Varsóvia - Niall Ferguson é um dos  mais discutidos historiadores britânicos de nossa época. Sua obra  escrita oscila em torno de dois temas centrais: a história do dinheiro e  a história dos impérios. Em 2003, no rescaldo da guerra dos EUA contra o  Iraque, guerra esta que Ferguson defendeu calorosamente, seu livro  Império tornou-se best-seller no mundo anglófono.
Representante da escola "Revisora" da  história, o autor luta neste livro para reconstituir moralmente a  coloniocracia ocidental, advoga a favor de um "império norte-americano  sem culpas" e reavive a lógica do poeta Kipling, sobre a famigerada  "carga do homem branco", que deve civilizar as raças "atrasadas".
Daquela época até hoje muita água  rolou por debaixo das pontes do Tâmisa e do Potomac, como testemunha o  último artigo do Ferguson na revista norte-americana Foreign Affairs,  sob o eloquente título "Impérios à beira do caos". Desta vez, o  professor de Harvard critica duramente não a soberba do vitoriano  Kipling, mas o pessimismo do filósofo alemão da pós-Segunda Guerra  Mundial Oswald Spengler, autor do livro que marcou época com o título A  Decadência do Ocidente.
Motivo para a guinada pessimista de  Ferguson foi não tanto a imobilidade militar da capengante superpotência  norte-americana no Iraque e no Afeganistão, quanto a grande crise  econômica do último triênio, com suas possíveis e gigantescas  consequências geopolíticas.
O historiador britânico soa a sinal  de perigo para a crise fiscal dos EUA, com a perigosa escalada da dívida  e do déficit, avaliando que Washington será obrigada a cortar  seriamente os gastos militares e suas ambições geopolíticas. 
Ocaso neoliberal 
Sequer o outro vetor do predomínio  ocidental, a União Européia, deve sentir-se melhor. Sob o título A Morte  do Sonho Europeu, Gedeon Rachman, articulista do jornal britânico  Financial Times, escreveu a respeito:
"Com a energização da Convenção de  Lisboa, determinados líderes europeus sonhavam uma nova ordem mundial,  na qual a União Européia seria, finalmente, reconhecida como  superpotência mundial, ao lado dos EUA e da China."
"De fato, nas últimas semanas, a  Europa atraiu a atenção mundial, mas não de forma que desejava. Ao invés  de apreciar pelo seu dinamismo e sua força, o restante do mundo  acompanha a escalada da crise econômica do continente com sentimentos de  agonia e terror."
"Alguém acompanhar a luta de  Washington e Beijing para a salvação do euro parece - um pouco - como se  acompanhasse um acidente automobilístico na faixa oposta. Ser  espectador é por si só ruim, mas existe o medo adicional de que você  poderá ser atingido pelas peças e acessórios que voarão do automóvel  acidentado".
Entretanto, semelhantes profecias  sobre "decadência" do predomínio Ocidental têm sido formuladas muitas  vezes, durante o último século, para serem desmentidas na próxima  guinada da história.
Por exemplo, em 1987, o escritor  norte-americano Paul Kennedy provocou sensação mundial com seu  importante livro Ascensão e Queda das Grandes Potências, no qual previu a  decadência dos EUA e da Europa Ocidental e a transferência do peso do  centro planetário ao Extremo Oriente, encabeçado pelo Japão.
Alguns anos mais tarde, a União  Soviética era dissolvida e o Japão entrava em fase de prolongada  desaceleração econômica, enquanto os EUA emergiam como a única  superpotência e a Europa alicerçava o euro. É sempre mais seguro, para o  historiador, prever o passado, do que o futuro.
Alex Corsini, Sucursal da União Européia. 
Monitor Mercantil, 23/06/2010
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