torná-la melhor.

A ideia-chave do positivismo comtiano (de Auguste Comte) é a Lei dos Três Estados, de acordo com a qual o entendimento humano passou e passa por três estágios históricos em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas ideias e a realidade. No "Estado Teológico" o ser humano explica a realidade por meio de entidades supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?"; além disso, busca-se o absoluto.

A Metafísica (do grego antigo μετα (metà) = depois de, além de tudo; e Φυσις [physis] = natureza ou física) é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas metafísicos, em sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica: são tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios, bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. Um ramo central da metafísica é a ontologia, a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se relacionam umas com as outras. Outro ramo central da metafísica é a cosmologia, o estudo da totalidade de todos os fenômenos no universo.

No "Estado Metafísico", uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade: "o Éter", "o Povo", "o Mercado financeiro", etc. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?" e procurando o absoluto. É a busca da razão e destino das coisas, é o meio termo entre teológico e positivo.

Liberalismo e as ideologias

Há diferenças entre o Liberalismo Clássico e o Neoclássico, contudo em essência mantêm-se unidos enquanto alguma forma de continuidade ou descendência. O Liberalismo Clássico nasce na sequência do Iluminismo, mas não pode lhe ser confundido. Sua ascensão corresponde a parte final do século XVIII e seu auge o segundo quarto do século XIX. O Liberalismo Neoclássico ascende na metade do século XIX. 

Em ambos, desenvolveram-se quatro grandes vertentes, constituindo em seus fundamentos de princípios e de métodos: o Jusnaturalismo, o Positivismo, o Funcionalismo e o Utilitarismo. O Liberalismo Clássico foi pautado mais fortemente pelo Jusnaturalismo e pelo Funcionalismo, enquanto que, o Neoclássico, pelo Positivismo e pelo Utilitarismo.

A ação política ou mesmo a movimentação política da burguesia como um todo resulta na soma vetorial dos acordos e disputas inter e intraburguesas, dos interesses e projetos distintos das várias frações e setores e segmentos burgueses. Apesar de classe dominante, a burguesia não consegue dominar a sim mesmo como classe; está aberta a conflitos e disputas internas, inclusive provocadas pela concorrência de mercado. Numa diversidade de ideias que serve inclusive de teste para constituir uma nova ideologia hegemônica ou alternativas rivais. 

As ideias se enfrentam mesmo que nas tribunas, escolas, imprensas e livros a espera de passarem do plano das ideias ao plano da ação e inspiram seus seguidores, cada qual em uma fração da classe a seus próprios atos, como também às novas ideias, ou novas-velhos, isto é, resgatar ideias velhas que servirão aos propósitos atuais.
Nenhuma sociedade pode prosperar e ser feliz se a grande maioria dos seus membros for pobre e miserável. Nada mais equitativo, aliás, que os que alimentam, vestem, e abrigam todo o povo, fiquem com parte do produto do seu próprio trabalho de forma a ser eles mesmos minimamente bem alimentados, vestidos e abrigados. (Adam Smith. A Riqueza das Nações).
A Esquerda é uma denominação que nasceu no parlamento francês no contexto da Revolução francesa para distinguir o grupo dos girondinos, que sentavam à direita do parlamento dos jacobinos, que se sentavam à esquerda. Então, é uma designação muito genérica.

Os intelectuais e as classes políticas tiraram de "moda" toda uma série de conceitos para explicar a realidade, Um dos mais afetados foi a luta de classes, ao ponto que até a esquerda não usa mais. A direita já havia abandonado a mais de um século. Em um passo seguinte, desapareceu a própria necessidade de explicar a realidade. Quando muito em "desconstrução". Contudo, por um lado, não é porque tirou de moda a descrição da realidade que a realidade tirou de não existir mais. Por outro, a palavra "construção" no latim significa "erguer pelo acúmulo". Há um esforço para edificarmos uma nova realidade. Por enquanto, pouca construção e muito acúmulo de vaias.

Referências
  • Mesquita, André Campos . Augusto Comte. Sociólogo e Positivista. Coleção pensamento e vida. Livros Escala, 2012
  • Polanyi, Karl. A grande transformação. As origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus 1980.
  • Smith, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Nova Cultural, 1984.
  • Sunstein, Cass R. A era do radicalismo: entenda por que as pessoas se tornam extremistas. Rio de Janeiro: Elvesier, 2010.
Atualizado em 21/11/2016

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