quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Alta nos juros ao invés de combater inflação, ameaça o equilíbrio dos preços

por Almir Cezar

A alta da Selic, a ser "usada" para baixar inflação, esta causada principalmente pelos preços dos alimentos, tem como efeito o desestímulo à produção e ameaça justamente o equilíbrio de preços. E ainda, o país já torrou desde abril para cá, quando a Selic estava em 7,25% ao ano, mais R$ 32 bilhões com juros da dívida pública. Esta ação do Banco Central é criticada por economistas não-ligados ao setor financeiro - grande beneficiário com a medida - porém pouco ouvidos pela grande imprensa. Segundo eles não haveria necessidade dessa iniciativa. Embora juros altos reduzem o consumo, também inibe os investimentos, necessários para a recomposição do parque industrial e geração de mais empregos, e que aumentam a produção, logo a oferta de bens e serviços, o que combateria justamente a alta de preços.

Para o economista Miguel Bruno, da Escola Nacional de Estatística (Ence), ligada ao IBGE, o uso dos juros para enfrentar uma pressão inflacionária com origem nos preços dos alimentos contraria a própria teoria clássica da economia, adotada pelos economistas ortodoxos. “A alta do preços dos alimentos, para os clássicos, deve incentivar a produção, equilibrando oferta e demanda e colocando os preços num patamar também de equilíbrio. O uso da taxa de juros interfere nessa dinâmica”, destaca.

A consultoria Tendências calcula que, a cada aumento de 1 ponto, a despesa do governo com juros cresce cerca de 0,2 ponto do PIB (Produto Interno Bruto), algo entre R$ 9,5 bilhões a R$ 10 bilhões ao ano. Isso projeta aumento anual, até aqui, de pelo menos R$ 32,5 bilhões no gasto público com o serviço da dívida interna desde o início da alta da Selic em abril. Recursos que poderiam ser usados em investimentos em infraestrutura para aumentar a produção e redução custos com gargalos logísticos, inclusive nos alimentos e demais commodities.

Além do aumento na despesa, o economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que o Brasil continua convivendo com uma pressão inflacionária estrutural, real motivo da persistente inflação interna e impassível de ser remedia por uso dos juros. “Nos últimos 6 anos, a inflação no Brasil é maior do que média mundial e maior do que a mediana mundial em nove anos”, critica o professor, autor de estudo comparativo baseado em indicadores do FMI sobre a economia global.

“Insistir em aumentar a taxa de juros nesse momento é um grande equívoco. Precisamos é ampliar a atração de investimentos para diminuir o custo de produção e expandir nossa gama de produtos”, protesta o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, ante o novo aumento da taxa de juros.  “O mercado nacional será prejudicado, e a economia brasileira, que já não cresce como o esperado, ficará ainda mais estagnada”, emenda. Para concluir: “Uma nova alta dos juros apenas encarece os investimentos, aumenta o custos das reservas, sem efeito substancial sobre a inflação”.

Com informações: Jornal Monitor Mercantil e Agência Brasil

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