sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Colapso da UGF e UniverCidade e o neoliberalismo na Educação Superior brasileira

por Almir Cezar

Protesto em frente a uma unidade da UGF
Dei aulas na Universidade Gama Filho (UGF)  em 2008/2009 e senti na pele o impacto da lógica neoliberal e mercantilista, que só poderia em resultar na gravíssima crise por que esta e a UniverCidade passam no momento, ambas universidades do Grupo Galileo. O MEC diz que fará a transferência assistida dos estudantes para outras universidades privadas.

Infelizmente, faço minhas as palavras do artigo abaixo, com um adendo: a única alternativa correta diante do fato consumado, não é o mero descredenciamento de ambas universidades particulares, como fez o Ministério da Educação (que meramente "lavou às mãos"), mas sua imediata estatização, ou pelo Estado do Rio de Janeiro ou pela União, pelo bem dos milhares de estudantes, professores e técnico-administrativos afetados.

A crise da Educação
Fatos & Comentários | Jornal Monitor Mercantil | 16/01/2014

O descredenciamento da Universidade Gama Filho e da UniverCidade são, para além do drama dos alunos subitamente privados do ensino, um exemplo pedagógico das consequências do achatamento do nível universitário no Brasil. Numa escalada que remonta à interminável era FH, o Brasil assiste a uma farra de abertura de cursos superiores, cujo acesso, na sua esmagadora maioria, tem como único filtro a capacidade do interessado em arcar com as mensalidades.

Não por acaso, o país inventou a triste figura do analfabeto universitário, que, com diploma em punho, é incapaz de interpretar um texto relativamente simples. Tudo isso sob as vistas amenas do Ministério da Educação (MEC), que, apenas, recentemente, passou a proibir algumas dessas faculdades de aceitarem novos alunos.

A transformação da Educação em mera commodity, porém, não era o fundo do poço do ensino universitário privado. A entrada de grupos estrangeiros no controle desse tipo de estabelecimento, sem enfrentar qualquer resistência governamental, representou nova etapa de ainda maior deterioração. Se antes, em várias universidade$, os alunos já eram chamados de “nossos clientes”, agora, o novo filão é o ensino à distância, que, a custos menores, permite a expansão, quase sem limites, dos “ativos” dos controladores.

O resultado líquido da ausência de quaisquer controles na entrada resulta em que 40% dos formados não consigam exercer a profissão em que se formaram. Como as privadas são 70% do “mercado” e é razoável desconfiar que aquele percentual seja bem inferior entre os concluintes das públicas, pode-se estimar que, entre as particulares, ele chegue a 60%. Ou seja, quase 2/3 de quem se forma em uma universidade privada no Brasil tem no diploma um mero decorador de parede.

UGF e UniverCidade, nesse contexto, são apenas sintomas de uma crise bem mais grave que deveria preocupar qualquer governo interessado em democratizar e elevar a Educação ao seu papel de formar os melhores profissionais e desenvolver a consciência crítica. Como isso parece emocionar pouco a tucanos e petistas, ampliam-se as cotas.

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