ECONOMIA- Nobel de Economia prevê uma terceira depressão mundial
por Diego  Cruz
A crise  econômica internacional não terminou. Os últimos meses mostraram uma  relativa recuperação, mas ela não é sustentável e novos sinais de queda  já começam a aparecer. Não é mais um artigo catastrofista de esquerda  prevendo mais um fim do capitalismo. É, antes, a percepção cada vez mais  forte do mercado financeiro sobre o futuro da economia.
Isso se reforçou com os últimos  indicadores mostrando uma desaceleração no mercado de trabalho nos  Estados Unidos, assim como a queda no ritmo da recuperação econômica da  Ásia e o aprofundamento da crise na Europa. A recente reunião do G20 e a  polêmica colocada: a necessidade de estímulos fiscais versus plano de  ajustes, mostram que a crise está longe do fim, chega a um impasse e  mostra sinais de recaída para o futuro próximo.
Uma crise estrutural
A crise se expressou  inicialmente em 2008 com o estouro do mercado imobiliário subprime, nos  EUA, o mercado de financiamento de casas voltado ao público de baixa  renda. A implosão desse setor trouxe à tona uma série de complexos  mecanismos financeiros, como os tais derivativos, revelando que o  período de “exuberância irracional” dos mercados nos últimos anos foi  sustentado por um esquema semelhante à fraude da pirâmide.
A falência do centenário banco  Lemanh Brothers, no final do mesmo ano levou o pânico desenfreado aos  mercados e governos em todo o mundo. Os governos, com a Casa Branca à  frente, apressaram-se em aprovar pacotes bilionários de ajuda aos bancos  e empresas. Durante todo o ano de 2009, foram trilhões despejados de  forma indiscriminada nos mercados financeiros como forma de conter a  recessão. A tese da crise restrita à esfera financeira entrava em  descrédito na medida em que uma profunda recessão se desenhava no  planeta. 
Os pacotes  articulados pelos governos conseguiram conter a recessão e impedir uma  depressão mundial. Mas mostraram-se financeiramente inviáveis, colocando  países, principalmente os da Europa, à beira da falência. De tal forma  que a fase agora é a da contenção dos gastos. O clamor pelos pacotes de  ajuda foi substituído pela necessidade do ajuste fiscal e os cortes de  gastos, passando a conta da fatura para os trabalhadores. 
Apesar dos impasses entre EUA e  Canadá e Europa na mais recente reunião do G20, a orientação para os  países é a busca pelo “equilíbrio fiscal”. Ou seja, a política do  Imperialismo agora é, sem deixar de lado os pacotes de estímulos,  estender o ajuste fiscal que está provocando uma verdadeira rebelião  social na Europa para o restante do mundo. Significa explicitar ainda  mais a transferência de recursos públicos para os mercados.
Tempo de cortar
O grande problema é que os  pacotes estatais de estímulo não foram suficientes para impulsionar o  investimento privado. Se se cessam, a recuperação também para. Segundo o  Instituto Internacional de Finanças, uma organização que reúne grandes  bancos de todo o mundo, as políticas de ajuste fiscal devem reduzir o  crescimento econômico dos países desenvolvidos de 2,5% para 1,8% em  2011.
Ao todo, os  pacotes serão responsáveis pela redução de 1,25% no crescimento mundial  no próximo ano. Isso se refletirá nos chamados “países emergentes”.  Segundo o IIF, o Brasil crescerá 7,5% em 2010 e no ano seguinte não deve  passar dos 4,4%. Por isso, a instituição dá como terminada a fase de  rápida expansão dos emergentes que ocorreu nos últimos meses.
Futuro incerto
Nos Estados Unidos entre maio e  junho foram criados 13 mil empregos quando eram esperados pelo menos 50  mil. Em contrapartida, 125 mil postos foram extintos. Já o mercado  imobiliário se retrai à medida que o governo extingue sua política de  estímulo. Os últimos 12 meses de acelerado crescimento refletiu no país a  reposição dos estoques, vazios durante o período mais agudo da crise. O  ritmo agora tende a diminuir, e o fim dos estímulos vai aprofundar essa  desaceleração num momento em que a economia não consegue andar com as  próprias pernas, colocando a perspectiva de uma nova recessão.
Já na Europa, cujo índice de  desemprego na zona do Euro chega a 10%, os planos de ajustes vão  aprofundar ainda mais a crise social que já explode em países como  Grécia e Espanha. A Alemanha, maior economia e motor da União Europeia,  detalhou seu plano de cortes nesse dia 5 de junho. O governo de Angela  Merkel vai cortar o equivalente a R$ 171 bilhões em quatro anos, em uma  série de medidas que inclui a demissão de 15 mil servidores públicos.
Tal cenário fez com que o  prêmio Nobel de Economia e colunista do New Iork Times, Paul Krugman  previsse uma nova fase recessiva e, mais que isso, uma nova depressão  equivalente a 1929. Na verdade, o economista compara a atual crise à  “longa depressão” de 1873, um período marcado por fortes instabilidades e  recaídas. Para o colunista, essa terceira depressão do capitalismo vai  ser o resultado da política econômica recessiva imposta pelos governos,  que custará algo como “10 milhões de empregos”. 
Krugman vem causando controvérsias  com suas previsões consideradas catastrofistas. Os defensores dos planos  de ajustes argumentam que o equilíbrio das contas públicas vai  automaticamente gerar “confiança” nos mercados e ajudar a impulsionar  novamente a economia. A realidade, porém, é que uma nova recessão, ou  melhor, uma nova fase da crise está cada vez mais clara no horizonte. 
E o Brasil?
Como ficou mais do que claro  no final de 2008, o Brasil não é uma ilha. Se o país conseguiu evitar  uma longa recessão através de pesados subsídios fiscais a bancos e  empresas, ajudou para isso a rápida recuperação da demanda da China por  minérios e demais commodities a volta do crédito. 
O que está ficando mais certo,  porém, é que o país não contará com as mesmas condições externas que  tornaram possível o crescimento econômico dos últimos anos, apesar da  política neoliberal. A demanda por commodities diminuirá, assim como o  crédito e os investimentos diretos que, nos últimos meses, cobriram o  déficit em conta corrente (prejuízo do que saiu e entrou no país). 
Uma nova crise se desenha para  o futuro e o país não terá as condições que o possibilitaram a retomar o  crescimento. E também não terá Lula, ou seja, ficará mais difícil  conter o movimento de massas na hora de impor planos de ajuste fiscal e  reformas. 
Diego  Cruz, jornalista e especialista em Economia do Trabalho pela Unicamp,  colabora com diversos veículos, como o jornal Opinião Socialista
Fonte: Opinião Socialista online 
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