terça-feira, 12 de maio de 2015

Promessa de Levy que ajuste traria volta do crescimento se revela ilusão

Dados de inflação, emprego, confiança da indústria e déficit público mostram deterioração do cenário econômico provocada pelo pacote de medidas de ajuste, que prometia evitá-la

por Almir Cezar

Revelou-se ilusão a previsão do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que a união de uma política de ajuste fiscal com a nova escalada da taxa básica de juros (Selic), agora para 13,25% ao ano, ajudaria na retomada dos investimentos, por restabelecer a confiança do empresariado, não se sustenta. Os dados de inflação (medida e a esperada pelo mercado), nível de emprego, déficit público dos estados e, especialmente, confiança da indústria mostram deterioração do cenário econômico provocada pelo pacote de medidas de ajuste, que prometia evitá-la.

O cenário contracionista, no conjunto das políticas macroeconômicas fiscal, cambial, monetária e creditícia faz com que a confiança do empresário se reduza, diante da expectativa de nova queda no Produto Interno Bruto (PIB) e na demanda, ao contrário do prometido. Mercado estima inflação em 8,26% e Selic em 13,5% no final do ano. Já os Estados têm déficit recorde para março. O resultado é que a confiança da indústria volta a cair e atinge o menor nível dos últimos nove anos e ainda mais grave para o trabalhador, à medida que o arrocho fiscal coloca 1,5 milhão na rua no primeiro trimestre, aumento do desemprego em 23%, passando para 7,9% da população economicamente ativa.


A nova alta da Selic, que servirá para atrair o capital especulativo e valorizar o real, o que alivia as pressões inflacionárias no curto prazo, mas impede a recuperação da indústria nacional. A recuperação pela via das exportações também parece cada dia mais distante, em particular diante da perspectiva de revalorização do real, dado o elevado diferencial de juros. Portanto, trata-se de ilusão de que o empresário ficaria mais otimista e propenso a investir com uma política fiscal e monetária recessiva está se desmontando a cada dia, assim como a expectativa de que cortes rigorosos nos gastos públicos seriam suficientes para melhorar a situação fiscal do país. 

Puxada por administrados, mercado estima inflação em 8,26% e Selic em 13,5% no final de 2015

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ter elevado a Selic em 0,5 ponto percentual na semana passada, analistas e investidores aumentaram a projeção do patamar de encerramento da taxa básica de juros neste ano. De acordo com as previsões, a Selic, hoje em 13,25%, deve chegar a 13,5% ao ano no final de 2015.

Para 2016, a projeção dos juros básicos subiu de 11,5% para 12% ao ano. As previsões estão no boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras que é divulgada semanalmente pelo Banco Central. O Copom volta a se reunir para deliberar sobre a Selic nos dias 2 e 3 de junho.

Com relação à inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o mercado elevou a expectativa de 8,25% para 8,26%. A estimativa de alta dos preços administrados, como o da gasolina e da energia, passou de 13,1% para 13,05%. 

O boletim Focus prevê ainda retração na atividade econômica do país. Os analistas aumentaram a projeção de queda do Produto Interno Bruto (soma dos bens e riquezas produzidos em um país) de -1,10% para -1,18%. A estimativa para o câmbio foi mantida em R$ 3,20.

A estimativa da dívida líquida do setor público permaneceu em 38% do PIB. A estimativa do déficit em conta-corrente, que mede a qualidade das contas externas, passou de US$ 78 bilhões para US$ 78,5 bilhões. O saldo projetado para a balança comercial passou de US$ 4,17 bilhões para US$ 4 bilhões. Os investimentos estrangeiros estimados subiram de US$ 57 bilhões para US$ 57,5 bilhões.

Estados têm déficit recorde para março

Os governos estaduais registraram, em março, déficit de R$ 1,633 bilhão em suas contas. É o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1998. O saldo negativo reduziu o impacto do superávit de R$ 487 milhões obtido pelos municípios, gerando déficit de R$ 1,146 bilhão na conta dos governos regionais. 

Esse resultado, aliado ao déficit de R$ 97 milhões das estatais, excluindo Petrobras e Eletrobras, impediu que o setor público consolidado alcançasse um superávit maior em março. O resultado primário dos entes públicos e das estatais ficou positivo em R$ 239 milhões no mês passado, pior resultado para os meses de março desde 2010, quando houve déficit de R$ 158,6 milhões.

1,5 milhão na rua no primeiro trimestre, aumento de desemprego em 23%

A taxa de desemprego voltou a crescer e fechou o primeiro trimestre em 7,9%, a maior verificada desde os 8% do mesmo período de 2013. Os índices cresceram na comparação com o quarto trimestre de 2014, quando a taxa ficara em 6,5%, e em relação ao primeiro trimestre do ano passado, quando fechara em 7,2%.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) divulgada pelo IBGE. A população ocupada fechou o primeiro trimestre do ano em 90,023 milhões de trabalhadores, queda de 0,9% em relação ao quarto trimestre de 2014.

A população desocupada ficou em 7,934 milhões de pessoas, 23% mais que no trimestre anterior. Isso representa 1,48 milhão de pessoas desempregadas a mais. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a variação foi de 12,6%.

O rendimento médio real habitual dos trabalhadores foi estimado em R$ 1.840, 0,8% maior que no trimestre anterior e estável em relação ao obtido no primeiro trimestre de 2014. A massa de rendimento médio real habitual dos ocupados foi estimada em R$ 163,8 bilhões, aumento de 3% em relação ao quarto trimestre de 2014. Na comparação anual, a alta foi de 8,7%.

No que depender do Banco Central, o desemprego vai continuar aumentando. O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou a ata da reunião de 29 e 30 de abril, quando os juros básicos (Selic) foram elevados em meio ponto percentual, para 13,25%. Para o Copom, os dados sobre inflação “sugerem persistência” do movimento de alta de preços.

Apesar de admitir que isso se deve, no curto prazo, à alta dos “preços administrados”, como gasolina e energia elétrica, o BC indica que vai manter o ciclo de alta. Ano passado, o setor público torrou R$ 330 bilhões com pagamento de juros.

O Copom avalia há “dados indicando início de um processo de distensão (perda de dinamismo) no mercado de trabalho”, o que favorece a queda da inflação.

Confiança da indústria volta a cair e atinge o menor nível dos últimos nove anos

Os empresários da indústria de transformação no país estão mais pessimistas em relação aos rumos da economia no curto prazo, mas houve uma melhora em relação ao momento atual. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 3,4%, em abril, ao passar de 75,4 para 72,8 pontos, puxado pelas projeções do setor quanto ao desempenho nos próximos três meses.

Esse foi o nível mais baixo da série mensal da pesquisa Sondagem da Indústria de Transformação, iniciada em outubro de 2005. No entanto, no trimestre encerrado em março último, a velocidade de queda tinha sido mais intensa (-9,2%). O levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) reúne informações coletadas com executivos de 1.130 empresas, no período de 1º a 27 de abril. De um total de 14 segmentos consultados, dez indicaram perda de confiança na economia.

Os dois componentes do índice apresentaram situações distintas entre o momento atual e as projeções para os três meses seguintes. O Índice de Expectativas (IE) recuou 7,8%, atingindo 69,6 pontos, enquanto o Índice da Situação Atual (ISA) subiu 1,1%, alcançando 76,1 pontos.

A tendência apontada pelo setor é queda de 13,6% na produção nos próximos três meses. Em março último, 26,9% dos entrevistados indicaram a possibilidade de aumento, taxa que foi reduzida para apenas 13,4%. Ao mesmo tempo, cresceu de 21,9% para 22,7% o universo dos que prevêem queda na produção.

Já em relação ao momento atual, subiu de 4,7% para 8,1% o total de consultados que avaliam como boa a situação atual para os negócios. Simultaneamente, caiu a parcela dos que classificam a situação atual como ruim, passando de 39,9% para 38,1%.

O superintendente adjunto para Ciclos Econômicos do Ibre, Aloisio Campelo Jr., disse que diante do nível extremamente fraco da demanda interna e de nova rodada de aumento de estoques, o setor ainda não vê perspectivas de melhora nos três meses seguintes e continua projetando ajustes no nível de produção e no quadro de pessoal.

Com informações: sites Agência Brasil, Monitor Mercantil, Brasil Econômico, IBGE e FGV

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