terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quem ganha e quem perde com o "milagre chinês"

Quem ganha e quem perde com o "milagre chinês"
Cresce influência dos "neomaoistas", que buscam mudanças de rumo

Lee Wong | Sucursal do Sudeste Asiático | 08/11/2012 

Beijing - A maior injeção de liquidez em sua história realizou nesta semana o Banco do Povo da China (Banco Central), canalizando aos bancos do país 395 bilhões de iuans, por intermédio de acordos de recompra de duração de sete dias (290 bilhões de iuans) e duas semanas (105 bilhões de iuans).

Nas duas semanas anteriores, havia retirado do mercado interbancário chinês 291 bilhões de iuans. A reação na Bolsa de Valores de Xangai foi positiva, com o indicador composto sendo "vitaminado" em 1,72%.

Os dados do Serviço Nacional de Estatística confirmam que a segunda maior economia do planeta encontra-se em recuperação, mesmo com ritmos suaves. Ao crescimento está retornado a indústria nacional com o indicador das atividades econômicas PMI tendo superado em outubro passado o nível 50, que sinaliza o limite entre crescimento e contração das atividades econômicas.

O indicador de novas encomendas aumentou para 50,4 em outubro passado, de 49,8 do mês anterior. Já o indicador oficial para o setor de transformação conformou-se em 50,2 em outubro, de 49,8 do mês anterior. O correspondente indicador do HSBC conformou-se no mesmo mês em 49,5, de 47,9 do mês anterior.

"Isto significa que a economia havia chegado ao fundo do poço e agora recupera-se", declarou Zhang Ligun, do Development Research Center, que sentenciou: "Estimamos que a desaceleração do crescimento econômico encerrou-se e que agora haverá uma recuperação".

Dinheiro para multis
Dizem sobre a estatística que revela muitos aspectos interessantes, mas que, frequentemente, dissimula outros mais. Indiscutivelmente, impressionantes são os números que referem-se ao crescimento econômico da China e as comparações com os desempenhos do Ocidente que pertencem a esta categoria. Mas aquilo que habitualmente é desconhecido é que a maior parcela do velozmente em crescimento "bolo" não permanece na China, mas é transferida às multinacionais estrangeiras que operam aqui.

A razão básica é que o "dragão amarelo" não tem conseguido, ainda, no grau em que desejaria, ascender a escada da tecnologia, para transformar-se em economia de alto valor agregado. Ao contrário, na divisão internacional do trabalho, a pequena oficina industrial do mundo continua tendo papel sub-remunerado, considerando que constitui principalmente base de montagem final de peças de alta tecnologia importadas, com objetivo básico sempre remunerar com o salário mais baixo possível.

A propósito, Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), declarou semana passada que "a China arrecada apenas 10% sobre o valor final de produtos de alta tecnologia, como o iPhone da Apple, produzido em seu território. Empresas estrangeiras detêm 80% do capital social das empresas fabricantes de ferramentas, máquinas e equipamentos de escritório, 60% nos produtos para treinamento e atléticos, 50% nos produtos de vestuário e calçados e 40% nos produtos plásticos".

Salários despencam
Fator básico de instabilidade é a explosão das desigualdades sociais. De acordo com o Banco Mundial (Bird), a parcela relativa aos salários na renda nacional despencou de 53% para 41% em sete anos, enquanto o salário médio do trabalhador chinês na indústria é de apenas 4% do correspondente trabalhador norte-americano. Em 1998, o Estado era responsável por 39% do total de gastos em saúde, enquanto, em 2008, este percentual despencou para 15%. Metade da população chinesa ficou impossibilitada de pagar uma consulta médica.

No mesmo período, o percentual de gastos com a educação - cobertos pela Estado - caiu de 85% para 62%. A empresa KYE, que fabrica produtos para a Microsoft, emprega "adolescentes especializados" com turnos de horário de trabalho das 7h45 até as 22h55, remunerando-os com US$ 0,55 por hora. Já a fábrica Plan F, que fabrica produtos esportivos para a alemã Puma, emprega 3 mil "adolescentes especializados", com turnos de trabalho que totalizam 13,50 horas a 16,50 horas, remunerando-os com US$ 0,31 por hora.

Neste "ambiente trabalhista", não surpreende a multiplicação de greves selvagens realizadas fora dos sindicatos legais, com ocupação de instalações de fábricas e ocorrência de manifestações violentas. Semelhantes fenômenos remetem sinais de perigo à liderança do Partido Comunista da China, e cresce a influência dos "neomaoistas", que buscam mudança de rumos para o país.

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