sexta-feira, 29 de julho de 2011

A inflação do dólar e o mercado mundial

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280711_inflacao Esquerda Marxista - [Luiz Bicalho] A crise nos EUA continua e o dólar perde valor no mercado mundial. Aonde vai isso?

Existe uma teoria burguesa, falsa, de que o valor da moeda é o valor fiduciário, valor que dependeria da “confiança” que o mercado tem nesta moeda. A crise de 2008 mostrou a falsidade desta teoria.

Marx explicou que o dinheiro, a moeda, é simplesmente uma mercadoria que passa a ocupar um lugar diferente no mercado, ou seja, é uma mercadoria que pode ser trocada por qualquer outra: em outras palavras, é a mercadoria que serve de referencia, de equivalente geral em face de todas as outras mercadorias.


Na antiguidade clássica, varias mercadorias ocuparam este papel: bois, sal (daí o nome salário, que vem de sal que era a medida do pagamento na antiga Roma), ferro, cobre, prata, ouro, trigo. Posteriormente, este papel recai sobre a prata e o ouro. Nos EUA, somente no final do sec. XIX o ouro vence a competição com a prata e passa a ser a referencia de moeda. Até a segunda guerra mundial, o comercio se cota em ouro ou nas moedas fortes: libra, marco alemão, dólar, franco ouro. Após a segunda guerra, com os acordos Breton Woods, a moeda central passa a ser o dólar, com um valor de troca garantido em relação ao ouro.

A tabela abaixo mostra esta relação

Ouro Metamig – 1981 - Suma Econômica - Ed. Tama; SP
(*) Preço médio anual. No dia 22/01/1980 a cotação atingiu US$860,00

Em outras palavras, o valor da moeda, o dólar, guarda uma relação que não é linear com o ouro. Assim, o período de crise de 1980 coincide com o valor maior do ouro. A partir do final do sec. XX o dólar começa a se desvalorizar, prenunciando a crise que vai estourar em 2008:

As razões que levaram a desvalorização do dólar são simples: um aumento absurdo do crédito ou, em outras palavras, emissão de moeda para pagamento futuro. A crise vai acelerar este processo e o ouro salta de um valor médio de 800 dólares para 1.400-1.500 dólares hoje.

Relembremos que o valor do ouro não é fixo, como qualquer mercadoria o seu valor é dado pelo tempo de trabalho necessário a sua produção e a descoberta de novas jazidas e introdução de métodos modernos de mineração baixam o valor do ouro, assim como o esgotamento das jazidas existentes leva ao aumento do valor.

Atualmente, o dólar perde valor porque os EUA aumentam a produção da moeda e existe mais “papel” (ou o seu equivalente eletrônico) em relação a mesma quantidade de ouro. Daí a queda. Em outras palavras, temos inflação, queda do valor da moeda. E esta inflação é exportada mundialmente.

Para entender este movimento, expliquemos o caso do Brasil. Diminui o valor das mercadorias que entram no Brasil (importação), em função da queda do valor do dólar em relação ao real. Por outro lado, o valor das exportações aumenta, em função do aumento do valor do real. Resultado geral: as mercadorias produzidas no Brasil a partir das matérias primas (principal produtos de exportação do Brasil) aumentam de preço porque as matérias primas aumentam de preço. Explicando melhor: aumenta a quantidade mercadoria exportada, já que é melhor exportar que vender no mercado interno e, como consequência, aumenta o seu preço em real. Resultado geral: inflação no Brasil.

Porem é preciso lembrar: inflação é uma média que descreve a perda de valor da moeda, da mercadoria que é equivalente geral, em relação a todos os outros produtos. E não é isso que está exatamente acontecendo embora pareça, em média, que a moeda perde valor e precisemos de mais moeda para comprar a mesma quantidade de mercadoria. Os valores dos produtos que são exportáveis, em particular os produtos agrícolas, alimentos e os valores de transporte, energia, comunicações, que são produtos com preços controlados pelo governo, com contratos fixos que estabelecem reajustes anuais, sobem de preço. Por outro lado, TVs, carros, telefones celulares, alguns eletrodomésticos e outras bugigangas eletrônicas caem de preço. A residência, casas para comprar ou alugar sobem absurdamente em virtude do crédito disponível e da especulação imobiliária. Ou seja, não existe um aumento linear de preço, mas uma quase anarquia total na variação dos preços.

E nos EUA? A questão é que a depressão geral, a queda na quantidade de empregos e no valor dos salários faz com que exista em geral uma deflação que é compensada com a emissão de dólar (inflação). O Banco Central (Federal Reserve) praticamente compensa uma coisa com a outra ao mesmo tempo em que tenta incentivar as exportações. Resultado geral: caem as condições de vida da classe trabalhadora nos EUA, tal qual caem às condições de vida dos trabalhadores em todo o mundo. Nas cidades e nas fábricas, um ataque generalizado a todas as condições de vida.

Estas condições, evidentemente, desestabilizam o mercado mundial. Todas as medidas do credo keynesiano, que foram, por exemplo, aplicadas na China, mostram uma perspectiva sombria para o futuro: trens de alta velocidade com 35% de ocupação (inviáveis economicamente falando), conjuntos habitacionais sem compradores, enquanto centenas de milhões de pessoas sofrem com a falta de moradia e também com a falta de transporte adequado.

Os jornais da burguesia começam a inquietar-se com esta situação, ainda mais com a notícia de que o governo central da China não controla os créditos tomados pelas cidades e províncias para o desenvolvimento local ou regional. Segundo estudos feitos (fora da China, evidentemente, que lá os números são escondidos) a dívida municipal chinesa chega a um total de 3 trilhões de dólares, aos quais se somam dois trilhões da dívida do governo central. A soma dos dois valores é equivalente ao total do PIB Chinês! E nesta conta não estão os valores dos governos provinciais e muito menos as dívidas privadas. Então, em algum momento, a conta terá que ser paga e por maior que sejam as “reservas” da China, elas estão abaixo deste valor astronômico.

Um analista burguês, do New York Times, David Barboza, exprime desta forma o medo geral da burguesia (UOl):
A medida que os projetos municipais acontecem em toda a China, os gastos do país com os chamados investimentos de ativos-fixos – uma medida crucial da construção que pesa muito em relação ao governo e projetos imobiliários – agora equivale a quase 70% do PIB do país. É uma proporção da qual nenhuma outra grande nação se aproximou nos tempos modernos.
Até o Japão, no pico de seu boom da construção nos anos 80, atingiu apenas 35%, e o número agora flutua em torno de 20% há décadas nos EUA.

E ele completa a análise, com todos os poros suando de medo:
Durante a última década, enquanto os economistas tentavam explicar a ascensão da China, surgiu uma imagem popular dos tecnocratas de Pequim continua e engenhosamente fazendo a sintonia fina do híbrido de capitalismo-comunismo do país. Mas na verdade, os governos municipais costumam trabalhar em conflito com os objetivos de Pequim. E na prática, alguns dos objetivos e políticas de Pequim podem ser contraditórios.

Como resultado, o capitalismo estatal da China é bem mais bagunçado, e a economia mais vulnerável, do que pode parecer para o mundo de fora.

Analisando o caso da nona maior cidade da China, Wuhan, ele quase chora de desespero:
Num relatório este ano, o banco de investimentos Credit Suisse identificou Wuhan como uma das “10 principais cidades chinesas a se evitar”, dizendo que seu estoque de propriedades era tão imenso que levaria oito anos para vender casas que já estão construídas – sem falar nas centenas de milhares em construção.

Em outras palavras, a China levou o credo keynesiano ao paroxismo, e construiu e constrói tudo o que pode, tomando crédito a vontade, baseado numa exploração sem par de sua força de trabalho...e a questão é: quem vai comprar tudo isso? E os bancos começam a perguntar-se se podem continuar a financiar tal situação.

Na Europa, depois da Grécia, é a Itália que parece ser a bola da vez e nos EUA o governo e o congresso brincam com a possibilidade de dar um calote na sua dívida, cujos maiores credores são China, Japão, Grã Bretanha e Brasil! Lembrando que uma das soluções que Roosevelt tomou na década de 30 para a crise, foi justamente um calote parcial da dívida. E, afinal de contas, para quem pensa que os EUA sempre pagarão suas contas, é bom lembrar que na origem da nação está justamente o calote nos impostos sobre o comércio do Chá. Em outras palavras, não existe porto seguro nos dias de hoje e todos, todos, acabam lembrando que a moeda atual, apesar de isto estar escondido sobre toneladas de papel de baboseiras econômicas, continua sendo o ouro e todo mundo corre para o ouro, que sobe de preço em relação ao dólar e a todas as outras moedas do mundo.

Mas a economia, por enquanto, vai “bem” no Brasil. O crédito aumenta e a economia mantem-se funcionando. Por quanto tempo? Impossível dizer. Os preços das casas duplicaram ou quadruplicaram, vende-se automóvel como nunca se vendeu antes, as pessoas compram os carros para usar um ano e depois devolver para a fábrica porque não conseguiu pagar, o crédito aumenta velozmente e também aumenta a inadimplência. O Financial Times, este jornalzinho que é o porta voz das inquietações e temores dos economistas burgueses, pergunta-se quando esta bolha de crédito junto com a bolha imobiliária vai estourar.
O que é possível estabelecer é que as medidas discutidas pelos economistas, aumento ou baixa de juros, qualquer que sejam, levam a resultados impossíveis de manter por muito tempo.

Se os juros se mantem como estão (ou aumentam), cada vez mais dólares são atraídos para o Brasil, baixa o valor do dólar, aumentam as importações e destrói-se o parque industrial brasileiro. Mas baixar os juros levará a maior inflação e como consequência, destruição do parque produtivo. Alias, se mantiver os juros no valor atual, também a inflação continuará aumentando em relação direta com a queda do valor do dólar. Ou seja, em termos de economia burguesa, não existe solução para o problema.

A única solução passa por uma só coisa: a socialização dos meios de produção, o fim da propriedade privada, a reorganização da economia em termos gerais.

O outro caminho é a continuidade da crise, no mundo inteiro que, cedo ou tarde, terá seus reflexos no Brasil. E este é um combate que é mundial, no Brasil e no restante do mundo.

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