sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O Fascismo é um movimento de massas? Porque é possível e desejável apoiar uma greve de policiais

Uma direita avivada e extremista não é fascismo.
 Um movimento de massas com consciência burguesa não é de "direita", menos ainda fascista

Ensaios sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 20

por Almir Cezar Filho

Muitos bons ativistas dos movimentos sociais e mesmo marxistas de boa cepa afirmam que há movimentos de massa que nós socialistas não devíamos apoiar. Esse seria o caso agora da "greve" que está ocorrendo na PMERJ e na Polícia Militar do Espírito Santo. Tomam como exemplo o caso dos movimentos fascistas e o Nazismo que teria sido movimentos de massas reacionários ou conservadores. Discordo francamente. E portanto, defendo o apoio aos movimentos grevistas dos policiais militares.

Minha posição toma referência analítica de que o fenômeno dos movimentos sociais de Direita não são movimentos de massas - isto é, o Nazismo e os movimentos fascistas e protofascistas são movimentos sociais, mas não de massas. Mas, por outro lado, movimentos sociais oriundos do seio de proletários que compõem as instituições das forças de segurança são movimentos de massa. E não podem ser confundidos com movimentos protofascistas.

Vejam a síntese do que penso em 10 pontos:

1) A Esquerda esqueceu que a Direita também pode se fazer como movimentos sociais, isto não quer dizer, se fazer operário-popular, mas que classes sociais também agem enquanto sociedade civil e pressionando politicamente, como grupos organizados. As elites, a burguesia, geralmente o grupo social da Direita, também podem atuar fora do Estado (que controlam), do mercado e dos aparelhos ideológicos.

2) E todo movimento político de Direita, seja o fascismo, ou mesmo fundamentalismo religioso, etc, tem alguma dimensão plebeia. Essa dimensão porém não se aprofunda. O Fascismo, os protofascistas são compostos socialmente de movimentos sociais não operários-populares, são de burguesias periféricas e da pequena-burguesia. Não são de massas, mas podem ser utilizar das táticas operários-populares, porém, de maneira limitada inclusive por seus objetivos e composição social. Por sua vez, podem arregimentar componentes no proletariado e buscam apoio junto às classes operárias e populares.

3) Os movimentos fascistas, e o Nazismo em especial, não fizeram (fazem) mobilizações de massa, mas sim demonstrações públicas espetaculares com uma ou outra presença de componentes de massa. Esse aspecto "plebeu" do fascismo e do bonapartismo em geral é importante para mostrar conexão de suas ações com a opinião pública e a tal "vontade geral".

4) As demonstrações públicas de organizações fascistas ou mesmo de governos desse tipo, como marchas, paradas de milícias, não tem apenas caráter estéticos e nem podem ser resumidas em termos dessa dimensão. São ações que visam mostrar a força e extensão do movimento para sua base, para os inimigos e para exibir a adesão de seu movimento junto à opinião pública. No sentido oposto, passeata de sindicatos, manifestações de socialistas ou um quebra-quebra dos blackblocs, etc, também têm dimensões estéticas, mas não são balizadas apenas assim. São igualmente instrumentos de exibição de força, mas são canal de expressão da pauta reivindicatória. Atos de demonstrações públicas não definem o caráter de um movimento social como de massas ou não.

5) A burguesia, na condição de elite, de classe dominante, não precisa constituir-se de movimento de massas à medida que possui outros meios mais eficazes no curto prazo para garantir a ordem social que já é dela  (controle dos aparatos de repressão e dos aparelhos ideológicos e dos meios de comunicação e propaganda). E também nem consegue constituir seu movimento de massas, inclusive tendo em vista sua base e alcance qualitativo e quantitativo - não são e nunca serão "massas".

6) Os movimentos operários-populares podem ser influenciados por ideologias, pauta e lideranças burguesas, não são automaticamente socialistas. Contudo, a pressão objetiva e material leva a um condicionamento protossocialista, restando a burguesia a atuar sempre  no médio e longo prazo pelo desfazimento desse tipo de movimento.

7) Não se pode confundir o caráter das lideranças com de seus movimentos. Líderes de movimentos operários-populares podem ter raízes ou ser de origem de outras classes. Ou mesmo serem condicionados por outras pautas e ideologias que ultrapassam a de seu movimento. Outra variante, é que muitos líderes podem ser confusos - tal qual sua própria base, podem estar em disputa para uma ou outra ideologia ou programa.

8) Uma outra variante é que a burguesia pode manipular movimentos de massas (ou se beneficiar de ações deles) contra outros segmentos da classe trabalhadora ou até mesmo de concorrentes da burguesia. A burguesia é uma classe com visão estratégica da sociedade. Pode ser utilizar desde de infiltrados nas fileiras do grupo de líderes, dos aparelhos ideológicos, da cooptação política de lideranças. Porém, isso não muda o caráter do movimento de massas como operário-popular.

9) Os membros das corporações e forças públicas de segurança e repressão, como polícias e exército, apesar da obediência e da doutrinação se configuram como proletários, especialmente os agentes operacionais, praças e baixas patentes. Não apenas pela origem de seus membros, mas por sua posição de trabalhadores assalariados de baixo posto de processo produtivo, mesmo que empregados na repressão dos demais trabalhadores. 

10) Se por um lado, os componentes das corporações de segurança podem aderir mais facilmente à movimentos sociais de direita, porém, por outro, seus movimentos de massa, apesar da contradição ideológica inerentes das características de corporação repressora e de demais fatores (como enumerados a cima), não se transveste em movimentos fascistas por si só. Contudo, a renúncia da Esquerda em liderar ou apoiar esses movimentos pode sim empurrar essa base para o "colo" do fascismo. Isso seria um "crime" histórico.

Atualizado em 13/02/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário