quarta-feira, 15 de maio de 2013

Economia brasileira não responde aos estímulos. Crescimento 'vaza' para indústria estrangeira.

por Almir Cezar
Folhapress
Em recente artigo na Folha de São Paulo, o ex-'superministro' da Fazenda do "Milagre Econômico" da Ditadura Militar e professor catedrático da USP, Antônio Delfim Netto afirmou que a recente redução das perspectivas de crescimento do PIB de 2013 (que começou em torno de 4% e já anda em torno de 3%, com viés de baixa) deve-se, essencialmente, à pequena resposta da demanda da produção industrial nacional aos enormes estímulos fiscais, monetários, creditícios e subsídios que lhe têm sido concedidos. Em outras palavras, o estímulo à demanda nacional “vaza” para a indústria estrangeira em lugar de ser suprida pela indústria nacional.

Esse é um fenômeno geral, como prova o crescente saldo negativo do nosso balanço de transações correntes. E é fenômeno relativamente recente, como se vê no gráfico abaixo. Nele se registram o crescimento das vendas do comércio varejista e o crescimento da indústria de transformação com relação ao triênio anterior no período 2004-2006 e 2010-2012. A diferença dá uma ideia do aumento da penetração da oferta estrangeira. Em 2004-2006 (com referência a 2003-2005) as vendas do varejo cresceram praticamente à mesma taxa da produção industrial, 12,0% e 11,5%, respectivamente. No período 2010-2012 (com referência a 2007-2009), o varejo cresceu 27,2% e a indústria nacional 5,1%, revelando o “vazamento” da demanda interna para a oferta externa.

Delfim chama a atenção que a diferença entre os dois períodos é de apenas seis anos. Neles, de exportadores de produtos de linha branca, de vestuário, de bicicletas, de automóveis etc. transformamo-nos em importadores.  Hoje as fábricas brasileiras "pediriam" recuperação industrial porque não têm como enfrentar a "desleal concorrência externa" da China, Índia, Taiwan, Coreia, México, Bangladesh e outros. Para Delfim, muitas explicações e múltiplas causas para isso, as mais importantes, para ele, entretanto, são duas: 1ª) destruímos o nosso sistema de tarifas efetivas protegendo os setores de insumos básicos e 2ª) produzimos uma violenta valorização do câmbio pelo aumento do salário nominal muito acima da taxa de câmbio nominal.

Contudo, Delfim não esclarece em seu artigo a questão de fundo daquilo que considera as duas causas mais importantes. Que a apreciação cambial advém do grande afluxo de capitais externos vertidos em operações com altas taxas de juros nacionais (apesar do patamar mais baixo da história, segue sendo uma das maiores taxa de juros básicas do mundo) e com dependência das exportações das commodities. Por sua vez, as tarifas de importação não protegem porque, apesar do contrassenso dizer contrário, não temos impostos robustos porém inteligentes para proteção externa, e por outro lado, o setor de insumos industriais básicos brasileiros foi sucateado pela eterna dependência da proteção do governo, que sofreu um baque com a abertura comercial nos anos 90, e por deter também historicamente margens de lucros altíssimas que não permitem concorrer com a mesma indústria lá de fora.

FONTE: Folha de S. Paulo



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