sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Instituições e confiança: a emergência de um bonapartismo fundamentalista cristão no Brasil

Por Almir Cezar

As últimas pesquisas de opinião reafirmam o cenário de dificuldade para o governo Dilma Rousseff junto à população, mas também a credibilidade anda baixa da maioria das instituições brasileiras, a exceção das igrejas. Foi o que mediu a pesquisa realizada pela MDA-Pesquisas sob encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) (veja um quadro-resumo abaixo). Este ambiente de extremo descrédito com o conjunto das instituições políticas, amplia o poder da Igreja (cristãs). E, por sua vez, torna fértil ao fundamentalismo religioso de matiz cristã, que pode explicar a primazia da pauta conservadora/reacionária que vem dominando o cenário político e legislativo do Brasil no momento. Pode-se dizer que vem emergindo em nossa sociedade uma bonapartismo em base ao fundamentalismo cristão.

No ranking da credibilidade, a maioria do conjunto de instituições brasileiras encontram-se tão mal avaliadas quanto o governo (que tem a confiança de 1,1%), o Congresso (0,8%) e partidos políticos (0,1%), ocupando o quinto lugar como instituição mais confiável, com a preferência de 4,8% - a margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos para mais ou para menos. Nas primeiras posições da lista estão a polícia (5%), justiça (10,1%), forças armadas (15,5%) e igreja (53,5%). Mas também traz outro dado, este alarmante para a imprensa: apenas 13,2% das pessoas que responderam ao estudo afirmaram que sempre acreditam no que a mídia publica. Quase o dobro disso, 21,2%, disseram que nunca confiam no que é dito pelos jornais.

Na pesquisa apenas 3 instituições de 10 listadas possuem "confiam sempre" superior aos 10 pontos percentuais. São elas, a Imprensa, com os parcos 13,2%, mas com uma  "não confiam nunca de 21,2%. As Forças Armadas, tão tradicional no imaginário conservador, com um pouco maior, 19,2%. A campeã é a Igreja, com 43%  "confiam sempre" e com meros 11,7% "não confiam nunca".

Isso explica, o porque em meio a maior crise econômica e política da história recente do Brasil, o emergência e disseminação de uma agenda política conservadora ligada à Igreja, especialmente as igrejas protestantes pentecostais.

Em meio a qualquer severa crise política nas sociedades de modo burguês, emerge sempre à primazia  uma das instituições não afetadas ou menos afetadas com a crise, com respaldo e credibilidade, para subjugar as demais, assumir o poder máximo, mesmo que temporariamente. Isso, é explicado pelo marxismo como "bonapartismo".

Em geral, o bonarpartismo se manifesta por obra e ação das Forças Armadas ou por um partido político, ou outra instituição da modernidade, que acabar por usurpar a primazia da triunvirato convencional do sistema burguês, encabeçado pelo Governo, e seguido do Parlamento e do Judiciário.

O bonapartismo é uma ideologia política de origem francesa e alemã, inspirada pela maneira que Napoleão Bonaparte governou. Em nossos dias, é frequentemente usada para definir um tipo de governo em que o Poder Legislativo perde força e o executivo se fortalece. No modelo Bonapartista, o governante quer ser um ditador, mas busca construir uma imagem carismática de um representante popular. Esse tipo de sistema se instala quando nenhuma classe ou grupo da sociedade tem poder suficiente para ser hegemônico, deixando a um líder suficientemente habilidoso o poder de mediar as diversas forças sociais.

Este ambiente brasileiro de extremo descrédito com as instituições políticas convencionais, amplia ainda mais o poder da Igreja (Igrejas cristãs). E, por sua vez, torna fértil ao fundamentalismo religioso de matiz cristã. O fundamentalismo religioso está presente em todas as religiões, durante todas as épocas da história da humanidade. Os fundamentalistas são os mais conservadores e literais seguidores de uma crença divina realizada.

Ao contrário do senso comum pode apontar, o fundamentalismo religioso é um fenômeno moderno, caracterizado pelo senso de esvaziamento do meio cultural, até mesmo onde a cultura pode normalmente ser influenciada pela religião dos partidários. O termo pode também se referir especificamente à crença ou convicção de que algum texto ou preceito religioso seja infalível e historicamente preciso ainda que contrários ao entendimento de estudiosos modernos.

Fundamentalistas cristãos que geralmente consideram o termo positivo quando referente a eles próprios, freqüente e fortemente objetam em se colocar numa mesma e única categoria com os fundamentalistas islâmicos e os agrupam em outra categoria. E até mesmo os que aceitam o termo de fundamentalistas islâmicos objetam quando são amplamente rotulados junto com facções que usam sequestro, assassinato, e atos terroristas para alcançar os seus fins.

No cristianismo, o fundamentalismo foi uma reação contra o modernismo que estava começando a se espalhar nas igrejas dos Estados Unidos e uma afirmação na inspiração divina e inerrância da Bíblia e ressurreição e retorno de Jesus Cristo, doutrinas consideradas fundamentais do Evangelho (daí o nome fundamentalista) que os teólogos modernistas já não criam que eram verdadeiras.

Veja o resultado da Pesquisa MDA/CNT:

Confiança nas instituições
  • Igreja: 43,0% confiam sempre e 11,7% não confiam nunca
  • Forças Armadas: 19,2% confiam sempre e 17,2% não confiam nunca
  • Imprensa: 13,2% confiam sempre e 21,2% não confiam nunca
  • Justiça: 10,5% confiam sempre e 24,8% não confiam nunca
  • Polícia: 8,9% confiam sempre e 23,5% não confiam nunca
  • Governo: 2,0% confiam sempre e 56,2% não confiam nunca
  • Congresso Nacional: 1,6% confia sempre e 51,6% não confiam nunca
  • Partidos políticos: 1,0% confia sempre e 73,4% não confiam nunca
Ranking das instituição que mais confia:

1º - Igreja (53,5%)
2º - Forças Armadas (15,5%)
3º - Justiça (10,1%)
4º - Polícia (5,0%)
5º - Imprensa (4,8%)
6º - Governo (1,1%)
7º - Congresso Nacional (0,8%)
8º - Partidos políticos (0,1%)

AVALIAÇÃO DE GOVERNO

O resultado do desgaste da economia, dos episódios de crise com o Congresso e das denúncias de corrupção marteladas diariamente é uma nova baixa na avaliação de governo, que só é positiva para para 7,7% dos entrevistados, contra 70,9% de avaliação negativa. A aprovação do desempenho pessoal da presidente atinge 15,3%, ante 79,9% de desaprovação.

Quando questionados sobre um eventual impeachment de Dilma, 62,8% admitem que são a favor dessa saída e 32,1% são contra. Para os que são favoráveis ao impeachment, 26,8% citaram as chamadas pedaladas fiscais; 25,0%, a corrupção na Petrobras; 14,2%, irregularidades nas contas da campanha em 2014 e 44,6%, os três motivos como justificativa para o impeachment.

Para 60,4%, a crise mais grave enfrentada por Dilma atualmente é a econômica; 36,2% consideram que é a crise política.

A crença de que Dilma não é capaz de lidar com a crise econômica foi detectada entre 84,6% dos entrevistados. Para 61,7%, em três anos ou mais ela conseguirá resolver os impasses necessários à retomada do crescimento. O mesmo índice, 61,5%, acha que o ajuste fiscal não ajuda a economia.

EXPECTATIVA (para os próximos 6 meses)

Emprego: vai melhorar: 15,0%, vai piorar: 55,5%, vai ficar igual: 27,5%.
Renda mensal: vai aumentar: 13,8%, vai diminuir: 33,7%, vai ficar igual: 50,2%.
Saúde: vai melhorar: 13,6%, vai piorar: 47,5%, vai ficar igual: 37,1%.
Educação: vai melhorar: 15,1%, vai piorar: 41,0%, vai ficar igual: 42,1%.
Segurança pública: vai melhorar: 12,9%, vai piorar: 46,2%, vai ficar igual: 39,2%.

REFERÊNCIA

PESQUISA CNT/MDA. RELATÓRIO SÍNTESE. Rodada 128. 12 a 16 de julho de 2015
http://cnt.mdapesquisa.com.br/img/pesquisa-cntmda-128-relatorio-sintese.pdf

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