sábado, 24 de fevereiro de 2018

Jardins fractais e ordem espontânea: Mercado x Planejamento em relações interativas

por Almir Cezar Filho

Os famosos terraços de arroz em Bali (ilustrados na foto ao lado) parecem mosaicos coloridos porque alguns agricultores organizam o cultivo de modo sincronizado, enquanto outros plantam em momentos distintos. Os modelos fractais resultantes são sistemas mais raros, mas levam a boas colheitas sem demandar um planejamento global. Os campos balineses de arroz podem servir como exemplo de que, sob certas circunstâncias, é possível alcançar condições sustentáveis que levam a um retorno financeiro máximo a todos os envolvidos, em que cada indivíduo toma decisões livres e independentes  (ler artigo para entender mais AQUI)

Os fractais, ao comprovarem as possibilidades de ordem espontânea, também comprovam, ao contrário de uma leitura não dialética, as circunstâncias e a eficácia e eficiência do planejamento. O exemplo dos terraços fractais apresentam a limitação da ordem espontânea, sem a existência ou presença do mediador "terceiro", e por sua vez indivíduos precisam de planejamento, mesmo que não seja coletivo, porém tem que ser sincrônico.


Em uma simulação heurística hipotética tomamos esse caso e damos consistência lógica. Simulemos que o jardim só há lotes cultivados "A" e "B", ou "1" e "2", representando respectivamente o lote de cima e o lote de baixo. 

Tanto A e B são indivíduos livres que interagem por sobrevivência. Indivíduos iguais e diferentes, isto é, apesar de semelhantes, divergem em tarefas e sequências em relação ao outro na interação. Aprendem em rodadas sucessivas, cujo tempo de interação é igual ao tempo de aprendizagem. Há dezenas, centenas de "A" e o mesmo quantitativo de "B". Temos assim:

A= {A1, A2, A3, ..., An} ~ B = {B1, B2, B3, ... , Bn}

t= tempo, A:t={A1:t1; A2:t2; A3:t3; ...; An=tn}

Sendo que: A1 interage B1, e educa A2, e A2 age semelhantemente com A3, sucessivamente

A presença de tradições, isto é, hábitos, crenças e valores são compartilhados no sistema e dão consistência similar ao planejamento e a intervenção; dão previsibilidade e direção à ação; dão ameaça, vigilância, punição e arbitragem.

O longo prazo garante a arrumação que constituí a ordem espontânea; as rodas de interação vão ajeitando os atores e dando forma ao conjunto.

Mas isso não é mercado. Interações sob trocas sem mediação não é mercado.

A interveniência desse terceiro ocorre na condição que A e B não encontram em igualdade. O planejamento se dá inicialmente pelo "terceiro" ou C, isto é, ou A ou  B, ganham um papel adicional. 

Quando A se encontra mais forte que o B e o Terceiro, ele implanta o planejamento e o estende ao B e ao Terceiro. Esse momento também a tradição não é mais determinante; a previsão e direção são científicos.

A = C

Os terceiros são desmembrados principalmente de A, e alguns de B. Os A são em menor número que B. Os A´s remanescentes da antiga miríade de A.

Esse terceiro não pode ser A senão o sobrecarregaria nem obteria a legitimidade dos B´s.

Há subsunção dos B´s aos A´s. E A não se mantém a não ser explorando B.

A tradição é substituída por convenções, contratos e acordos, mas não necessariamente pela ciência e técnica. O Terceiro é subordinado a A.

A:t1> A:t2> A:t3> ... > A:tn

A cada rodada há menos A e as rodadas são mais rápidas que a capacidade de aprendizagem. A não ser que a aprendizagem se dê dentro de terceiro ou por conhecimento científico.

As mudanças acontecem rápido, tanto pelo desaparecimento de A´s e a ampliação de B´s, como pela subsunção crescente. As rodadas não tem o mesmo intervalo. Há uma espécie de revolução ininterrupta, permanente.

A conclusão é que encerrada a igualdade cooperativa, a interação persiste apenas se houver uma ordem imposta por um terceiro, e na sequência esse terceiro dá lugar a ordem imposto pelo mais forte do par interativo.

No período de igualdade cooperativa cada indivíduo desenvolve planejamento individual, mesmo que inconsciente, mas presente. Em parte esse planejamento é desempenhado alternativamente pela tradição ou pela convenção, diminuindo a preocupação, tempo ou energia gasto com planejamento.

Mas quando a velocidade de interação se acelera acima da capacidade de aprendizagem, este espontaneamente dá lugar ao interveniente, o chamado Terceiro. 

Referências:
  • Os inesperados benefícios de plantações com padrões fractais - por Carolina Goetten, em site Hyperscience.com (postado em 15.06.2017). Acessado em: https://hypescience.com/plantacoes-de-padrao-fractais-possuem-inesperados-beneficios/ (Visto em: 24/02/2018)

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