quinta-feira, 25 de junho de 2015

Barbeiragem da política econômica empurra o país para recessão e não abaixa inflação

Banco Central admite previsão de retração de 1,1% no PIB e inflação de 9% em 2015

Fortes e sucessivos aumentos da taxa básica de juros pela autoridade monetária, acompanhada de ajuste fiscal, com cortes orçamentários e aumento de impostos e tarifas públicas pelo Ministério da Fazenda e Planejamento, visando o combate a inflação, empurra colateralmente a economia para uma recessão, cuja retratação do Produto Interno Bruto (PIB) pode chegar a -1,1%, porém os resultados não são sentidos sobre os preços ao consumidor. A inflação esperada para esse ano pode ficar em mais que o dobro da meta oficial de 4,5%. Enquanto isso, o índice de desemprego em certas capitais já chega a 10% da PEA (população economicamente ativa), batendo a taxa do auge da crise em 2009.

O Banco Central (BC) espera uma retração de 1,1% da economia brasileira em 2015. Há três meses, a instituição projetava queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,5%. A estimativa de retração divulgada no Orçamento do ano é de 1,2%. A projeção do mercado pela pesquisa Focus é de queda de 1,45%.


A instituição também elevou a projeção de inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador oficial de inflação) para o ano de 7,9% para 9,0%, maior valor desde 2003 (9,3%), acima do teto da meta, de 6,5%. Para 2016, a previsão passou de 4,9% para 4,8%. Em junho de 2017, segundo o BC, a inflação ao centro da meta de 4,5%. O objetivo da instituição é alcançar esse valor em dezembro do próximo ano.

As estimativas consideram a taxa básica de juros atual, de 13,75% ao ano, e um dólar cotado a R$ 3,10. Os dados fazem parte do Relatório Trimestral de Inflação do BC, divulgado nesta quarta-feira (24). A instituição tem sinalizado que continuará a subir a taxa básica de juros até que sua projeção para o IPCA de 2016 esteja em 4,5%, que é o centro da meta de inflação.

A meta tem um intervalo de tolerância que vai até 6,5%. Quando esse valor é superado, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda para explicar o motivo de não ter cumprido o objetivo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), formado por BC, Fazenda e Ministério do Planejamento.

A chance de estouro da meta em 2015, segundo o BC, é de cerca de 99%. O BC também projetou a inflação utilizando as expectativas do mercado para juros e câmbio. As previsões dos analistas são de um dólar mais caro ao longo do período e de uma taxa básica que chegaria a 14% ao ano no fim de 2015, para depois cair para 12% em 2016. Nesse caso, a inflação ficaria em 9,1% no fim de 2015, 5,1% em dezembro de 2016 e 4,8% em junho de 2017, segundo cálculo do BC.

BC tenta se explicar e mira em mais desemprego

No Relatório Trimestral de Inflação, o BC reconheceu que sua política de juros básicos altos não mira diretamente os preços ao consumidor, mas desaquecer o mercado de trabalho, e para a autoridade monetária a dose ainda não seria suficiente. Apesar dos dados recentes que mostram aumento do desemprego e queda na renda, o BC afirma que ainda prevalece risco "significativo" de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade, com repercussões negativas sobre a inflação.

"Moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços", diz o BC no relatório. "A dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos."

Segundo o BC, depois de um período necessário de ajustes, o ritmo de atividade tende a se intensificar, na medida em que a confiança de firmas e famílias se fortalecer. Esses ajustes, entre eles a alta dos juros, são necessários para que "as taxas de crescimento do PIB potencial e efetivo retomem patamares mais elevados". Assim, se justifica para explicar a permanência da inflação alta que ao arrocho monetário ainda não surtiu ainda os efeitos desejados, enquanto a economia também marcha para a recessão.

O BC diz ainda que aumentou a possibilidade de queda da inflação, hoje em 8,47%, para 4,5% no final de 2016. "Contudo, os avanços alcançados no combate à inflação (...) ainda não se mostram suficientes. Nesse contexto, o Copom reafirma que a política monetária deve manter-se vigilante", diz a instituição indicando que haverá novos aumentos de juros.

Com informações: Banco Central, Uol Notícias, Agência Brasil, IBGE

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